Fé negada em troca de benefícios

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O título acima parece familiar quando pensamos no Fim dos Tempos, segundo o livro de Apocalipse? Pois bem, isso vem ocorrendo na China.

A perseguição do governo chinês contra os cristãos que vivem no país ganhou novos capítulos recentemente. Agora, famílias de baixa renda estão sendo obrigadas a abandonar a fé cristã sob risco de perderem benefícios sociais. Além das dificuldades econômicas trazidas pela pandemia do novo coronavírus, pessoas com poucos recursos estão sendo pressionadas pelo preconceito e pelo autoritarismo.

Segundo o site especializado em religião Bitter Winter e o CBN News (The Christian Broadcasting Network), funcionários do governo estão ordenando que os cristãos que recebem pagamentos de assistência social substituam símbolos que remetem à fé por retratos de líderes comunistas da China. “As famílias religiosas empobrecidas não podem receber dinheiro do Estado por nada – elas devem obedecer ao Partido Comunista pelo dinheiro que recebem”, disse um pastor ao Bitter Winter.

O novo regulamento começou a ser aplicado há alguns meses em toda a China. Segundo o Bitter Winter, em maio, um funcionário do governo na província oriental de Shandong invadiu a casa de um cristão e colocou imagens de Mao Tsé-tung e do presidente chinês, Xi Jinping. Em abril, o governo da cidade de Xinyu, na província de Jiangxi, reteve os fundos de cristãos com deficiência que continuaram a participar de cultos.

Autoridades chinesas também destruíram símbolos religiosos em igrejas em províncias como Anhui, Jiangsu, Hebei e Zhejiang, segundo texto do site britânico Daily Mail. Autoridades de Huainan, na província oriental de Anhui, teriam invadido a igreja Shiwan Christ para destruir a cruz do local. Em julho, o governo de Yongjia, na província de Zhejiang, teria enviado um guindaste e quase 100 trabalhadores para demolir as cruzes das igrejas Ao’di Christ e Yinchang Christ. O governo de Linfen, na província de Shanxi, teria convocado todos os funcionários e ordenado que reprimissem atividades religiosas.

Em dezembro do ano passado, um tribunal chinês condenou o pastor Wang Yi a nove anos de prisão sob acusação de incitar a subversão ao poder do Estado e de operar ilegalmente uma empresa, segundo reportagem do jornal The Guardian. O pastor tinha sido preso com outros fiéis e líderes da igreja Early Rain, uma das maiores igrejas protestantes não registradas. A lei chinesa exige que os locais de culto se registrem e se submetam à supervisão do governo. É importante destacar que a Constituição da China garante a liberdade religiosa.

Entretanto, desde que Xi Jinping se tornou presidente, há seis anos, o governo passou a fazer restrições às religiões.

O governo começou a reprimir igrejas clandestinas protestantes e católicas, que não estão sob o regime, e lançou uma nova legislação para aumentar a supervisão às práticas religiosas, com punições severas.

A perseguição religiosa vai contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que informa, em seu artigo XVIII, que todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. A postura do país é ainda mais ultrajante se considerarmos o fato de que a China é um dos países-membros da ONU e, como tal, tem a obrigação de respeitar os acordos e compromissos firmados pela organização.

Nessa perspectiva, a perseguição a cristãos não atinge apenas aqueles que professam essa fé, mas é uma afronta aos direitos da Humanidade. Esse tipo de atitude aponta que a intolerância pode atingir também outras parcelas da sociedade, independentemente de religião, idade, cor ou gostos pessoais. Em um país em que as leis não são respeitadas, ninguém está a salvo, uma vez que elas podem ser transgredidas a bel-prazer do seu líder. E, com a globalização, é importante destacar que o autoritarismo pode ultrapassar fronteiras. Por isso, é importante que outras nações e os cidadãos do mundo todo não se calem. É a sua liberdade que está em jogo.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty Images