Games on-line

Conheça os males que o Jogo do Tigrinho e similares estão provocando no Brasil e saiba o que fazer para não apostar em uma ilusão

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No ônibus, no metrô, nas filas de espera de serviços públicos e privados ou de consultórios médicos é possível se deparar com quem usa o Jogo do Tigrinho. Quem vê a imagem inocente do bichinho cor de laranja com listras pretas com o nome Fortune Tiger, muitas vezes enviada por desconhecidos e até por algoritmos nas redes sociais para que as pessoas se cadastrem e façam apostas on-line, não faz ideia dos estragos que o jogo pode causar. Vale destacar que, embora tramite no Congresso Nacional um projeto para legalizar jogos de azar presenciais (como o do bicho e em cassinos), não há previsão de legalização de jogos virtuais como o do Tigrinho – que são considerados cassinos on-line ilegais.

O fato é que esses jogos estão fazendo inúmeras vítimas. No noroeste do Paraná, recentemente, R$ 179 mil sumiram da conta de um idoso de 83 anos. A neta dele, de 22 anos, foi presa suspeita de usar o dinheiro no Fortune Tiger. No mês passado, uma mulher contou à Policia Civil de Maceió (AL) que perdeu cerca de R$ 400 mil em apostas no mesmo game. Também em junho, em São Paulo (SP), uma enfermeira de 23 anos que apostava no jogo ficou sumida uma semana e foi encontrada com indícios de depressão, depois de fazer contato com a família. No ano passado, uma empresária cearense, natural de Missão Velha (CE), que morava na zona leste da capital paulista, tirou a própria vida depois de perder mais de R$ 1 milhão nos jogos do Tigrinho e do Aviãozinho.

Propaganda com influenciadores
A publicidade massiva tem sido usada para angariar e convencer apostadores, mas as casas de apostas também estão pagando influenciadores digitais que endossam a possibilidade de ganhos fabulosos. Até influenciadores mirins estão divulgando os jogos entre crianças e adolescentes no Instagram.

Em junho, uma operação da Polícia Civil em Maceió (AL) apreendeu veículos de luxo e uma lancha de influenciadores suspeitos de praticar estelionato ao divulgar links e estimular os seguidores a usar o Jogo do Tigrinho.

Para Aderbal Vieira Júnior, psiquiatra, psicoterapeuta e responsável pelo ambulatório de tratamento de dependências de comportamentos do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) do Hospital São Paulo-Unifesp, na capital paulista, os influenciadores são um fator de persuasão importante. “Se eu sigo o influenciador, eu acredito nos conselhos e indicações dele. Se ele faz um comentário positivo, uma propaganda, isso vem com a chancela dessa pessoa que eu acompanho”, analisa.

Ele afirma, no entanto, que se a pessoa não gosta do produto, uma propaganda que aparece toda hora nas redes sociais só vai irritá-la. “Agora, se você é neutro, já é suscetível a esse tipo de mensagem. Certamente, quanto mais bombardeada a propaganda for, mais chances ela tem de
capturá-lo. Eles jogam a propaganda o maior número de vezes possível, no maior número de veículos possível.Não é para pegar todo mundo, é para pegar aquela fatia que é suscetível”, explica.

Para o psiquiatra, os alvos não dependem da idade, mas da sugestionabilidade. “As crianças e os adolescentes são mais sugestionáveis, pois têm menos possibilidade de ter senso crítico para desconfiar que a premiação do jogo é boa demais para ser verdade. Mas, se um adulto também for meio ingênuo, meio deslumbrado, também é o público-alvo para isso e vai cair de qualquer forma. O problema é quando junta uma propaganda muito insistente e massiva e um sistema de reforço de recompensa que é muito grande, como nesse do jogo”, avalia.

A partir dessas situações, pessoas que têm uma fragilidade e predisposição podem sofrer crises de depressão e problemas de ansiedade. “Esse tipo de estresse pode ser o gatilho. Há também a situação inversa, quando a pessoa está deprimida, não consegue sair de casa, pode pegar o celular, vai brincando com aquilo e, por uma contingência, por um transtorno psiquiátrico, que é primário, acaba mais exposta ao jogo e vai ter o mesmo tipo de prejuízo, de problema”, declara.

Prejuízos
O médico afirma que as pessoas perdem tempo jogando, mas o principal impacto do jogo patológico é financeiro. “A partir dessa perda financeira há vários outros desdobramentos secundários. Ficar com uma dívida gigantesca, ter que sair de casa, pegar dinheiro com agiota e depois ter que ficar fugindo são algumas consequências. Tem quem gaste, fique com vergonha e tente suicídio depois porque não consegue olhar para a família. O jogo vai ocupando um espaço cada vez maior na vida dela. A sensação de perda de controle, o prejuízo e a diminuição de repertório são comuns em todas as dependências”, esclarece.

Na opinião do médico, muitos se autoenganam ao jogar. “Temos sonhos e para concretizá-los pelas vias reais, constituintes, dá muito trabalho ou leva muito tempo e, às vezes, não é possível. A casa de apostas vende o mesmo tipo de ilusão. Isso é uma mensagem muito chamativa para quem está mais desesperado, mas tudo que parece bom demais provavelmente não é de verdade. A casa de jogo não está lá para perder dinheiro. Se você aposta e ganha, alguém está perdendo, mas, se a casa perdesse dinheiro, ela não estaria lá existindo e funcionando. Ela está lá porque ela ganha, ponto. Portanto, você vai perder muito mais do que ganhar”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: arte edi edson sobre fotos getty images e reprodução