Em busca de sombra, água fresca e prevenção

Com a chegada do verão e a previsão de novas ondas de calor, a água é o nosso primeiro pensamento na hora de nos refrescarmos, mas é necessário ficarmos atentos para evitar incidentes

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Basta o sol dar o ar da graça e a temperatura subir um pouco mais que logo as pessoas planejam ir correndo à praia, à piscina ou a qualquer lugar onde possam aproveitar o clima. No entanto, em meio a boias, toalhas e muito protetor solar, também é necessário incluir na bagagem algumas precauções para evitar incidentes, como o afogamento.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, todos os anos, 236 mil mortes no mundo sejam causadas por afogamentos e que “qualquer pessoa pode se afogar, mas ninguém deveria”. No Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), em média, 15 brasileiros morrem afogados todos os dias e, entre as vítimas, quatro são crianças. David Szpilman, médico e especialista em afogamentos, informa que esse é um incidente de alto risco: “o afogamento é a primeira causa de morte de pessoas de 1 a 4 anos; a segunda de 5 a 9 anos; e a quarta de quem tem 10 a 24 anos. Então, o brasileiro na faixa etária de 1 a 24 anos está morrendo principalmente por afogamento, dado o alto risco dessa patologia”.

O pensamento “eu sei nadar, então não corro risco” é uma grande falácia que muitos contam para si mesmos. Szpilman explica que, quanto mais uma pessoa se expõe à água, maior é o risco que ela corre, pois para que o incidente aconteça basta uma redução súbita da própria competência aquática, como um trauma, uma crise convulsiva ou uma câimbra. Por isso, nem mesmo os melhores nadadores podem confiar que nunca correrão o risco de se afogar.

Pelo menos 44% dos afogamentos ocorrem entre novembro e fevereiro, quando as temperaturas estão mais propícias a atividades na água e também é o período em que crianças e adolescentes estão em férias escolares e há o recesso de fim de ano. Além disso, 65% dos incidentes acontecem nos finais de semana e feriados e 50% entre 10h e 14h. Há outro dado do Sobrasa que merece atenção: 50% dos afogamentos acontecem dentro de casa.

A solução é simples
A prevenção é e sempre será a melhor opção. Então, é importante manter a piscina residencial segura, ter corrimões próximo à escada de acesso e optar por piso antiderrapante ao redor da piscina. As piscinas montáveis, inclusive, precisam da mesma atenção e cuidados. Não esqueça de orientar as crianças que é preciso contar com a supervisão de um adulto quando estiverem brincando na piscina ou próximo a ela e, caso algum objeto caia na água, elas não devem tentar pegá-lo sozinhas.

Contudo a piscina não é o único “vilão”. Também é importante manter tanques, baldes e banheiras sem água e fechar recipientes como caixas d’água, cisternas e poços, uma vez que eles também podem favorecer afogamentos em casa.

Quando frequentar piscinas públicas, é importante verificar se há guarda-vidas, levar boias e respeitar as regras do local.

Agora, quando se tratar de praias, rios, cachoeiras e lagos, algumas dicas importantes devem ser seguidas à risca: só entre na água se houver guarda-vidas no local e respeite as sinalizações. “Se estiver em um rio, use colete salva-vidas, porque ele protege muito”, diz Szpilman.

Afogou, e agora?
Mesmo com a adoção de todas as normas de prevenção, infelizmente, incidentes ainda podem acontecer. Então, em casa, quando ocorrer qualquer tipo de afogamento, entre em contato imediatamente com os Bombeiros (telefone 193) e eles orientarão como proceder em cada situação.

No entanto, quando se trata de ambientes externos, há duas possibilidades: se afogar ou presenciar um afogamento. Se estiver se afogando, “a primeira atitude é usar todas as suas forças para manter a flutuação e acenar pedindo socorro. Esse é o melhor procedimento”, resume Szpilman. Agora, se o incidente for com outra pessoa, existem várias formas de ajudar sem entrar na água e é fundamental ter consciência desse detalhe, pois, segundo Szpilman, “dos 15 brasileiros que se afogam e morrem diariamente, dois estavam tentando ajudar outra pessoa”.

Ao identificar que alguém está se afogando, o ideal é comunicar o guarda-vidas ou ligar para os Bombeiros e passar dados da ocorrência. “O segundo passo é não entrar na água e encontrar uma forma de ajudar a pessoa, como jogar um flutuador (uma garrafa pet, uma bola, um espaguete, um isopor ou qualquer objeto que flutue para que ela possa aguardar o socorro), e fazer com que ela aguarde o socorro. Se não houver um flutuador, jogue uma corda ou um galho, mas evite entrar na água”, ensina Szpilman.

São detalhes simples que devem ser aprendidos, respeitados e colocados em prática para garantir que os passeios de verão possibilitem apenas fugir do calor e ter diversão. “Acredito que a educação é a melhor ferramenta para a prevenção do afogamento. ‘Prevenir é salvar, então, se você está prevenindo, você está salvando. Educar a si mesmo e para que a pessoa não se afogue inclui conhecer e falar sobre os riscos no local que se está frequentando, conhecer sua competência aquática e entender o seu limite, por exemplo”, conclui Szpilman.

Evite afogamentos:

* Em casa, nunca deixe tanques, baldes e banheiras cheios de água, pois as crianças podem se afogar

* Monitore o uso de piscinas, até das infláveis, e não deixe as crianças sozinhas

* Feche bem as caixas d’água, cisternas e os poços para evitar acidentes

* Em piscinas públicas, veja se há guarda-vidas e respeite as regras

* Em praias, rios e cachoeiras, só entre na água se houver guarda-vidas no local

* Mantenha a piscina residencial segura com a instalação de corrimões perto da escada de acesso e opte por pisos antiderrapantes

* Não permaneça na água se houver sinal de raios

* Lembre-se sempre do lema: “água no umbigo, sinal de perigo”

O que fazer em caso de acidente

* Se alguém estiver se afogando, chame o salva-vidas ou ligue para os Bombeiros (193)

* Ao perceber que está em perigo, tente manter a flutuação e acene pedindo socorro

* Jogue um objeto que flutue para a vítima, mas evite entrar na água, pois você também pode se afogar

Fonte: David Szpilman, médico e especialista em afogamentos.

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Colaborador

Laís Klaiber / Foto: FatCamera/gettyimages