Maconha: O uso e o alto prejuízo em seu cérebro

Quer tenha o porte para consumo descriminalizado ou não, a verdade é que a cannabis sativa continua sendo uma droga que vicia e que traz consequências perigosas, principalmente para o cérebro do usuário

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Portar maconha para consumo próprio não é crime. Esse foi o veredito do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do Recurso Extraordinário 635659, proferido em 26 de junho. Desde então, temos a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal com o limite de “40 gramas de cannabis sativa ou seis plantas-fêmeas”. Uma nota técnica da Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul estima que essa quantidade é suficiente para elaborar entre 20 e 80 cigarros (que costuma ter de 0,5 a 1,5 grama). E, apesar da aprovação da descriminalização da droga para uso pessoal, é fundamental lembrar que esse fato não minimiza os efeitos nocivos causados à saúde e à vida do usuário.

Muito pior para alguns
Quando uma pessoa usa maconha, a substância interage com várias áreas do cérebro. Renato Andrade Chaves, neurocirurgião especialista em cérebro e coluna, explica que os efeitos podem variar entre os indivíduos por conta da idade, do sexo, da genética ou da frequência de consumo: “jovens e adolescentes são mais vulneráveis aos efeitos prejudiciais na memória e aprendizagem, enquanto mulheres podem experimentar alterações hormonais que influenciam a resposta à droga. A predisposição genética também pode determinar a intensidade dos efeitos e a propensão ao vício”.

Segundo ele, a cannabis sativa vicia porque ativa o sistema de recompensa do cérebro e por levar à liberação de dopamina (um neurotransmissor relacionado a diferentes funções do organismo). Apesar disso, há uma longa lista de malefícios, como detalha Chaves: “no hipocampo, pode prejudicar a memória e a aprendizagem; no córtex pré-frontal, afeta a tomada de decisões e o controle de impulsos; e, no sistema límbico, influencia o humor e a emoção. Essas interações podem resultar em alterações na percepção, no humor e no comportamento”. Alguns desses danos podem ser irreversíveis, como o prejuízo à memória e à função cognitiva; as alterações estruturais no cérebro, como a redução do volume do hipocampo; além do aumento do risco de desenvolver transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia em indivíduos com predisposição genética.

Do uso ao vício
Entre os sinais do uso podem ser notados os olhos vermelhos, o aumento do apetite, o comportamento relaxado ou eufórico, a falta de coordenação motora e os problemas de memória. “Outros sinais são alterações no humor, como irritabilidade ou paranoia”, cita Chaves.
Já os sintomas de que alguém está viciado incluem o desejo intenso de usar a droga, o aumento da tolerância do organismo (ou seja, ele precisa de um volume cada vez maior da substância para sentir o mesmo efeito), sintomas de abstinência quando não se usa a maconha e a persistência em usar a substância mesmo ciente das consequências negativas para a vida pessoal, social e profissional, além da saúde.

O cérebro do adicto não é a única vítima: “a maconha pode afetar negativamente os pulmões, causar bronquite crônica e problemas respiratórios por conta da inalação da fumaça. O sistema cardiovascular também pode ser impactado, com aumento da frequência cardíaca e risco de problemas cardíacos. A longo prazo, ela pode comprometer o sistema imunológico e reduzir a capacidade do corpo de combater infecções”.

Já para abandonar o vício é fundamental contar com a ajuda de um profissional especializado em dependência química.

É bom observar…
É importante saber que, além de tantos malefícios diretos, a maconha também costuma ser a porta de entrada para outras drogas ilícitas. De acordo com o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, aproximadamente 1,2 milhão de brasileiros de 12 a 65 anos são dependentes de alguma substância ilícita e a número 1 é justamente a maconha. A pergunta que fica é: a melhor opção para garantir o bem-estar dos brasileiros não deveria ser políticas públicas para combater o consumo das drogas, em vez de facilitar o uso?

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Colaborador

Lais Klaiber / Arte e Ilustração: Edi Edson