Fadiga virtual: você está sofrendo disso?

Por causa da pandemia, as pessoas hoje vivem cercadas de telas. O comportamento tem afetado a saúde física e mental e sobrecarrega os sentidos

Imagem de capa - Fadiga virtual: você está sofrendo disso?

O longo período de confinamento provocado pela pandemia do novo coronavírus fez com que o cotidiano de bilhões de pessoas se concentrasse no mundo virtual. Se antes as atividades profissionais e os estudos, as interações com familiares e amigos, as compras e o entretenimento já eram realizados muitas vezes por meio de telas de computadores e smartphones, agora elas foram extremamente potencializadas.

Não se pode negar que essa alternativa é muito prática, mas também causa a chamada fadiga virtual, digital ou “do Zoom”, como foi apelidada por alguns estudiosos por causa da plataforma que permite teleconferências.

Segundo um estudo feito pela empresa norte-americana de software RescueTime, durante a quarentena, o tempo gasto em videochamadas cresceu 350%. Nas redes sociais e nas plataformas de entretenimento, como as de streaming, o mesmo índice de 200% de aumento foi verificado.

Várias pessoas se autodeclararam mais cansadas mentalmente, o que é comprovado por pesquisas. No Brasil, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) divulgou que 63,3% de seus psiquiatras afiliados perceberam, durante a pandemia, um aumento considerável da necessidade de prescrição de medicamentos controlados. Eles relataram também que houve elevação de 70,1% de indicação de psicoterapia pelo excesso de videoconferências realizadas por seus pacientes.

Sobrecarga nos sentidos
A psicóloga Juliana Figueiredo, de Suzano, município da região metropolitana de São Paulo, explica que o excesso de telas apela demais para os sentidos do usuário e, por isso, causa a fadiga virtual. “Sabe aquela sensação de que depois de uma simples reunião no início do dia já estamos cansados e sem energia? Isso acontece porque a comunicação por videoconferência exige muito mais atenção para perceber sinais não verbais (gestos, expressões e movimentos do interlocutor, entre outros detalhes que compõem a comunicação). Com isso, o cérebro se sobrecarrega para manter a atenção”, diz Juliana.

Ela afirma que o brasileiro está atualmente conectado o tempo todo, o que gera prejuízos à mente. “Segundo pesquisas recentes, o Brasil está em segundo lugar no ranking mundial no número de horas na internet. O brasileiro passa em média nove horas e 17 minutos conectado por dia. É indiscutível que o trabalho no formato home-office trouxe inúmeros benefícios, mas com eles vieram também o preço dos sintomas indesejáveis. Investigações apontam, inclusive, que a simples presença do smartphone no momento da reunião, mesmo que não seja utilizado, pode reduzir a capacidade cognitiva”,declara.

Juliana destaca que alguns sintomas de fadiga virtual são sutis, mas, se não forem observados, podem evoluir para o esgotamento ou, em casos mais graves, causar depressão.

Ela alerta para possíveis consequências: “o excesso de atenção, somado à redução da capacidade de concentração, é o caminho para um verdadeiro ‘bug’ no cérebro”. Ela se refere a um termo da eletrônica para falhas que causam mau funcionamento ou travamento de um programa.

Problemas futuros
A especialista também destaca que é importante ficar atento para o impacto negativo do excesso de telas para as crianças, já que o uso dos recursos virtuais na rotina delas também se intensificou: “o uso exagerado de computador, celular, tablets e TV para as crianças desde muito novinhas gera problemas no desenvolvimento da fala, do andar, da postura e até da parte cognitiva, da capacidade de aprendizagem”. Como bem diz o ditado, é melhor prevenir do que remediar e, dessa forma, evitar futuras vítimas da fadiga virtual.

imagem do author
Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty Images