“Foi quando descobri que Deus existia”
Uma semana foi o prazo que o advogado Genersis Ramos Alves recebeu para autorizar os médicos a desligarem os aparelhos que mantinham o pai dele vivo. Ele não se conformou e não desistiu de lutar pela vida dele
O advogado Genersis Ramos Alves, (foto abaixo) de 49 anos, chegou à Universal na região do Itaim Bibi, em São Paulo, em 1991. Foi nesse ano que seu pai teve uma complicação de saúde. “Ele saía para trabalhar às 4 horas da manhã, pois entrava às 6 horas. Quando descia a Avenida Santo Amaro (bairro na zona sul de São Paulo), quatro pessoas o abordaram, perguntaram se ele tinha cigarro, mas ele não fumava. Em seguida, apontaram uma arma para ele. Era um assalto e tudo o que ele tinha era um bilhete de ônibus. Meu pai ouviu o tambor do revólver rodar e, desesperado, correu. Ele escutou três estampidos e um dos tiros atingiu suas costas”, diz.
Seu pai, João Ramos Alves, foi levado às pressas para o hospital. A saúde dele ficou debilitada e ele foi colocado em coma induzido. “Um rim estava 80% comprometido e o outro 20%”, conta Genersis.
“MÁGOA DE DEUS”
Genersis tem quatro irmãos. “Éramos uma família pobre, meu pai ficou sem trabalhar e nossa situação se agravou. Perdemos tudo. De uma casa alugada, fomos morar em uma favela. Para ir à escola, eu e meu irmão dividíamos o mesmo tênis. Vivíamos de restos e pedindo de porta em porta. Chegamos a dividir três pãezinhos para oito pessoas. Andávamos de mãos dadas com a miséria.”
A realidade deles era cruel: “quando havia troca de tiros, meus pais se jogavam em cima de nós. Vimos muitas pessoas morrer e algumas serem queimadas vivas. Por isso, eu tinha mágoa de Deus. Minha família perdeu tudo e a vida era difícil. Como poderíamos depender de Deus em um momento daqueles?”
UMA SEMANA
O pai de Genersis ficou quatro meses em coma. Os médicos tentavam diminuir os medicamentos para ver se o corpo dele reagia, mas ele teve uma série de paradas cardíacas. Diante dos acontecimentos, a família se reuniu. “O médico disse que não tinha mais jeito, que precisava que alguém assinasse os documentos para que os aparelhos fossem desligados. Minha mãe saiu andando aos prantos.”
Um a um, os irmãos dele se retiraram. “Eu permaneci, pois não tive forças para sair. Perguntei se não teria como doar um rim, mas o médico disse que eu era muito jovem e que, caso houvesse algum problema, eu poderia morrer. Pedi a ele uma semana para pensar. Era uma segunda-feira e eu não sabia o que fazer. Decidir a vida de outras pessoas é fácil, difícil é decidir a vida do seu pai. Vivia perguntando a Deus o motivo de Ele ter feito isso com o meu pai”, recorda.
Um dia, enquanto esperava o ônibus para voltar para casa, ele compartilhou sua história com um desconhecido. “Ao me perguntar se estava tudo bem, um homem me ouviu pacientemente e disse que conhecia um lugar onde eu poderia buscar ajuda. Ele me levou a um centro espírita. Lá, me disseram que me ajudariam, mas eu teria que comprar um boi para oferecer seus rins como sacrifício. Saí determinado a providenciar o valor. Cuidei de carros, trabalhei na feira e vendi sorvete. Na quinta-feira, já estava com o valor. O combinado era voltar ao local no sábado.” No entanto outro caminho lhe foi apresentado.
Reviravolta
Ao visitar um amigo, ele foi convidado pela mãe dele, uma evangelista, a ir a uma reunião na Universal. Sem jeito para dizer não, ele foi a uma reunião das 20 horas. Por precaução, ele levou o valor que tinha reunido ao longo dos dias. “O Pastor estava contando a minha vida.
Fui até o Altar, disse a Deus que não O conhecia nem gostava dEle, mas que, se Ele tirasse meu pai do hospital, eu O serviria. No sábado, quando deu o horário da visita no hospital, fui tremendo, pensando que seria a última vez que o veria. Foi um turbilhão de emoções.”
Depois de ter feito o sacrifício no Altar, Genersis precisou lidar com um conflito: meu coração dizia que nada aconteceria, mas minha mente dizia que sim. Naquele momento, minha mente venceu o coração. Quando cheguei no quarto, meu pai estava sentado na cama, perguntou onde eu estava e disse que estava com fome. Tive a sensação de que estava alucinado ou vendo coisas por conta do meu emocional, mas Deus não deixa dúvidas. Caí de joelhos e comecei a chorar. Foi quando descobri que Deus existia e que fez o que os médicos não podiam.”