Influências do cristianismo
Dos Dez Mandamentos às Constituições que regem nações, a Fé estabelece princípios essenciais como justiça, ética e direito à liberdade
O cristianismo pode mudar completamente a vida de uma pessoa, mas o que poucos sabem ou reconhecem é que ele também molda a sociedade em que vivemos. E não é para menos, já que na Bíblia encontramos tanto orientações sobre conduta individual quanto as relacionadas à organização de um povo que perduram até os dias atuais.
Nos primórdios da Humanidade, uma das primeiras indicações que o povo de Israel recebeu para se estabelecer como um povo após o exílio no Egito foram os Dez Mandamentos (Êxodo 20.1-17). A partir dele, diversas outras orientações foram dadas ao povo que, desde aquele momento, passou a usufruir de liberdade. “Historicamente, a fé cristã e a Bíblia moldaram profundamente a civilização ocidental, promovendo valores como justiça, amor ao próximo e dignidade humana. Esses princípios fundamentaram sistemas legais e sociais que priorizam a igualdade e os direitos humanos. A ética cristã incentivou a criação de instituições de caridade e educação, que foram cruciais na estruturação social e no desenvolvimento de uma consciência coletiva voltada para o bem comum”, esclarece o advogado Jean Marques Regina, coautor do livro A Contribuição do Cristianismo para a Liberdade, publicado pela Editora Zelo.
Livres para usufruir da liberdade
Se essa correlação muitas vezes passa despercebida no dia a dia, ela é visível até mesmo na legislação. “A relação entre fé e leis é intrínseca e histórica. A moral cristã forneceu uma base ética que influenciou a elaboração de leis visando a proteção da dignidade humana”, diz. Além disso, os princípios bíblicos como justiça equitativa e a proteção das pessoas em vulnerabilidade estão presentes no Texto Sagrado e fazem parte de muitos sistemas legais.
O Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, por exemplo, prevê a liberdade religiosa, mas essa não é a única liberdade que tem o cristianismo como precursor. A liberdade de expressão e a abolição de práticas opressivas também são conquistas que enfatizam a dignidade de cada indivíduo, impulsionam movimentos por direitos civis e sociais e defendem a igualdade e a justiça para todos.
E quem pensa que essa influência cristã pode transformar o Estado laico em um Estado teocrático se engana: quando o Estado e a religião caminham lado a lado pelo bem comum, promovem-se valores universais como justiça e liberdade, numa laicidade colaborativa. “O ambiente de livre diálogo entre diversas tradições religiosas, incluindo o cristianismo, enriquece o debate público e assegura que as leis reflitam um compromisso com o bem comum, sendo o Estado garantidor desta convivência entre diferentes visões de mundo, mas moldado pela única religião que, historicamente, promove o espaço para que isto ocorra: o próprio cristianismo”, acrescenta.
O cristianismo segue influenciando debates sobre ética e direitos humanos, garantindo o cumprimento das obrigações e responsabilização individual. “Os princípios cristãos ainda informam legislações sobre direitos e deveres de todos, a proteção dos vulneráveis e líderes cristãos participam ativamente na discussão e elaboração de políticas públicas voltadas para o bem comum”, afirma Jean. Por isso é tão importante que os cristãos não se abstenham de seu papel cívico na sociedade da qual fazem parte.