Dia do Professor: que presente a sociedade poderia dar a esse profissional?

É certo que investir no professor é investir no futuro do País, mas a categoria segue sofrendo com a negligência e o desrespeito dos governantes de plantão e da sociedade

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Ensinar exige muito mais do que conhecimento. Exige paciência, carinho, empatia e muita criatividade. E lecionar no Brasil, além de um dom, é uma luta diária.
No dia 15 de outubro foi celebrado o Dia do Professor. Muitos receberam flores, chocolates e abraços carinhosos dos alunos, mas a verdade é que ainda há muito a fazer no País pelos profissionais da educação, a começar pela maior valorização da função e por um olhar mais cuidadoso para a realidade deles.

O Brasil tem cerca de 2,4 milhões de professores na educação básica, mas desde 2010 o número de profissionais na área e de alunos nos cursos de licenciatura está caindo vertiginosamente. Inclusive, um estudo divulgado pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) prevê que até 2040 o Brasil terá carência de 235 mil professores na educação básica.

Pontos que desestimulam

Entre os fatores que mais desestimulam a escolha da profissão está a baixa remuneração. Segundo o estudo Education at a Glance 2024, um professor brasileiro do ensino fundamental II recebe, em média, US$ 23 mil por ano, o equivalente a R$ 128 mil. O valor é 25% do salário médio de um professor na Alemanha (US$ 86 mil). Mas o pior é que muitos professores recebem muito menos do que os R$ 128 mil anuais. Isso porque o salário varia de acordo com a região, a idade dos alunos e se a escola é pública ou particular. Em Grupiara (MG), por exemplo, o salário mensal bruto de um professor da rede pública é de R$ 1,2 mil. O piso salarial para a categoria aprovado em 2020 é de R$ 2.886,24, mas, segundo o Ministério da Educação, até 2023, 631 municípios e todo o Estado de Alagoas tinham registrado média salarial menor. Ou seja: a lei estabelece um valor baixo e paga-se menos ainda.

Ademais, no Brasil, o professor trabalha, em média, 13% mais dias do que no resto do mundo e atende quase o dobro de estudantes por sala de aula. Além disso e da dificuldade de formar professores, há ainda outra barreira: manter quem já está formado. Apesar do amor à profissão, muitos a abandonam em razão das condições precárias de trabalho ou por problemas de saúde e de violência na sala de aula.

Imagine a cena: a professora está aplicando uma prova e chama a atenção de dois alunos que estão conversando. Um deles reage com raiva e empurra a professora, que cai no chão, bate o rosto em uma lixeira e tem de ser levada ao hospital. Parece ficção, mas não é. Esse fato aconteceu em setembro, em uma escola estadual no litoral de São Paulo, com uma professora de 62 anos. Além das dores físicas, ela ainda deve lutar contra o trauma de ser agredida em seu ambiente de trabalho por um adolescente de 15 anos. Essa violência se repete todos os dias tanto por parte dos alunos como também dos pais.

Dia do Professor: que presente a sociedade poderia dar a esse profissional?

Sônia Bianco, de 56 anos, é professora formada em pedagogia e geografia. Ela explica que outro desafio da profissão é a sobrecarga de trabalho: “isso acontece por causa do excesso de tarefas administrativas, salas lotadas e falta de recursos pedagógicos e tecnológicos que dificultam a prática docente”. De fato, além do trabalho em sala de aula, o professor precisa trabalhar também no horário que deveria estar descansando, tanto para preparar aulas quanto para corrigir tarefas e provas, além de preencher formulários sobre os alunos.

A tecnologia também é uma questão que precisa ser debatida, afinal, os professores precisam de apoio no processo de adaptação. Sônia relata que “a rápida evolução da tecnologia exige constante atualização, o que pode ser desafiador por conta da falta de formação continuada. E, por fim, destaco os problemas de saúde mental, em razão da pressão por resultados, e a falta de reconhecimento, que podem levar à exaustão”.

Mudar é necessário

É visível que a educação brasileira precisa de reestruturação, a começar pelo olhar mais atento ao profissional que está à frente na sala de aula . “O professor é fundamental na construção de uma sociedade mais consciente. Ele é responsável por mediar o processo de aprendizagem, ajudar os alunos a desenvolverem seus conhecimentos técnicos e acadêmicos e também habilidades sociais, éticas e emocionais. Além disso, o professor inspira, orienta e prepara os estudantes para enfrentarem os desafios da vida em uma sociedade em constante mudança”, afirma Sônia.

E como mudar a realidade desses profissionais? Talvez o primeiro passo seja olhar o que deu certo em outros países. No Canadá, por exemplo, profissionais da educação têm preferência em embarque nos aeroportos. Uma iniciativa simples, sem custos, mas que passa a mensagem de que esse grupo de profissionais é especial.

Além disso, remuneração adequada, plano de carreira estruturado e estímulo à qualificação continuada são fundamentais. E, claro, pais devem respeitar e ensinar os filhos a respeitarem os professores.

No dia 27 de outubro, 52 municípios terão o segundo turno das eleições para escolher o prefeito. Se você mora em um deles, pesquise bem o histórico dos candidatos e suas propostas para a educação. Lembre que eles são os responsáveis pela educação básica e fundamental. Se sua cidade já elegeu prefeitos e vereadores, cobre-os pela valorização dos professores. Na próxima edição da Folha Universal, publicaremos uma reportagem especial sobre como exigir que seus representantes políticos façam um bom mandato. Não perca!

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Usercff0e948_414, Prostock-Studio, LeoPatrizi e Fotostorm/GettyImages