Mídia pode influenciar jovens sobre questão de gênero?

Especialistas explicam o assunto

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Na última semana, o Blog do Paulo Sampaio publicou uma entrevista com o psiquiatra Alexandre Saadeh, que falou sobre questões de gênero. De acordo com o médico, o fenômeno midiático da identidade de gênero pode sim influenciar os jovens.

“Na medida em que a mídia divulga a existência de pessoas trans e isso se populariza, muitos transexuais podem sair da invisibilidade. E isso é importante. Mas o fenômeno também atrai pessoas confusas e instáveis que se enquadram nesse novo paradigma como forma de extravasar sua dificuldade em pertencer a um grupo já existente ou para ser uma ‘celebridade midiática’ de pouco tempo”, afirmou o Saadeh.

“Acredito que o aumento do debate e a divulgação do assunto favoreceu, especialmente entre adolescentes sugestionáveis, uma maior adesão às variações de gênero como fenômeno midiático. Muitos adolescentes e adultos jovens, para fugir de um enquadramento social padrão, buscam novos enquadramentos, considerados mais modernos e plurais, para se encaixar. Mas acabam se colocando em novas ‘caixas’.”

Saadeh é coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (AMTIGOS – USP). Assim, ele estuda e atende diariamente casos de questões de gênero.

Para Saadeh, “muita gente tenta fazer das diferenças identitárias uma bandeira política ou de engajamento social. Se, por um lado, isso divulga a existência de pessoas transexuais, por outro pode tornar a questão banal e fazer dela uma moda, gerando confusão”.

O papel da mídia

Na contramão da orientação de especialistas como Alexandre Saadeh, grande parte da mídia segue abordando irresponsavelmente questões de gênero.

Exemplos disso são os desenhos animados que levam às crianças discussões para as quais elas não estão prontas. Superproduções coloridas e com monstrinhos fofos abordam a identidade de gênero. Mas de maneira que não ensinam as crianças, mas sim as tornam confusas.

– Clique aqui para saber quais desenhos animados têm abordado essas questões em seus episódios.

Além disso, músicas, filmes e telenovelas têm como público-alvo os adolescentes. Mas abordam o assunto sem a profundidade necessária, de maneira vaga e maléfica.

“Questões delicadas, como a discussão sobre gênero, veiculadas de maneira leviana prejudicam muito a formação do adolescente e podem, por exemplo, gerar conflitos psicossociais e de personalidade”, afirma a psicóloga Elaine Balbino, especialista em análise de comportamento, em entrevista ao Portal Universal.org.

Já o professor de História e Mestre em Filosofia pela USP, André Assi Barreto, acredita que esse tipo de abordagem de questões de gênero é ofensivo para as crianças. Isso “porque levanta uma discussão da qual elas não estão prontas para fazer parte. Isso porque o repertório cognitivo delas ainda não é adequado para aprender a discutir questões de gênero. Além disso, empurrar esse assunto goela abaixo pode levá-las a um problema. Talvez muita gente não saiba disso. Mas esse fato de uma pessoa ter um sexo e atribuir a si própria outro gênero, que não corresponde ao seu sexo, era considerado uma doença até pouco tempo atrás. Era a chamada disforia de gênero”.

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Colaborador

Redação / Imagem: iStock