Medo de cair em golpes já faz parte da rotina do brasileiro
Cada vez mais ousados, criminosos roubam dados, usam informações vazadas e simulam compra e venda de produtos para fazer vítimas pelo País afora. Saiba como se proteger
Mais da metade dos brasileiros tem medo de cair em golpes e não é para menos: estima-se que 36% da população já ficou no prejuízo em razão de alguma fraude, ou seja, quase quatro em cada dez pessoas no País. Os dados são de uma pesquisa do Instituto Real Time Big Data feita com exclusividade para o programa Fala Brasil, da RecordTV, e revelam ainda o perfil das vítimas.
Quando consideradas as regiões do País, a Norte é a que concentra o maior número de pessoas prejudicadas pelas fraudes financeiras, com cerca de 36% da população. Já a Centro-Oeste possui o menor número de pessoas nessa condição, mas não fica com números muito abaixo da primeira e registra 32%. Já com relação à idade das vítimas, a maioria tem mais de 60 anos.
Os números impressionam e indicam a variedade de golpes que são aplicados diariamente. Só para se ter uma ideia, em 2022 foram registrados 1.819.409 estelionatos, o que corresponde a 207 golpes por hora. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um aumento de 326% nesses crimes, quando comparados a 2018, ano anterior à pandemia.
A grande dificuldade para que a proteção dos brasileiros seja efetiva é que tudo pode ser motivo para a criação de um novo golpe, o que significa que a criatividade para prejudicar o próximo parece que nunca tem fim. Restituição do Imposto de Renda, pagamento de impostos, renegociação de dívidas e seleção para emprego, por exemplo, são algumas armadilhas para diferentes modalidades de golpe. Isso sem citar as fraudes envolvendo aplicativos de mensagens, o PIX e a clonagem de cartões.
“Um dos golpes mais aplicados atualmente é o do furto de identidade. O criminoso se passa por outra pessoa para obter vantagens ilícitas. A vítima poderá perder dinheiro e temporariamente crédito ou até ter sua reputação abalada. Pode ser demorado e trabalhoso reverter todos os problemas causados pelo impostor. A melhor forma de impedir que sua identidade seja usada por terceiros é proteger o acesso aos seus dados e às suas contas de usuário”, recomenda Anderson Cruz, advogado pós-graduado em direito empresarial.
Outro golpe que tem crescido, principalmente em datas comemorativas que aquecem o comércio, é o que envolve a compra e a venda de produtos. Neste ano, pelo menos 80 mil pessoas já caíram em um golpe desse tipo, seja porque receberam um falso pagamento de um produto que vendiam, seja pela invasão de uma conta on-line ou por um anúncio falso. “Aplicada em ambiente digital, a prática do golpe na internet (estelionato virtual) tem tomado várias formas, tornando-se um dos principais cibercrimes da atualidade. Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça(STJ) possui o entendimento de que a venda fraudulenta efetuada pela internet caracteriza o crime de fraude; de forma diversa, quando ocorrer uma simples operação de compra e venda com a intenção de fraudar a vítima, o crime que se tipifica é o de estelionato”, detalha Anderson, que lembra que a pena para quem pratica esse ato varia de um a cinco anos e multa.
Principais alvos e erros
São tantos golpes que as pesquisas não conseguem traçar um único perfil de vítimas em potencial. Na prática, qualquer pessoa corre o risco de ser pega em um momento de distração por uma das inúmeras fraudes existentes.
Nos crimes envolvendo falsas transações de compra e venda, os homens são as maiores vítimas (73%), sendo que a maioria (71%) tem até 31 anos.
Já as pessoas com mais de 60 anos costumam ser os principais alvos dos golpes envolvendo tecnologia. “Os alvos destes ataques podem ser tanto usuários comuns, dos quais os criminosos buscam dados de login de contas, bancos, cartões e portais; e até empresas, com o objetivo de realizar transações financeiras. Percebe-se os idosos são mais vulneráveis por terem maior distanciamento da tecnologia, em alguns casos. Destaca-se ainda uma parcela da população que, mesmo não sendo idosa, tem algum nível de dificuldade, ou seja, há falta de habilidade digital”, afirma Anderson.
Com os dados da vítima em mãos, os criminosos podem aplicar uma série de fraudes por meio de uma ligação. “No golpe da antecipação de recursos, por exemplo, o criminoso induz a vítima a fornecer informações confidenciais ou a realizar um pagamento adiantado com a promessa de que receberá um benefício. Pouco depois, a vítima percebe que o benefício não existe, que foi vítima de um golpe e que seus dados e/ou dinheiro ficaram com o golpista”, comenta Anderson, que recomenda: “desconfie de situações em que é necessário efetuar um pagamento antecipado para receber um valor maior. Não se empolgue tão rápido com uma possibilidade de ganhar dinheiro, nem sequer responda a esse tipo de oportunidade. Se acreditar que pode ter algum valor a receber, tome a iniciativa de procurar informações oficiais”. Apesar da diversidade de golpes, as estratégias para atrair as vítimas são semelhantes, envolvem supostas vantagens financeiras e têm o caráter de urgência, ou seja, o criminoso costuma exigir uma ação rápida da vítima, como um depósito.
Como mudar esse quadro?
Algumas dicas para não cair em golpes estão no boxe ao lado, mas a solução envolve também maior atuação das autoridades de segurança na identificação e na punição mais severa de criminosos e a união de empresas do setor financeiro para o compartilhamento de informações sobre contas bancárias envolvidas em fraudes.
Além disso, é necessário reforçar o investimento na educação digital, voltada principalmente a quem tem mais dificuldade com o tema. Isso porque a informação é um dos principais modos de se proteger. Conhecer os golpes que estão em alta e alertar os conhecidos também é uma forma de cuidado.
Vale lembrar que depois de identificar que caiu em um golpe, a recomendação é que a vítima registre um boletim de ocorrência. Em seguida, é importante comunicar as empresas envolvidas, principalmente no caso de bancos, e até trocar senhas. Outro passo importante é avisar amigos e parentes sobre o golpe, pois os criminosos podem tentar entrar em contato com eles para pedir dinheiro. Quanto mais rápido tais medidas forem tomadas, maiores serão as chances da vítima minimizar os danos financeiros.
Check list para driblar os golpistas:
Não passe seus dados pessoais e número do cartão para terceiros
Cuide das informações que são compartilhadas nas redes sociaisEvite usar a mesma senha em sites, e-mails e cadastros
Verifique regularmente suas contas bancárias e a fatura do cartão de crédito
Não faça transferências para terceiros em razão de uma suposta urgência
Faça compras on-line em sites seguros
Atualize o antivírus de aparelhos eletrônicos
Desconfie de qualquer promessa milagrosa, preços muito baixos e informações distorcidas
Fonte: Anderson Cruz, advogado pós-graduado em Direito Empresarial