Maconha aumenta em quase três vezes o risco de morrer

O maior estudo já realizado sobre o tema analisou dados de mais de 11 milhões de pessoas. Saiba mais

Imagem de capa - Maconha aumenta em quase três vezes o risco de morrer

Pacientes que recebem atendimento emergencial no hospital e usam maconha correm maior risco de morrer? Pesquisadores canadenses partiram dessa pergunta para realizar um estudo e concluíram que sim. Usuários de maconha apresentam um risco 2,8 vezes maior de óbito do que os pacientes que não usam a droga, quando atendidos na ala de emergência. O estudo foi publicado, em fevereiro, na revista Journal of the American Medical Association (Jama).

Sempre vale lembrar dos detalhes que envolvem a substância. O psicoterapeuta Fernando Vieira Filho explica que a maconha é uma planta cujos compostos ativos, conhecidos como canabinoides, interagem com o sistema endocanabinoide do organismo. “O uso da maconha altera a bioquímica cerebral, especialmente os receptores CB1, localizados no cérebro. O TCH (delta-9-tetrahidrocanabinol), principal composto da planta, estimula a liberação de dopamina no sistema de recompensa, gerando sensações de prazer e relaxamento. Com o uso frequente, o cérebro pode se adaptar, reduzindo a produção natural de dopamina e tornando o indivíduo mais propenso à dependência”, esclarece.

Quais os sinais do vício?

Os efeitos da maconha são vistos a curto, médio e longo prazos e os sinais de dependência são alterações cognitivas, emocionais e fisiológicas. “Entre eles, destacam-se a distorção na percepção do tempo e do espaço, prejuízo na memória e na coordenação motora, além de dificuldades de concentração. Sintomas físicos como olhos avermelhados, boca seca e aumento do apetite também são comuns. Quanto ao aspecto emocional podem surgir episódios de euforia, relaxamento excessivo ou, em alguns casos, confusão mental e desmotivação. O uso contínuo pode levar à tolerância, tornando necessário o consumo de doses maiores para obter os mesmos efeitos, um dos principais indicativos da dependência”, diz Fernando Vieira Filho.

Consequências, às vezes, irreversíveis

Fernando Vieira Filho destaca que a maconha não causa overdose, mas pode levar a transtornos mentais, ataques de pânico e surtos psicóticos, aumentando até o risco de suicídio e, muitas vezes, ela ainda é a porta de entrada para outras drogas mais pesadas e mortais. Ele ainda lista outros riscos associados ao uso da substância: doenças cardiovasculares, com aumento do risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC); câncer, principalmente na região da cabeça e do pescoço; transtornos mentais, com risco elevado de esquizofrenia e psicose; impulsos suicidas; e acidentes, por conta dos comportamentos impulsivos que podem colocar o usuário em situações perigosas.

O estudo canadense sobre a associação entre as hospitalizações, o uso de cannabis e a mortalidade analisou dados de 11,6 milhões de pessoas hospitalizadas entre janeiro de 2006 e dezembro de 2021 e acompanhou os pacientes que vieram a óbito até dezembro de 2022. No levantamento ficou comprovado que o risco de óbito foi aumentado entre os usuários de maconha nos casos de tentativas de suicídio, trauma, envenenamento por opioides e drogas e câncer de pulmão.

O debate da descriminalização

O Canadá foi o primeiro país desenvolvido a legalizar e regulamentar a maconha, em 2018. Aqui no Brasil, em junho de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) descriminalizou, por unanimidade, o porte de 40 gramas de maconha para consumo próprio.

Todavia a Lei Antidrogas (11.343/2006) não foi alterada e penaliza no art. 28 “quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Além disso, ainda segue em tramitação na Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2023, oriunda e aprovada pelo Senado, que prevê a criminalização de posse e porte de todas as drogas, independentemente da quantidade.

Tem como se livrar do vício?

O vício impacta não somente o usuário, mas também as famílias. No Brasil, segundo Relatório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), quase 30 milhões de pessoas têm algum familiar viciado. Mas o vício não precisa ser uma sentença de morte e é possível se livrar dele. “O tratamento envolve informação sobre os efeitos da droga, motivação para a mudança e acompanhamento psicoterapêutico, como terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia motivacional e grupos de apoio. A busca de uma vida espiritual bem fundamentada nas bases do Evangelho e o suporte de amigos e familiares também são fundamentais no tratamento”, orienta Fernando Vieira Filho.

Saiba mais:

Leia as demais matérias dessa e de outras edições da Folha Universal, clicando aqui. Confira também os seus conteúdos no perfil @folhauniversal no Instagram.

Folha Universal, informações para a vida!

imagem do author
Colaborador

Laís Klaiber / Foto: Gettyimagens