Jovens desanimados após a pandemia
Ações que valorizem o presente e a boa comunicação são essenciais para voltar à normalidade, segundo estudos
Seis em cada dez jovens brasileiros ficaram com o estado emocional abalado pela pandemia de Covid-19, o que gerou ansiedade e desânimo, segundo pesquisa realizada no Brasil pela plataforma Atlas das Juventudes, divulgada recentemente. O levantamento ouviu mais de 16 mil pessoas de 15 a 29 anos e revela que houve sequelas emocionais, mesmo com a pandemia já relativamente controlada. Permaneceram nos jovens, por exemplo, cansaço e exaustão frequentes; medo de perder entes queridos; falta de motivação para atividades do dia a dia ou mesmo as especiais, como viagens; medo de pandemias futuras e das dificuldades financeiras geradas por elas, entre outros fatores; e diagnósticos de depressão e automutilação.
Mais danos
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) atacou a pandemia em duas frentes, pois, além de pesquisar e produzir vacinas contra o novo coronavírus, analisou as implicações psicológicas ocorridas no período. Sem previsão de quando a vida voltaria à normalidade, os jovens (e não só eles) experimentaram insegurança e sofrimento, alguns pela primeira vez de forma tão potente e duradoura, o que foi intensificado pela sensação de privação de liberdade e diminuição das interações presenciais.
Enquanto alguns jovens conseguiram voltar à normalidade – ou ao mais próximo dela –, encarando-a de forma positiva e se sentindo gratos, muitos permaneceram com sequelas psicológicas, das leves às mais graves, como solidão, desesperança, angústia, irritabilidade, tédio, raiva, sensação de abandono, distúrbios do sono, abuso de substâncias psicoativas e agravamento de transtornos mentais preexistentes, segundo a pesquisa da Fiocruz.
Em alguns casos, ficar em casa amplificou a exposição à violência doméstica (física ou psicológica). O sofrimento também foi potencializado para quem já tinha tendência à depressão.
Para os que lamentam o tempo “perdido” em casa durante a fase mais grave da pandemia, o estudo sugere que o distanciamento social seja visto como algo que foi feito para o bem de todos e que se sintam gratos por ter tomado essa medida cidadã, em vez de vê-la como imposição ou sofrimento. Outro ponto importante para quem se sente desanimado é buscar conteúdos e práticas que restabeleçam a confiança em si mesmo – elas podem ser de ordem intelectual, terapêutica ou espiritual, entre outras – e auxiliem a identificar recursos internos para o enfrentamento saudável dos problemas.
Pais e filhos: comunicação
No programa The Love School, da Record TV, os apresentadores Renato e Cristiane Cardoso falaram de como os jovens podem ser ajudados em casa, mas que isso precisa ser feito cortando o mal em sua raiz. “Às vezes, um adulto pensa ‘meu filho precisa de ajuda’, mas é ele que precisa primeiro dela para, só assim, ajudar o filho”, cita Renato.
Cristiane complementa essa tese: “não basta você ser uma pessoa do bem, não fazer mal a ninguém e pensar que só por isso sua família será feliz. Às vezes, um pai não entende o motivo de um filho querer se matar e pensa que ele tem tudo que ele não teve: uma boa educação, uma boa casa’. Mas não basta só você ser uma pessoa boa ou aquilo que dá aos filhos. Você precisa saber lidar com seu filho, que vive em uma época diferente da sua. É importante conhecer o mundo no qual as crianças de hoje vivem, que é bem diferente daquele em que nós vivemos quando pequenos. É importante ser bom e proporcionar o necessário, mas não é suficiente”.
Segundo ela, as crianças de hoje enfrentam perigos e desafios que quase não existiam no passado, como a preocupação excessiva com a aparência ou com “curtidas” nas redes sociais. Por isso, a criação dada aos filhos no passado não funciona mais hoje em dia. “Princípios e valores são atemporais, não mudam, mas a forma de lidar com os problemas que os jovens enfrentam é outra. Se você não está sintonizado com o que acontece a eles, haverá uma grande desconexão entre vocês. Hoje, os filhos são atacados por informações negativas e, por isso, precisam dos pais mais presentes para ajudá-los a interpretar este mundo que muitas vezes eles não conseguem entender”, diz Renato.
Com uma boa conexão, os filhos podem deixar mais claro para os pais do que precisam para, assim, serem ajudados de uma forma mais precisa – mesmo que isso signifique ter de recorrer à ajuda de um profissional em saúde mental.
Como voltar ao cotidiano
Em sua pesquisa, a Fiocruz cita dicas para suavizar o impacto da
pandemia e reconduzir sua vida da melhor forma possível à normalidade:
– Reconhecer e acolher os próprios receios e medos, procurando
pessoas de confiança para conversar;
– Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros, para situar o pensamento no presente);
– Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato presencial
ou virtual com familiares, amigos e colegas;
– Evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas para lidar
com as emoções;
– Praticar exercícios físicos, pois eles ajudam a manter a saúde
e a diminuir o risco de depressão e ansiedade;
– Manter uma alimentação saudável sempre que possível, o que contribui para a manutenção da boa saúde física e mental;
– Variar as atividades quando possível, tirando a ideia de que “todos os dias são iguais”; e
– Buscar um profissional de saúde mental quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para a própria estabilização emocional.