Educação: A esquerda teria adoecido o sistema?

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Recentemente, as manchetes dos jornais ganharam uma nova polêmica e não foi sobre o novo coronavírus ou sobre o presidente Bolsonaro. Desta vez, os holofotes se voltaram ao agora ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Após uma fala dele, em uma reunião ministerial fechada, tornada pública pelo Ministro Celso de Melo, do Supremo Tribunal Federal (STF), a mídia passou a citar seu nome excessivamente. Na ocasião, em meio a uma discussão acalorada e, ao que pareceu, cheia de indignação, Weintraub disse: “eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF”.

Esse comentário foi considerado uma ameaça à instituição STF. Por conta disso, desdobramentos ocorreram, inclusive o ex-ministro teve que prestar depoimento à Polícia Federal. Em outra ocasião, diante do caos instalado por conta do vírus, ele teria dito que a China poderia estar se beneficiando da crise causada pela pandemia, o que lhe rendeu mais uma investigação por racismo também determinado pelo Supremo Tribunal Federal.

Assim, o presidente Bolsonaro achou por bem afastar o ministro Weintraub da Pasta e indicá-lo a um cargo de direção no Banco Mundial em Washington, nos Estados Unidos, onde já está.

Mas, fato é que, desde o início de sua gestão, sua posição de revelar um processo educacional doente confrontou o sistema, desagradou a elite das universidades e a imprensa que se alimenta disso.

Crítico ferrenho ao método Paulo Freire, enquanto ministro, defendia o fim da influência exacerbada da esquerda sobre a educação. E, por esse quesito, é uma pena que alguém que “batia de frente” com um sistema que segue apenas uma linha ideológica tenha saído do governo.

Mas sua saída deixa o seguinte questionamento: entre tantos danos causados, a esquerda também teria adoecido o sistema educacional em nosso país?

Conhecido como o “patrono” da educação no Brasil em 2012, por meio de lei sancionada por Dilma Rousseff, Paulo Freire, educador e pedagogo pernambucano, influencia, desde os anos de 1960, teorias educacionais desenvolvidas em nosso país, tanto na formação de professores quanto no método aplicado com os alunos.

Freire criou uma metodologia de ensino que conecta o professor ao cotidiano do aluno. Em seu livro mais conhecido, A Pedagogia do Oprimido, ele ressalta que a educação é atitude política.

A questão é que essa não é uma obra neutra, politicamente falando. Nela, há diversas referências e exaltações a líderes de esquerda, como Lenin, Mao Tsé-tung, Che Guevara, como também a revoluções comunistas.

Ou seja, está claro que a formação educacional do Brasil é de viés esquerdista em que o “nós contra eles” é ensinado desde a infância. A questão é que, após três décadas, esse modo de ensinar parece não ter funcionado, para desespero de quem defende essas teses.

Basta ver os péssimos resultados do Brasil no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), por exemplo, para constatar a falência do ensino aqui no Brasil.

Dois terços dos brasileiros de 15 anos sabem menos que o básico de matemática. Em leitura, os estudantes brasileiros apresentam estagnação nos últimos dez anos. Isso sem falar que 70% dos alunos do 3º ano do ensino médio têm nível insuficiente em português e matemática.

Ao mesmo tempo, o Brasil tem gastos exorbitantes com universidades – segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), gastamos em média R$ 74 mil ao ano por aluno na universidade.

Em um ranking da OCDE com 39 países, o Brasil está na 16ª posição entre os países que mais gastam por aluno na universidade.

Mas qual o sentido de se investir tanto no ensino superior enquanto a educação básica segue tão ruim, além do investimento ser bem menor? O Brasil gasta anualmente R$ 20 mil por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental.

Diante desses resultados, fica claro que é preciso mudar urgentemente o caminho da educação. Mas, para transformar esse cenário, é preciso que haja, de fato, uma grande revisão, inclusive, nesses gastos, bem como na formação dos docentes e dos alunos.

O ex-ministro Abraham Weintraub, polêmico, considerado por muitos um brigão, um destemperado, e por outros um indignado, um revoltado, sai do governo, mas convenhamos que ele deixa uma luz amarela acesa dando conta de que as coisas não vão bem quando o assunto é o sistema educacional brasileiro. Ou será que esse modelo atende algum interesse escuso e deve permanecer como está?

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Redação / Foto: Getty Images