Livre-Arbítrio: a capacidade que poucos sabem usar
Deus não interfere no poder de escolha do ser humano, mas Ele também não impede que as consequências cheguem
A vida é feita de escolhas. A frase soa como um clichê, mas carrega uma verdade profunda: nosso presente é resultado de todas as decisões que tomamos ao longo da nossa vida. Apesar disso, muitos ainda não compreendem que têm dentro de si o poder de escolha. Isso, talvez, decorra da crença em um destino predefinido ou porque esperam que, de forma natural, as coisas simplesmente se encaixem. Mas a realidade é outra.
Não escolhemos o lugar onde nascemos, a família à qual pertencemos ou nossas características físicas, como a cor dos nossos olhos e do cabelo, a altura e o peso. No entanto, a partir do momento que desenvolvemos a capacidade de raciocinar, recebemos de Deus algo poderoso: o livre-arbítrio. Durante a infância, ele pode parecer insignificante, mas, à medida que crescemos, ganha peso e começa a moldar o futuro que construímos.
A Bíblia Sagrada nos mostra já em seu primeiro livro –Gênesis – que o ser humano tem dificuldade de lidar com esse poder, mas também que Deus não interfere nas nossas escolhas. Adão e Eva, por exemplo, mesmo vivendo no Paraíso, decidiram deixar a orientação do Criador de lado para ouvir o diabo e provar do fruto da única árvore que não poderiam tocar.
Ao ler essa história é comum questionarmos com indignação: como eles puderam desobedecer a algo tão simples? E, da mesma forma, quantas pessoas seguem fazendo escolhas erradas, apesar de saber que são inadequadas? Não pense que são apenas as grandes escolhas que importam: as pequenas podem causar estragos grandiosos que afetam o que está por vir. E não se engane: apesar do diabo ser mestre em manipulação, ele não tem o poder de obrigar uma pessoa a tomar uma atitude nem pode escolher algo por alguém. É uma opção sua ouvir a sugestão dele ou não.
O que escolheram por você
Embora tenha o livre-arbítrio, em muitas situações o ser humano fica sem opção de escolha, ou seja, ele é apresentado a uma nova realidade em razão de circunstâncias externas, como a perda de um familiar, por exemplo. Apesar de ninguém escolher perder um ente querido, todos estão sujeitos a essa situação. Então, cabe a cada um decidir o que será feito dali em diante. “Você pode, por exemplo, passar o resto da sua vida se lamentando e se vitimizando porque não teve mãe, não teve pai, porque sofreu na infância, porque nasceu em tal lugar ou porque não teve aquela oportunidade ou pode pegar essa mesma história e dizer ‘eu vou fazer diferente e superar tudo isso’. Essa é uma escolha que você faz”, explicou o Bispo Renato Cardoso no programa Inteligência e Fé.
São duas formas diferentes de enxergar a vida, que vão levar a dois resultados também distintos. Enquanto quem se coloca no papel de vítima transfere a responsabilidade para fatores externos e se sente incapaz de transformar a própria realidade, quem assume a responsabilidade por suas escolhas reconhece o poder de criar oportunidades perante uma situação difícil.
Como a maioria das pessoas atua? O Bispo Renato responde: “infelizmente, muitas pessoas, apesar de saberem que têm o poder da escolha, pensam que não podem fazer nada a respeito, que estão fixas na sua forma de ser ou que a única escolha que elas têm é serem amargas em relação a isso, é se fazer de vítima e culpar os outros”.
Não precisa ser assim
Independentemente do estado da sua vida hoje e de todas as escolhas que um dia você fez, é possível mudar. Claro que você não será poupado das consequências dos erros que já cometeu, mas pode ter a chance de plantar certo hoje para colher bons frutos amanhã, como diz a Palavra de Deus: “(…) tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6.7).
O Bispo Renato mostra uma saída: “tem gente que está no fundo do poço e não para de cavar. Saiba que você não está amarrado aos erros que cometeu. Você pode mudar agora. Você não é uma pedra, uma rocha. Você tem um cérebro para pensar, pernas para andar e os mesmos pés que o levaram para o caminho errado podem levá-lo para o caminho certo”.
A parábola do Filho Pródigo, contada pelo Senhor Jesus e descrita em Lucas 15, nos aponta o caminho para a remissão. Ela fala de um filho que pediu a antecipação da sua herança ao pai para viver conforme a sua própria vontade. O pai não o obrigou a ficar, mas o deixou partir. Ele saiu pelo mundo pensando que estava tudo bem, mas a verdade é que desperdiçou tempo e dinheiro, pois suas decisões o afastaram da família e o levaram à miséria. Quando enxergou sua real condição, ele engoliu o orgulho e retornou para casa, onde foi recebido com muito amor pelo pai.
“Talvez você seja um desperdiçador da vida, porque desperdiçou os pais que você teve. (…) talvez os maltratou, os desprezou, os abandonou. Talvez você tenha desperdiçado a ajuda que as pessoas lhe ofereceram e a misericórdia que Deus já lhe ofereceu também tantas vezes”, disse o Bispo Renato.
Mas como colocar um ponto final em um ciclo de erros? A resposta é: sendo humilde para reconhecer que errou e parar de adiar o que precisa ser feito. “Peça perdão a quem você tem que pedir perdão, volte de onde você nunca deveria ter saído, faça o que tem que fazer, reconheça o seu erro e vire a página. Deus dá a você esse poder de escolha, de mudança. O que é que você vai fazer com esse poder que recebeu?”, questionou o Bispo.
Fugindo da aparência do mal
Aqueles que aprenderam desde cedo que toda escolha tem uma consequência e passaram a analisar bem suas decisões podem se considerar privilegiados, pois esse entendimento nem sempre é tão claro, principalmente na fase da juventude. Marcelo Tadeu Sena do Nascimento, (foto abaixo) de 39 anos, não percebeu, mas suas pequenas escolhas na adolescência o levaram à criminalidade. “Por meio de amizades, eu conheci a maconha e, para manter o vício, comecei a roubar e a traficar com aproximadamente 15 anos”, relembra.
Apesar de ter consciência de que isso era errado, naquele momento, Marcelo acreditava que era o melhor caminho para preencher o vazio que carregava. “Eu fiquei 18 anos nessa condição e, à medida que o tempo passava, eu piorava. Eu cheguei a ponto de fumar um quilo de maconha por mês e, depois, conheci a cocaína e o lança-perfume. Eu usava drogas todos os dias na tentativa de encontrar alguma alegria”, diz.
Uma das consequências do vício é a instabilidade. Como o indivíduo fica focado em saciar sua dependência, todas as áreas de sua vida passam a ser deixadas de lado, inclusive a saúde, o trabalho e a família. “Perdi o meu tempo com as drogas e elas levaram o emprego que eu tinha, a minha família, a minha credibilidade e o respeito das pessoas por mim”, conta Marcelo. Para ele, o pior momento foi quando ele foi para a prisão. “Eu via o tempo passar e aquele vazio dentro de mim aumentar. Fiquei oito anos preso e nem isso foi capaz de fazer com que eu mudasse. Pelo contrário, saí pior do que entrei”, reconhece.
Dentro da unidade prisional, Marcelo chegou a conhecer a fé por meio do trabalho social da Universal nos Presídios (UNP). Apesar de não ter levado em consideração na época a oportunidade de mudar de vida, quando se viu em uma situação ameaçadora, foi na Igreja que buscou refúgio. “A polícia estava à minha procura e, para me esconder, fiquei cinco meses indo à Igreja todos os dias. Mas a Palavra de Deus ainda não encontrava espaço dentro de mim, até que, por conta de uma situação com rivais do crime, fui ameaçado de morte”, relembra.
Esse momento foi decisivo para ele, pois foi a partir dali que ele enxergou que suas novas escolhas definiriam o seu futuro. Cansado de viver fugindo, ele decidiu recomeçar. “Eu agarrei a oportunidade que a fé nos oferece de mudar de rumo, me batizei nas águas e passei a buscar o Espírito Santo. Para isso, renunciei às más amizades, à criminalidade e ao que eu acreditava, para lutar pela minha Salvação, porque a minha alma estava em risco”, declara.
O arrependimento sincero levou Marcelo ao batismo com o Espírito Santo. A mudança de mente resultou na alteração de escolhas e, consequentemente, na de resultados. “Fui preenchido, passei a ter paz, cresci profissionalmente e recuperei o respeito da minha família e das pessoas que hoje me veem como um homem de Deus. Já são 14 anos nessa jornada e posso dizer que, quando há obediência à Palavra de Deus, há libertação e transformação”, finaliza.
A vida fora do Altar
Já William Sousa Silva, (foto abaixo) de 30 anos, teve a oportunidade de conhecer a fé na Universal na adolescência e seguir os ensinamentos do Senhor Jesus o protegeu de escolhas erradas durante anos. Porém um problema de saúde o fez abrir espaço para conflitos e dúvidas, o que foi suficiente para afastá-lo de Deus. “Eu estava servindo a Deus como auxiliar de pastor, mas me deixei levar por pensamentos ruins, até que decidi sair da Obra de Deus e, fora dela, não consegui manter a minha fé viva. Deixei, inclusive, de ir à Igreja e de buscar a Deus”, afirma.
Essa decisão de virar as costas para Deus não trouxe uma consequência negativa imediata para a vida dele e, pouco tempo depois, ele já estava trabalhando e se casando com a namorada da adolescência, Francielen Letícia Silva Ribeiro, hoje com 28 anos. “Em 2016, quando a minha filha nasceu, parei definitivamente de ir à Igreja. Eu dava desculpas, como de cansaço, ficava trabalhando até mais tarde ou com as amizades”, admite.
Na prática, ele escolheu abandonar a Deus para viver a vida da forma que desejava e essa escolha custou caro. “Eu saía do trabalho, encontrava os amigos e chegava em casa tarde. Assim, passei a ter problemas no casamento. Não queria mais dar satisfação à minha esposa e levava uma vida de solteiro, o que gerava muitas brigas”. Outra decisão impensada foi trabalhar com eventos, como ele diz: “me envolvi ainda mais com festas, passei a beber e a usar drogas e, então, ela resolveu colocar fim ao nosso casamento”.
Diante desses problemas, Francielen também tentava resolver tudo com a força do braço, mas logo despertou, como conta: “quando entendi que minha luta era espiritual, passei a usar a fé, dei um basta e entreguei a vida dele no Altar. Me batizei de novo e comecei do zero com Deus”. Essa decisão não só a fortaleceu, mas também permitiu que Deus pudesse trabalhar em sua família.
A ficha de William só começou a cair quando ele se viu sozinho. “Eu desenvolvi depressão e ansiedade, não conseguia dormir sem tomar remédio, não tinha vontade de fazer nada e nem conseguia conversar com Deus porque eu tinha consciência de que, por escolha própria, eu levava uma vida errada. Foram seis anos assim, até que um dia fiz uma oração a Deus pedindo ajuda. No mesmo dia, meu cunhado, que é da Universal, me ligou e contei a ele qual era a minha condição”, afirma.
Ele decidiu frequentar as reuniões de novo e praticar o que aprendia. “Deixei de trabalhar com eventos, as drogas, a bebida e as amizades. Isso já trouxe resultados positivos, como a reconciliação com a minha esposa, mas foi só quando realmente tive um encontro com Deus que o meu interior mudou. Passei a me envolver com as coisas de Deus e a meditar na Palavra dEle, até que fui batizado com o Espírito Santo. Hoje posso dizer que a decisão de me entregar foi o que fez a diferença na minha vida. Estou curado e carrego a paz dentro de mim”, conclui.
A escolha está em suas mãos
O livre-arbítrio é uma bênção dada por Deus, mas deve ser usada com responsabilidade. A única forma de fazer escolhas corretamente é estar apegado ao Criador, que é o Único que sabe o que é melhor para cada um de nós e enxerga o futuro que os nossos olhos não alcançam. Estar apegado a Ele é obedecê-Lo e permanecer com os ouvidos espirituais aguçados para ouvir a Sua voz.
O Espírito Santo está pronto para guiá-lo, se você quiser ser guiado por Ele, mas isso depende de uma escolha sua. “Não se esqueça: você tem o poder de fazer escolhas hoje que vão levá-lo para mais próximo de Deus, da vida eterna, ou mais longe dEle”, finalizou o Bispo Renato.
Liberdade desenfreada?
Muitas pessoas querem usufruir da liberdade que têm, mesmo que as suas atitudes sejam contrárias à Vontade de Deus. Contudo querem também que Deus as abençoe e que as proteja. Assim, na hora “H”, quando as consequências de sua liberdade desenfreada sobrevêm, suplicam pela intervenção Divina. Só que é impossível ter as duas coisas: o uso indiscriminado do livre-arbítrio e Deus as protegendo contra si mesmas
A única coisa que limita Deus
Nada limita a ação de Deus no ser humano, exceto o livre-arbítrio dele. Nesse sentido, Deus não impõe a Sua Vontade e espera que ele O busque através do Senhor Jesus, como Ele disse: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Apocalipse 3.20). Da mesma forma, o Espírito dEle fala à consciência da pessoa sobre o seu erro, mas cabe a ela ouvi-Lo ou não