Expulsos apenas com a roupa do corpo e sem suas famílias, mas recebidos como heróis

Contrariando tratados internacionais, o governo angolano deportou ilegalmente missionários brasileiros

Imagem de capa - Expulsos apenas com a roupa do corpo e sem suas famílias, mas recebidos como heróis

Na tarde do dia 12 de maio, nove missionários que estavam na Igreja Universal em Angola e que foram deportados pelo governo angolano chegaram ao Brasil. Eles foram recebidos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, pelo Bispo Edir Macedo, ao lado do Bispo Renato Cardoso e de sua esposa, Cristiane Cardoso, além de outros Pastores e suas respectivas esposas.

Exibindo cartazes com mensagens de apoio aos colegas deportados por um ato arbitrário e ilegal, os pastores prestaram solidariedade aos companheiros que estavam no país africano com o único intuito de transmitir a Fé pela Palavra de Deus. “Como Heróis da Fé, exemplos para todos os que vieram atrás de nós, Deus os abençoe, em nome de Jesus. Vamos seguir em frente”, declarou o Bispo Edir Macedo aos missionários.

O envio deles ao Brasil aconteceu depois de uma convocação da Procuradoria-Geral da República de Angola. Na ocasião, 34 missionários compareceram ao local acreditando que fariam parte apenas de uma diligência. Contudo, ao chegarem no edifício da Procuradoria, foram surpreendidos por agentes da polícia e do Ministério da Saúde local e submetidos a testes de Covid-19 para a deportação imediata, sem chances de questionar. Em seguida, ficaram à disposição dos agentes de imigração por mais de 12 horas e sem alimentação. Entre os convocados, oito missionários e uma missionária foram enviados imediatamente ao Brasil sem seus pertences, sem seus cônjuges e sem nem conseguir avisá-los do que estava ocorrendo.

A missionária Renata Allemand, que estava no grupo, conta que as autoridades angolanas emitiram às pressas um cartão de vacinação – documento obrigatório em viagens internacionais – com data falsa para que pudessem embarcar para o Brasil. “Como eles sabiam que a nossa carteirinha (de vacinação) estava na nossa casa e eles estavam com o nosso passaporte, então eles falsificaram o documento, colocaram que tomamos a vacina no ano passado e carimbaram. Só que ninguém tomou essa vacina”, revela.

No dia 14 de maio, dois dias após a primeira deportação, outro grupo, composto por mais nove missionários, desembarcou em São Paulo.

O Bispo Renato Cardoso, responsável pelo trabalho da Universal no Brasil, classificou como desumana a ação das autoridades angolanas.

“As autoridades angolanas têm simplesmente rasgado a Constituição, ignorado todas as leis do próprio país para fazerem o que fizeram. Não acataram nenhum recurso jurídico e não há acesso dos nossos advogados aos processos. Isso é incabível em um Estado Democrático de Direito e lamentamos muito o que está sendo feito.”

Como se não bastasse toda a arbitrariedade por parte das autoridades angolanas, também se assistiu à postura omissa do Ministério das Relações Exteriores do Brasil perante a situação vivida pelos missionários brasileiros, sendo que seu papel é defender os brasileiros da violência em outros países.

Diante do aparente descaso do Itamaraty, no dia 13 de maio, o então presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Angola, deputado federal Márcio Marinho (Republicanos), renunciou ao cargo e cobrou um posicionamento do presidente Jair Bolsonaro a respeito do caso. “Hoje aconteceu com os missionários da Igreja Universal do Reino de Deus, amanhã pode ser com outros missionários estrangeiros que lá estão. (…) É feio demais o Ministério de Relações Exteriores ficar calado e inerte ao que está acontecendo”, alertou o deputado, que é Bispo licenciado da Universal.

A mesma indignação foi exposta pelo Bispo Renato Cardoso, durante o programa Entrelinhas, exibido pelo Univer Vídeo no dia 16 de maio. Ele lembrou que, algum tempo atrás, ao ser questionado sobre uma possível intervenção no caso dos missionários em Angola, o presidente Bolsonaro alegou que a situação dizia respeito às questões internas da Universal. Sobre isso, o Bispo ressaltou: “não é caso interno, é um problema político e diplomático”.

O Bispo Renato mencionou que a Universal completará 30 anos de existência em Angola e que somente após a mudança do governo angolano é que os ataques à Universal no país vêm acontecendo e reforçou a omissão do governo brasileiro sobre o caso. “Não estamos pedindo nenhum favor ao presidente ou ao Ministério das Relações Exteriores (…). Isso não é favor, é obrigação. Vocês estão sendo omissos com a obrigação de vocês. Vocês foram colocados neste lugar para defender os direitos do povo. Agora as perguntas que ficam no ar são: por que essa omissão? Por que este silêncio?”, questionou.

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Colaborador

Núbia Onara / Fotos: Demetrio Koch