“Microaposentadoria”: a nova tendência da Geração Z

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Um estudo da J. Walter Thompson Intelligence, divulgado em 2019, apontou que a Geração Z – pessoas nascidas entre 1995 e 2010 – pode ser considerada como supercriativa no que diz respeito ao mundo digital. Feita nos Estados Unidos e na Inglaterra, a pesquisa revela que a geração hiperconectada prefere praticar hobbies como pintar e tocar instrumentos em novos formatos, ou seja, por meio de plataformas on-line e não do modo tradicional. Da mesma forma, os “zoomers” querem inovar no mundo corporativo e, em vez de construírem uma carreira duradoura, preferem trabalhar menos e ter mais tempo livre. A nova tendência – batizada de “microaposentadoria” – consiste em manter o emprego até ter dinheiro suficiente para viajar, viver novas experiências ou apenas se sustentar por um período de descanso.

Adriana Gomes, mestre em psicologia social e do trabalho e coordenadora nacional da área de carreira e mercado da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), destaca que o termo não é de todo adequado: “A aposentadoria se refere a um período em que a pessoa deixa de trabalhar e passa a receber um benefício para manter seu sustento, o que não é o caso. Isso seria, na verdade, uma espécie de carreira intermitente que, para dar certo, precisaria de muito planejamento, de uma boa reserva financeira e da manutenção de um excelente network”. Outras formas de aderir à nova tendência é a participação em projetos pontuais, com data para começar e terminar – sem que haja um vínculo maior entre empregador e empregado – e em funções que possam ser exercidas remotamente, de qualquer lugar do mundo, garantindo liberdade geográfica.

Por um lado, a ideia parece fazer sentido, uma vez que a diminuição da taxa de natalidade (que impacta diretamente a base da pirâmide da previdência) e o rombo do INSS (de R$ 297 bilhões somente em 2024) podem levar a previdência social brasileira à ruína. Sendo assim, boa parte dessa geração jamais se aposentaria.

Mas, por outro, alguns fatores não estão sendo colocados nessa equação. Um deles é que, apesar de ser ótimo aos 20 ou 30 anos trabalhar só nos projetos que quiser e pelo tempo que desejar, ver-se obrigado a trabalhar aos 60 ou 70 anos não é nada bom. E, visto que a expectativa de vida dos brasileiros tende a aumentar, esses jovens preocupados em descansar hoje provavelmente não poderão fazê-lo no futuro. Outra questão é a falta de comprometimento que, nesse caso, afetaria não só a carreira de quem opta por esse estilo de vida, mas também a empresa e seus clientes. Afinal, qual seria o nível de envolvimento de alguém que está trabalhando apenas pelo tempo necessário para poder deixar de trabalhar?

Para Adriana, a Geração Z prioriza seus próprios objetivos e não tem muito interesse pelo todo. “Precisamos levar em conta que as rotinas são estruturantes do cérebro e, ao serem fracionadas, fazem as pessoas perderem o ritmo. Não é à toa que a agenda dos executivos de alta performance é de domingo a domingo. Todas as suas atividades, de alguma maneira, envolvem o trabalho. Jantares, festas e até viagens incluem compromissos profissionais. Essa rotina permanente faz com que esses executivos sejam pessoas altamente produtivas e, ao mesmo tempo, desfrutem de atividades de lazer”, explica.

Ela também faz uma diferenciação entre o período sabático e a microaposentadoria: “Enquanto o ano sabático tinha um propósito geralmente ligado à própria carreira, como fazer um curso, um intercâmbio, escrever um livro ou ter tempo para realizar um projeto específico, essa nova tendência tem objetivos pessoais sem qualquer crescimento profissional. Esse jovem terá de recomeçar cada vez que se recolocar no mercado de trabalho e isso pode fazer com que sua remuneração não seja suficiente para se manter enquanto trabalha e ainda juntar uma reserva financeira que lhe permita ficar mais um período sem qualquer fonte de renda”.

O assunto é bastante recente e ainda não sabemos quais serão os impactos no futuro, porém é certo que as empresas, além de todos os desafios que têm de enfrentar em um país que as trata como vilãs, terão de se reinventar para atrair colaboradores comprometidos não apenas com o trabalho, mas com seu próprio futuro.

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Colaborador

Patrícia Lages, jornalista / Foto: molenira/getty images