Nesta terça-feira, dia 1º de abril, a Penitenciária Feminina de Sant’Anna, na zona norte da capital paulista, recebeu a escritora Márcia Pires para o lançamento de seu livro “Da Ferida à Cicatriz”.

O evento ocorreu no espaço de ressocialização onde são ministrados cursos da Universal nos Presídios (UNP), no Pavilhão 2. Cerca de 50 reeducandas, incluindo alunas dos cursos de maquiagem, participaram da cerimônia.

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Um momento de reflexão e esperança:

A chegada de Márcia foi marcada por emoção e entusiasmo. As reeducandas a aguardavam cantando em voz alta, criando um ambiente de alegria. Ao iniciar sua fala, Márcia destacou:

• “Quero dizer que é um prazer estar com vocês aqui, é especial. Sei que todas estão aqui por motivos diferentes, mas também sei que todas vão provar da mesma cura que eu tive.”

Com os olhos fechados, todas oraram juntas, atendendo ao pedido da autora, que clamou para que Deus fortalecesse as mulheres presentes.

A trajetória de Márcia Pires: Superação e Inspiração

Durante o evento, Márcia compartilhou sua história de vida, marcada por desafios desde a infância. Criada pelos avós maternos, enfrentou a ausência da mãe, que não exerceu a maternidade. Por isso, na escola, sentia-se diferente das outras crianças, o que lhe causava um profundo sentimento de tristeza.

Na pré-adolescência, viveu um período ainda mais doloroso ao sofrer abuso por parte de um familiar. O trauma gerou um sentimento de culpa e desvalorização, levando-a a aceitar situações abusivas ao longo da vida. “Se você não se vê com valor, aceita qualquer coisa.”

A síndrome do impostor:

Márcia também explicou sobre a síndrome do impostor e como essa condição afeta tantas mulheres.  Ainda compartilhou sua experiência em um relacionamento abusivo que durou mais de cinco anos, período em que foi submetida a agressões verbais e físicas.

Assim, diante das detentas, falou sobre a culpa e a dificuldade de sair de ciclos destrutivos. Inclusive, muitas levantaram a mão quando questionadas sobre sentimentos de culpa, confirmando a necessidade de apoio e acolhimento.

A Libertação pela Fé:

Márcia leu a passagem bíblica de 1 João 3:20:

“Porque se o nosso coração nos condena, Deus é maior do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.”

Em seguida, reforçou que Deus conhece o coração de cada uma e deseja proporcionar uma nova vida. Logo após, em um momento simbólico, todas mentalizaram pedras nas mãos e foram convidadas a “jogar as pedras” no chão, como um gesto de abandono da culpa e renovação espiritual. “Hoje você vai largar essas pedras.”

Ademais, no encerramento do evento foram doados 100 exemplares do livro de Márcia Pires, entregues com a ajuda da própria autora.

O Bispo Marcelo Pires, esposo de Márcia, também falou com as detentas afirmando a importância do amor e do apoio incondicional em sua relação de 33 anos com Márcia.

• “Essa mulher me faz muito feliz. Eu quero que vocês acreditem em si mesmas, pois têm um valor muito grande. Portanto, rejeitem os maus pensamentos.”

Depoimentos:

A detenta L.A.S., de 31 anos, compartilhou sua experiência:

“Eu fui impactada de forma intensa. Me espelhei muito. Pois, eu estava angustiada e não sabia o motivo, e quando ela falou sobre culpa eu entendi. Foi importante porque mudou a minha forma de pensar.”

Posteriormente, o Pastor Sidnei Castelhano, responsável pelo trabalho da UNP no local, também comentou sobre importância de proporcionar às detentas essa oportunidade:

• “Isso foi maravilhoso. Muitas passaram pelo mesmo ou até por situações piores.”
• “Foi algo extraordinário e mostra que é possível tirar as pedras do caminho e ter uma nova vida e um recomeço.”

Conclusão:

Desse modo, o lançamento do livro foi um marco na vida das detentas, promovendo reflexão, cura emocional e esperança para um novo recomeço. Certamente, a história de Márcia Pires é uma fonte de inspiração para aquelas que buscam redenção e reconstrução.