Fim da fantasia? Por que personagens clássicos estão sendo modificados

Apesar de grupos afirmarem que as alterações visam defender a modernidade, estudo confirma que contos não são tóxicos

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Um estudo descobriu que a exposição de meninas a princesas dos desenhos animados não é tóxica. Para alguns pode parecer completamente absurdo que fosse preciso um relatório para chegar a essa conclusão, mas, devido ao cenário atual, em que tradições culturais estão sendo questionadas por alguns movimentos, ele foi extremamente necessário.

A autora Sarah Coyne, da Universidade Brigham Young, analisou centenas de crianças por mais de cinco anos e concluiu que aquelas que assistiram a contos clássicos não desenvolveram visões misóginas ou preconceituosas à medida que cresceram. Pelo contrário, elas entenderam melhor os papéis de gênero do que as outras crianças. Além disso, Coyne constatou que, após alguns anos, os pequenos desenvolveram posturas igualitárias em relação às mulheres.

A teoria geral da pesquisadora mostra que, embora os homens nos filmes de princesas sejam frequentemente valentes, as princesas são as verdadeiras protagonistas e modelos de coragem, inteligência e feminilidade. Elas foram escolhidas para encorajar as meninas a agirem com mais equilíbrio, graça e confiança.

Críticas atuais

Apesar dessa conclusão, os enredos tradicionais dos contos clássicos parecem estar com data marcada para o fim. Afinal, a transformação de grandes nomes dos desenhos e dos quadrinhos tem sido cada vez mais frequente.

Trocar a mágica por justiça social tem sido o motivo anunciado para a mudança comportamental desses personagens. Mas a verdade é que eles estão sendo alvo de grupos políticos que buscam promover suas ideologias.

Assim, visando exercer uma influência poderosa sobre a cultura, querem evitar o romance, a gentileza e a bondade em favor do individualismo, da teimosia e da militância.

“Essa releitura ideológica da literatura, cinema, quadrinhos e artes em geral atende aos interesses de grupos organizados que pretendem ‘limpar’ a História, incluindo todos os registros históricos e obras artísticas, de ideias e condutas julgadas (por militantes e acadêmicos dos nossos dias) como retrógradas ou fontes de preconceitos”, analisa o sociólogo, especialista em educação e política, Thiago Cortês.

É preciso questionar: por que, em vez de modificar histórias já existentes, não criar outras?

“Se eles pudessem, estariam queimando livros. Só que isso não é tão aceitável graças ao que aconteceu na Alemanha de 1930 em diante. Por isso, estão retirando partes essenciais das tramas, como forma de vingança histórica e ‘correção’ ideológica. É o equivalente sofisticado da queima de livros, mas feita de uma maneira em que se ‘queimam’ apenas partes da trama ou de seus personagens. É uma queima simbólica. O risco é enorme para a liberdade de expressão, além do prejuízo incalculável para as artes, que sofrem nas mãos de militantes que só enxergam questões políticas e partidárias em absolutamente tudo”, conclui Cortês.

Infelizmente, a cultura está se distanciando cada vez mais do entretenimento saudável e se tornando uma ferramenta política.

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Colaborador

REFLETINDO SOBRE A NOTÍCIA POR ANA CAROLINA CURY | Do R7 / Foto: Istock