Falas estranhas
Já ouviu falar do “quarto poder”? Essa é uma expressão informal para nomear o jornalismo e, consequentemente, os meios de comunicação. Com seu poder de influenciar seus leitores, ouvintes, telespectadores e seguidores, ele figuraria depois dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Essa possibilidade de moldar a sociedade é tão delicada que concede a cada jornalista comprometido com a essência do jornalismo um senso de responsabilidade sem igual, mas, infelizmente, há pseudoprofissionais que usam esse recurso irresponsavelmente e abusam dele ao “informar” de maneira enviesada e, por vezes, até recorrem a mentiras para tentar impor sua visão pessoal.
No entanto, para que esse poder de influência funcione, não basta apenas o envio da mensagem, é necessário que o receptor esteja aberto a aceitá-la, o que está diretamente ligado à confiança que ele tem nos veículos de comunicação que acompanha. Andando, porém, na contramão de toda essa influência, o relatório Digital News Report 2023, do Reuters Institute, mostra outro lado: em média, quatro a cada dez pessoas afirmam que confiam na maior parte das notícias, ou seja, 60% das pessoas não confiam no jornalismo.
A pergunta que ecoa é: será que o jornalismo perdeu o seu poder de influenciar a sociedade? Quando analisamos esse cenário, descobrimos algo simples. O que vem sendo repercutido há algum tempo são notícias tendenciosas, mentiras exacerbadas e o viés ideológico que predomina nos bastidores do jornalismo e o faz ficar perdido, porque a sociedade pensa diferente e considera o que é noticiado como falas estranhas.
Que tal analisarmos rapidamente os Estados Unidos, a maior potência econômica e política do mundo? Na última década, o número de norte-americanos, em todas as faixas etárias, que se identificam como “conservadores” aumentou tanto no campo dos costumes quanto no econômico. Segundo um relatório da Gallup, esse número vem aumentando gradualmente: em 2021 eram 30% e em 2023 saltou para 38%, ou seja, eles não negociam alguns princípios e valores que consideram muito caros. O relatório ainda mostra que 44% dos norte-americanos são mais propensos ao conservadorismo quando o assunto é economia e “quando solicitados a descrever as suas opiniões políticas em geral, sem referência a questões sociais ou econômicas, 40% dizem ter opiniões conservadoras, 31% moderadas e 26% liberais”.
Todavia sabe o que acontece com a imprensa? A maior parte não é nada conservadora, pelo contrário. E é aqui que a confiança se esvai, que seu poder de influência é perdido e que milhões de palavras são ditas e escritas para … quase ninguém!
Horas e horas na TV e no rádio, páginas e páginas nas revistas e jornais, vídeos e imagens nos portais e nas redes sociais revelam um jornalismo vivendo em uma realidade paralela, sem influência e sem comprometimento com a verdade porque a visão ideológica da maioria dos “jornalistas” não condiz com a visão ideológica da sociedade. Logo, não há quem ouça ou leia o que noticiam porque não há confiança, não há alinhamento e não há respeito.
Isso não significa que toda a imprensa deva seguir uma única linha ou que o jornalismo deva impor algo a ponto de influenciar uma mudança de princípios e valores. Inegavelmente, não! A pluralidade é e sempre será bem-vinda na sociedade e nas redações, mas a questão é que antes de informar o profissional precisa ser honesto do ponto de vista intelectual em relação aos fatos. Porque, como disse John Adams, segundo presidente norte-americano, “os fatos são coisas teimosas e quaisquer que sejam os seus desejos ou inclinações ou os ditames de sua paixão, eles não podem alterar o estado dos fatos e da evidência”. Fora desse princípio, o que for reverberado será recebido como gritos vazios, mesmo que caprichem nas manchetes, inclusive, aquelas com foco na política.
E só para deixar claro: o cenário descrito é dos Estados Unidos e, caso perceba alguma semelhança com o cenário do Brasil, não se preocupe!
Deve ser mera coincidência (ou será que não?). Até porque uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina revelou que mais de 80% dos jornalistas brasileiros são de esquerda. Ao mesmo tempo, uma pesquisa recente do Ibope indicou que a população brasileira é majoritariamente conservadora, ou seja, mais à direita. Considerando esses dados, esses jornalistas estariam falando com quem?