Férias escolares: momento ideal para aproximar a família

Em mundo tão conectado, as crianças precisam de tempo de qualidade com os pais para se desenvolver de forma saudável

O período das férias escolares costuma ser aguardado com muita expectativa pela maioria das crianças. Já os pais nem sempre estão preparados para estar em tempo integral com os filhos em casa. Isso ocorre porque há compromissos profissionais e uma série de atividades que acabam atrapalhando o convívio familiar. Só que essa realidade pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento infantil.

“Nas férias, a criança sente certa falta do convívio que tinha na escola com as outras crianças e da atenção que recebia dos professores, afinal, ela estava sendo entretida o tempo todo. Então dentro de casa ela precisa de alguém para ficar com ela e fazer algumas atividades”, explica a pediatra Paula Sellan.

A presença dos pais e de familiares no dia a dia de crianças e adolescentes tem impacto positivo em todas as fases da vida. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge analisou 78 estudos desenvolvidos entre 1977 e 2017 para estabelecer padrões entre o tempo que pais e filhos passavam juntos e o desenvolvimento das crianças. Os especialistas concluíram que a participação dos pais em brincadeiras ajuda no desenvolvimento da autoconfiança e do autocontrole comportamental.

Para Paula, a presença familiar pode trazer benefícios a longo prazo. “Tanto o pai quanto a mãe têm influência no desenvolvimento da criança e na sua formação como pessoa. Alguns estudos mostram que até os 7 anos a criança está desenvolvendo sua personalidade e já é possível observar algumas características de como ela será quando for adolescente. Até os 10 anos, porém, ela tem os pais como referência”, explica.

Definido prioridades
Muitas circunstâncias podem interferir na relação familiar. Além do trabalho, os gatilhos para atividades on-line, como o consumo de conteúdos via redes sociais ou plataformas de streaming, têm minado o tempo dos pais e deixado pouco tempo para que dediquem aos pequenos. Em 2013, uma pesquisa britânica apontou que a média de tempo gasto em família durante a semana era de 36 minutos por dia. E, na época, sete em cada dez entrevistados afirmaram que entre as atividades que faziam em família figuravam ver TV em silêncio e ler e jogar no computador.

Por isso, é preciso destacar que existe uma grande diferença entre passar um período com os filhos e ter um tempo de qualidade com eles. “Muitos pais acham que precisam ficar o tempo inteiro com as crianças para lhes dar atenção. Apesar desse cenário ser o ideal, o que elas mais precisam é de tempo de qualidade. Hoje muitas famílias estão trabalhando em regime de home office, mas a presença física não é suficiente. É preciso sentar com a criança, brincar com ela ou propor alguma atividade que possam fazer juntos.” Paula ressalta que esse vínculo familiar pode ser fortalecido mesmo com 40 minutos ou uma hora de interação: “é o suficiente para que a criança perceba que aquele adulto lhe deu atenção e ficou com ela”.

Driblando as telas
Se há alguns anos a TV e o computador eram vistos como problemas pelos pais, hoje esses aparelhos ganharam reforços com os tablets, videogames e celulares. Esse mundo on-line não é indicado para crianças. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que menores de 2 anos não tenham acesso a telas, pois essa exposição pode atrasar processos cognitivos, como o desenvolvimento da linguagem.

“As telas podem ser substituídas por brincadeiras, seja com interação com os brinquedos ou jogar bola, sair na rua, correr, etc. Se o pai concentrar o entretenimento nas telas, isso vai se tornar um vício e a criança vai querer cada vez mais”, diz Paula.

Como na maioria das vezes não dá para o adulto brincar o dia inteiro com a criança, uma alternativa é envolvê-la em atividades do cotidiano. “É interessante que os pais coloquem os filhos para participar dos afazeres, como ajudar a fazer o almoço (montar uma salada ou pegar uma fruta para comer, por exemplo) e auxiliar a cuidar da casa. São coisas simples, mas que têm muito valor na infância, pois essas atividades em conjunto ajudam a criar memórias afetivas”, afirma Paula.

Para os pais que trabalham o dia inteiro e contam com familiares ou cuidadores para ficar a criança, uma sugestão é deixar atividades preparadas para entretê-la ao longo do dia. Massinha, pintura com lápis ou tinta, atividade de ligar os pontos e jogos educativos e pedagógicos são algumas alternativas saudáveis de entretenimento.

Cuidando da saúde
Apesar de as férias serem um período de relaxamento, é preciso limitar alguns comportamentos e hábitos que tendem a sair do controle. “Sabemos que tanto os pais quanto os filhos sairão da rotina, mas é importante manter os horários da alimentação. Na medida do possível, manter o horário de dormir e acordar também é válido para a segurança da criança.” Segundo Paula, esse cuidado evita que haja um grande impacto no retorno às atividades escolares. Vale ainda aproveitar esse período longe da escola para fazer um check-up na saúde dos pequenos. As visitas ao pediatra e ao dentista devem ser feitas regularmente.

Por fim, Paula lembra os pais que, apesar de ser uma fase trabalhosa, a infância é curta. “Ao todo, serão de 10 a 12 férias em que as crianças precisarão dessa atenção mais específica, já que depois vem a pré-adolescência e os interesses começam a mudar.

Por isso, é preciso valorizar, não só as férias, mas o tempo juntos diariamente”, conclui.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Getty images