Jovens buscam drogas para lidar com a pandemia
Pesquisas indicam aumento no consumo de álcool entre pessoas de 18 e 39 anos neste período. Outras substâncias psicoativas também têm sido usadas
Cerca de três meses depois do início da quarentena implantada em várias cidades brasileiras para reduzir as infecções pelo novo coronavírus, surge um dado preocupante: uma parcela dos jovens está recorrendo às drogas para lidar com o atual momento.
Um levantamento feito com 4 mil pessoas entre 30 de abril e 15 de maio mostrou que 52,1% dos entrevistados afirmaram que as substâncias psicoativas têm ajudado a lidar com este período. Além disso, 38,4% das pessoas em quarentena relataram um aumento no consumo de drogas, legalizadas ou não, e 43,1% disseram que o uso dessas substâncias ocorre até durante as atividades do trabalho. As substâncias psicoativas legalizadas foram as mais usadas no período, como café, álcool e ansiolíticos. Enquanto isso, drogas ilegais como cocaína, LSD e MDMA (metilenodioximetanfetamina, presente no ecstasy) registraram maior queda.
A pesquisa inédita Uso de Álcool e Outras Drogas na Quarentena foi realizada pelo Centro de Convivência É de Lei, com apoio do Grupo de Pesquisas em Toxicologia e do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Leipsi), ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e os dados foram divulgados pelo portal UOL. O estudo foi feito pela internet e mais da metade dos entrevistados tem entre 18 e 34 anos de idade.
Álcool
O uso de álcool é o que mais se destaca. O levantamento mostrou que apenas 8,48% dos entrevistados disseram não consumir bebidas alcoólicas e terem continuado assim na quarentena. Enquanto isso, 5,68% dos entrevistados começaram a beber na quarentena.
Outro estudo, feito entre 24 de abril e 8 de maio, divulgado recentemente pela Fiocruz, confirma a tendência de crescimento do consumo de álcool durante a pandemia. O levantamento ConVid Pesquisa de Comportamentos apontou que 18,1% dos entrevistados relataram aumento na ingestão de bebidas alcoólicas. A faixa etária que relatou maior aumento foi a de 30 a 39 anos, com 25,6%, seguida pela faixa de 18 a 29 anos, com 19,1% de aumento. O uso de álcool foi associado à frequência do sentimento de tristeza ou por se sentir deprimido.
Falso alívio
O médico psiquiatra Ivan Barenboim, especialista no tratamento do alcoolismo com o método Sinclair, explica que algumas pessoas podem ter recorrido às drogas por causa da dificuldade de lidar com os problemas gerados pela pandemia. “Alguns buscaram um alívio para o estresse no uso de drogas e o álcool é a droga mais fácil de ser adquirida atualmente, a que faz mais parte de nossa cultura. A quarentena aumentou o nível de estresse de alguns, trouxe problemas financeiros, dificuldades na convivência em família, conflitos com o cônjuge e tem a questão de ter mais tempo livre”, avalia.
Ele pontua que para algumas pessoas a pandemia serviu de gatilho para o uso de drogas, enquanto para outras ela agravou uma situação preexistente. “Quem já tinha uma conexão mais forte com o álcool passou a usar mais. Com estabelecimentos fechados e as restrições da quarentena, essas pessoas sentiram que não tinham o que fazer e isso pôde agravar a dependência. Outros buscaram a bebida como forma de alívio, pois em nossa cultura existe a ideia de que o álcool ajuda a desestressar”, diz.
Barenboim destaca que o fechamento de bares e restaurantes não foi suficiente para diminuir o consumo de álcool, pois essa droga também costuma ser usada dentro de casa.
O que fazer
Barenboim sugere às pessoas que se sentem nesta situação durante a pandemia que busquem alternativas saudáveis. “O primeiro passo é buscar métodos alternativos para aliviar o estresse, como a atividade física. Em alguns casos, é preciso tirar algo da vida e não acrescentar: tirar uma pessoa tóxica, um tipo de trabalho que faz mal ou uma substância nociva. Outro ponto importante é se alimentar e dormir bem e, se possível, tomar sol”, enumera.
Ele acrescenta que pessoas que sentem falta de encontros sociais podem também tentar suprir isso com os virtuais. “A tecnologia pode ser usada para reunir amigos e familiares com aplicativos como o Zoom. Outro ponto importante é questionar certos pensamentos. Se você tem um pensamento automático de preocupação com a sua renda, por exemplo, tente imaginar o que um amigo ou um familiar lhe diria.
Tente ver as coisas de outro ponto de vista”, afirma. Se não conseguir resolver, busque o quanto antes a ajuda de profissionais de saúde mental.
Fé
O Bispo Edir Macedo afirma que a dependência de drogas e outras substâncias está relacionada a causas espirituais. “O vício é um espírito e o poder do Espírito de Deus é capaz de neutralizálo”, disse, durante seu programa Palavra Amiga, na Rádio Rede Aleluia. “A Palavra tem poder. Quando ela vem de Deus é para dar vida e quando ela vem do inferno é para matar”, destacou.
Para isso, há uma reunião especial para superar a dependência química com o apoio da Fé: o Tratamento para a Cura dos Vícios ocorre aos domingos, em diversos templos da Universal, e é aberto a todos.