Quinta-feira, 6 de fevereiro, data da retomada das aulas do programa social Ler e Escrever em todo o Brasil, será um dia muito especial para a Andreia de Souza. Aos 47 anos, ela nunca leu, nem escreveu — mas esse quadro vai mudar.

Ela se matriculou na turma do Templo de Salomão e começa a estudar ainda este mês, um início de jornada que deixa a merendeira muito animada e com a cabeça cheia de planos. “Meu sonho é aprender a ler o que está escrito lá no telão, na hora da reunião. E também fazer cursos para ter minha independência na leitura e escrita”, declarou Andreia.

No Templo de Salomão, em São Paulo, os alunos, com idade a partir de 45 anos, terão aulas às quintas e sextas-feiras, em salas que ficam na sede do Calebe, ao lado do Templo. Uma segunda turma deve ser aberta aos sábados, ainda no primeiro semestre do ano. Nos estados, as aulas acontecem em salas cedidas pela Igreja Universal, que mantém a iniciativa. A expectativa é de que 10 mil alunos, em todo o país, sejam alcançados só neste ano.

Vera Lucia de Aquino Gonçalves, de 75 anos, faz parte da equipe de voluntários. “É gratificante ver os alunos interagindo com outras pessoas, criando novas amizades, aumentando a autoestima e a autoconfiança”, destacou a pedagoga.

Há dois tipos de orientação pedagógica no Ler e Escrever: alfabetização inicial e supletivo do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, com cinco disciplinas: português, matemática, ciências, geografia e história.

“Quando nossos alunos aprendem a ler e escrever, eles querem contar para todos tudo o que conquistaram. E, assim, incentivam outros a fazer o mesmo para realizarem seus sonhos e se tornarem independentes”, disse o responsável pelo programa em todo o Brasil, Luiz Antônio Dobroca.

Analfabetismo atinge quase 10 milhões de brasileiros

O Ler e Escrever é uma iniciativa que vai de encontro a um problema que atinge milhões de pessoas no país. Até 2023, segundo o IBGE, havia cerca de 9,3 milhões de analfabetos no Brasil — a grande maioria, 5,2 milhões de pessoas, com 60 anos de idade ou mais. Se consideramos a partir dos 40 anos, o número sobe para 8,3 milhões de analfabetos. Quanto mais velho o grupo populacional, maior é o número de pessoas que não sabem ler e escrever. A condição produz bloqueios e limitações — em especial, para idosos, causando, por exemplo, o comprometimento de tratamentos médicos, por não conseguirem ler as prescrições de medicamentos.

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil para 76 anos, e a previsão desta chegar a 79 anos até 2030, a atenção aos idosos se faz ainda mais essencial.

Impactos positivos da leitura na saúde

De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), a leitura é uma atividade excelente para o envelhecimento saudável e ativo. E os seus benefícios vão muito além do entretenimento: ler ajuda a prevenir doenças como Alzheimer e demência, por desafiar a memória ao acompanhar personagens, cenários, raciocínios e histórias, fortalecendo conexões neurais e combatendo o esquecimento.

Por fim, a leitura também pode reduzir os níveis de estresse, promovendo relaxamento e bem-estar emocional. Ainda segundo a SBGG, histórias e livros ampliam o conhecimento, ajudam a desenvolver a empatia e estimulam a criatividade, conectando a pessoa idosa a novas ideias e experiências.

Ieda Francisca de Jesus, de 59 anos, aprendeu a ler no programa. “Antes, não conseguia resolver minhas coisas, sempre dependia de alguém para me auxiliar na ida ao banco. Hoje, consigo ler e entender todos os mecanismos eletrônicos que o banco oferece e até passar uma mensagem escrita sem usar o áudio”, testemunhou a cuidadora de idosos.

No Brasil, o Ler e Escrever é oferecido em 1,2 mil unidades da Universal espalhadas pelo país. Ao todo, são 1.917 voluntários, entre professores e assistentes. Somente em 2024, 6.634 alunos participaram da iniciativa, que está aberta a todos. Os interessados podem procurar o templo da Universal mais próximo e perguntar pelo Calebe.