Inteligência Artificial: qual é a relação entre a tecnologia e o vazio na alma?
Em busca da felicidade no amor e de realização, muitos estão pagando pela atenção de um robô que conversa e se adapta à necessidade deles
A inteligência artificial deixou de ser apenas uma possibilidade ou parte do roteiro de um filme de ficção científica e já é uma realidade. Apesar de ser “virtual”, essa tecnologia tem afetado de forma cada vez mais intensa as pessoas do mundo real. A expectativa é que esse avanço da Ciência cause mudanças profundas na sociedade, principalmente quando se trata de atividades profissionais e do atendimento pessoal.
Muito mais do que agilizar processos e garantir economia, a inteligência artificial tem sido usada para tentar suprir necessidades humanas, como a de se relacionar. Se antes a tecnologia se restringia a aplicativos de namoro que sugerem pessoas com perfis compatíveis aos nossos, hoje tem quem esteja em busca mesmo é de um relacionamento com um robô, ou seja, um perfil que exista apenas on-line.
Parece absurdo, mas esse tipo de relação tem sido recorrente. A influenciadora norte-americana Caryn Marjorie, por exemplo, usou milhares de horas de vídeos pessoais para alimentar o banco de dados de uma plataforma para criar um robô com a personalidade dela disponível para relacionamentos. O serviço é uma espécie de chat, em que a inteligência artificial “com a personalidade” de Caryn responde mensagens enviadas pelo usuário. Cerca de um mês depois do lançamento, a versão virtual da influenciadora conquistou mais de 20 mil namorados, sendo 99% homens, que pagam cerca de US$ 1 – o equivalente quase R$ 5 – por minuto de conversa. Segundo Caryn, a plataforma foi pensada para “curar a solidão dos fãs”.
Outro caso que chamou a atenção recentemente foi o da norte-americana Rosanna Ramos, de 36 anos, que criou um parceiro digital com base em suas próprias preferências. Ela investiu US$ 300 – mais de R$ 1,4 mil – no desenvolvimento do programa de inteligência artificial. O relacionamento ficou tão sério que a mulher diz que se casou com o robô. “Nunca estive tão apaixonada assim por alguém em toda a minha vida”, declarou ela e, em entrevista a um jornal local, justificou sua paixão pelo fato de que seu novo cônjuge “não a julga”, “não veio com nenhuma bagagem” e não a faz “lidar com família, filhos ou amigos dele”.
A psicóloga Donzila do Rosário Aveiro explica que o ser humano está sempre à procura de novos desafios e em busca de se sentir acolhido, ou seja, de ser aceito sem recriminações e restrições. “Os casos de relacionamentos entre homem e máquina apontam para a necessidade humana de se preencher, para a procura da felicidade e para a busca por alguém que o entenda e que lhe dê atenção”. Em um mundo que carece de empatia e de perspectiva, a tecnologia se apresenta como uma alternativa supostamente segura, já que “há a possibilidade do contato constante e ininterrupto enquanto for de interesse das partes envolvidas e de ninguém terminar o relacionamento, julgar ou cobrar”.
Vale ressaltar que a inteligência artificial é um mecanismo que “aprende”, ou seja, ela é feita sob medida para agradar o usuário. Dessa forma, apesar de não ter emoções, nem sentimento algum envolvido nas palavras dos robôs, eles podem despertar no ser humano algumas sensações, conforme explica Donzila: “nos relacionamentos virtuais, apesar da ausência do contato físico entre as partes, o lado sentimental que se forma pode se tornar tão profundo quanto o que se estabelece na vida real. Esse impacto vai afastar a pessoa cada vez mais do convívio social e das relações interpessoais. Esses são alguns dos perigos”.
Necessidade de preenchimento
Os motivos que têm levado as pessoas a buscarem esse tipo de relacionamento virtual são os mais variados: além de alguém que não julgue, pode-se citar o vazio interior. A verdade, entretanto, é que essa necessidade de preenchimento não pode ser satisfeita por um relacionamento real nem por uma suposta relação com um robô.
Donzila diz que o ser humano não consegue alcançar a satisfação plena por si mesmo: “apenas por meio da fé é possível que aconteça a restauração dos traumas do passado, que possamos ser novas pessoas e não levarmos para os próximos relacionamentos inseguranças ou mágoas vividas. É preciso buscar a ‘cura interior’ para preencher o vazio interno. E, com certeza, Deus é o melhor médico para nos restaurar”.
O Bispo Renato Cardoso falou do tema recentemente no programa Inteligência e Fé. Segundo ele, muitos não entendem a raiz do problema: “talvez você ache que o vazio que você sente seja porque não realizou o sonho que você tanto queria. Você não conseguiu o amor da sua vida, a pessoa que você ama o deixou ou não correspondeu ao amor que você lhe ofereceu. Você acha que o vazio provém de um problema na sua família ou uma grande decepção que você teve, mas nada disso é a verdadeira razão para o seu vazio. O vazio que você sente também é sentido por pessoas que chegaram ao topo de suas profissões e por muitas pessoas casadas com o amor da sua vida e as amadas por familiares e fãs”.
O Bispo explica que o vazio interior decorre da necessidade da alma ter a Presença de seu Criador. É um espaço que não consegue ser preenchido por outras coisas: “não adianta jogar para dentro realizações, dinheiro, amor de pessoas, fama e sucesso, pois isso não vai resolver o seu problema. O vazio não tem nada a ver com o aspecto exterior da pessoa, porque o vazio da alma do ser humano é do tamanho de Deus. O vazio da alma do ser humano só pode ser preenchido por Ele”.
Entender esse cenário é o primeiro passo para buscar a cura interior no lugar certo. “Do jeito que você é, você tem tudo para ser feliz, só está faltando o seu Criador dentro de você. E o dia que você entender isso e se voltar para Ele, se interessar em buscá-Lo, você vai achá-Lo e a felicidade estará en você”, orienta o Bispo. Para isso, no entanto, é preciso priorizá-Lo. “O dia que você buscar o seu Criador da forma que você busca aquilo que você acha que vai superar o seu vazio, você vai achar o seu Criador e nunca mais esse vazio estará na sua vida”, conclui.