Da página policial para o Altar

A luta e o sacrifício de uma mãe tiraram o filho do mundo do crime

Imagem de capa - Da página policial para o Altar

Quando foi preso, aos 20 anos, a foto de Gabriel Mendes da Silva, hoje com 33 anos, estampou as manchetes e as páginas policiais de jornais. Ele foi criado na comunidade Ladeira dos Tabajaras, na zona sul do Rio de Janeiro – uma dentre tantas na cidade marcada pela presença da pobreza e do crime organizado. Ele era homem de confiança do chefe do tráfico e ostentava fuzil e pistola para quem quisesse vê-los. Era soldado do morro e combatia a polícia e as facções rivais sem piedade, inclusive perdeu a conta de em quantos tiroteios se envolveu.

A vida dele nem sempre foi assim. Ele não tinha se envolvido com o crime até os 14 anos, mas, com essa idade, sem saber, como morador da favela, se enquadrava perfeitamente no perfil dos que têm entrado para o tráfico de drogas, que a cada dia que passa são mais jovens.

De acordo com uma pesquisa realizada com 261 jovens e adultos, divulgada pelo Observatório das Favelas, em 2018, a faixa etária que os entrevistados afirmaram que entraram para o crime era entre 13 e 15 anos.

Gabriel diz que conheceu a porta de entrada para o mundo violento na escola. “Comecei a fumar maconha com os colegas. Depois, passei a roubar na praia e já não estudava mais. Cresci rapidamente no tráfico. Nem quando fui preso, em 2009, me distanciei do crime. Dentro do presídio me tornei uma peça fundamental da organização criminosa. Eu era eficiente naquilo que fazia”, lembra.

Fora da prisão, a mãe dele, Kátia Mendes da Silva, já lutava por sua libertação. “Ela tinha medo que eu morresse. Por isso, decidiu sacrificar a Deus na Fogueira Santa. Ela pegou o que eu tinha conquistado com o tráfico de drogas e com a loja dela e apresentou a Deus no Altar, pedindo pela minha libertação total”, conta ele.

Gabriel revela que tinha sido condenado a mais de 17 anos por tráfico de drogas, tentativa de homicídio, desencaminhamento de menor e porte ilegal de arma. “A pena foi sendo reduzida, primeiro, para uma sentença de nove anos, mas fiquei preso somente por quatro anos e dois meses. Saí em 2013. Hoje não devo nada à Justiça e creio que foi pela Fé”, dispara.

Contudo sua reabilitação não foi imediata. Mesmo livre da prisão, ele era o segundo no comando e não conseguia se afastar do crime. “Em 2015, fui a uma reunião na Universal em Del Castilho, no Rio de Janeiro. O Pastor fez imposição de mãos, pedi para que ele me desse um abraço e dentro de mim determinei que o que tinha dentro dele passaria para mim. Depois, em um sábado, não senti vontade de fumar maconha com os amigos. Minha mãe disse que Deus estava começando a me limpar”, recorda.

Na segunda-feira seguinte, Gabriel voltou à Igreja. “Um rapaz do grupo Força Jovem Universal (FJU) me abordou e disse que o mesmo Deus que estava com ele estaria comigo. Fui batizado e estou firme na Obra de Deus há dois anos. Sou Pastor, vou aos presídios e às comunidades, ajudo pessoas que me viram como criminoso e todas falam que era para eu ser o ‘cabeça’. Certamente, eu estaria morto ou envolvido até o pescoço com o crime se não estivesse com Jesus”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Fotos: Cedidas