Fazer o bem ao próximo beneficia até a saúde de quem pratica esse ato
Gestos simples podem salvar vidas e criar uma corrente do bem que ajuda a todos
Não é de hoje que fazer o bem, seja com doações financeiras, de sangue, seja doando seu tempo com uma palavra de conforto ou repassando o que você não usa mais, mas que ainda tem serventia para quem precisa, por exemplo, é um ato de humanidade. Exemplos recentes de solidariedade, como na época em que o Rio Grande do Sul foi atingido por chuvas torrenciais, no início do ano passado, e foi envolvido em uma mobilização de ajuda às vítimas da calamidade, ou práticas que persistem há séculos, como dar água e comida a quem tem sede e fome, mostram como ajudar a quem necessita faz bem.
O interessante é que diversas pesquisas destacam a importância dessas ações e que, ao praticá-las, o benfeitor também é beneficiado. Em 2018, por exemplo, pesquisadores concluíram que quem ajudou outras pessoas, mesmo sem esperar nada em troca, estava mais satisfeito com a vida e o trabalho e teve menos sinais de depressão até dois meses depois do levantamento. No ano seguinte, outro estudo relatou que pessoas que foram altruístas, doando dinheiro para órfãos, tiveram menos dores físicas ao serem submetidas a choques elétricos ou ao aperto de torniquetes, em comparação com as que foram pagas para receberem choques ou apertos. Pacientes com câncer até deixaram de sentir dor crônica.
Para o médico Jô Furlan, neurocientista e coordenador do Programa de Bem-estar do Cérebro da Universidade da Terceira Idade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ação de fazer o bem envolve regiões do cérebro ligadas ao processamento de recompensas. “Há a liberação de hormônios que podem influenciar na diminuição da dor. O corpo libera a serotonina, conhecida como o hormônio da satisfação e bem-estar; a dopamina, que regula o humor; a endorfina, chamada de hormônio da felicidade, e a ocitocina, conhecida como o hormônio do amor, e nos sentimos bem quando isso acontece”, esclarece.
Furlan explica essa dinâmica: “quando você doa, primeiro você está abrindo mão de alguma coisa de coração. Ao renunciar, principalmente quando a gente tem a mentalidade de contribuir, isso é muito saudável e faz bem. Contribuir, seja ouvindo, seja financeiramente, ou de qualquer outra forma, é uma coisa extremamente nobre e saudável, independentemente da religião de cada um, e é extremamente recomendável. É cientificamente provado, estatisticamente, que você provavelmente vai receber o bem quando você faz o bem. Se eu faço o mal, provavelmente, receberei o mal em troca. Não é uma questão de religião, é matemática”, diz.
Para o médico, um dos entraves para não fazer o bem ao próximo é a falta de percepção do outro. “Nós estamos diminuindo a intensidade da relação humana. É bom cuidar das pessoas e ao mesmo tempo é desafiador. Tem gente que não sabe mais fazer isso. E o celular, por exemplo, é uma ferramenta sensacional, mas, infelizmente, contribui para isso, pois ele também mexe com hormônios como a dopamina, quando ficamos esperando o próximo short, o próximo post, a próxima curtida. É egoísta. Mas o quanto estamos dispostos a parar e conversar com as pessoas e a dar atenção, por exemplo?”, questiona.
Contudo Furlan acredita que fazer o bem é algo inerente ao ser humano. “Quando criamos gerações de crianças que são cheias de direitos e têm poucos deveres, como compartilhar o seu brinquedo, por exemplo, não estamos contribuindo para isso”, diz. “O ser humano nasce para ser bom, mas ele tem que ser estimulado. Isso lembra uma velha metáfora: existe um animal bom e um mau dentro de nós. Qual é o mais poderoso? É aquele que alimentamos mais”, exemplifica.
Para ele, até o ato de dar bom dia pode ser benéfico. “Nós temos que entender o que contribui e o que destrói o nosso cérebro. O bem é uma escolha, é um prêmio. Temos que aprender a valorizar o sorriso de volta porque, às vezes, um sorriso ou um bom dia para uma pessoa impede que ela cometa um suicídio. Ela pensa: ‘alguém me viu, me notou’. Eu já vi essa história várias vezes. Olhe as pessoas com amor. Abra seu coração e ofereça um bom dia honesto. Procure olhá-las, sorrir e se conectar com elas. Trata-se de empatia. Se você der bom dia e a pessoa não responder o problema é dela e não é seu. Você pode olhar para cima e falar: ‘Deus, estou fazendo a minha parte’”, conclui.
O bem é premissa cristã
Fazer o bem é uma das grandes lições ensinadas pelo Senhor Jesus. Ele dizia que se devia praticá-la sem olhar a quem ou esperar nada em troca. Embora seja uma premissa cristã, qualquer pessoa pode agir dessa maneira. A Bíblia nos lembra desse ensinamento em Lucas 6.27-30: “Mas a vós, que isto ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses; E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir.
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