Mortes por causa de um jogo: O que o fanatismo pelo futebol esconde
Novos óbitos deixam evidente que a paixão extrapola os limites da razão
O último sábado (30/01) foi um dia de muita festa para os palmeirenses com a vitória do verdão, por 1 a 0, na final da Libertadores. Mas, apesar da alegria que gerou muita comemoração, o saldo dessa conquista foi negativo e triste para alguns torcedores. Em São Paulo, Leonardo Souza Ceschini, de 34 anos, foi preso em flagrante após esfaquear e matar a esposa, Érica Fernandes Ceschini, durante uma discussão motivada por conta do título conquistado pelo Palmeiras.
A polícia militar foi acionada por vizinhos e, quando chegou ao local, encontrou a mulher caída no chão da cozinha. Ela foi atendida, mas não resistiu aos ferimentos. “O motivo de tudo foi desavenças devido a cada um ser torcedor de um time de futebol diferente, observando a final da Taça Libertadores da América: ela palmeirense, ele corintiano”, descreve o boletim de ocorrência. O caso foi registrado como homicídio qualificado pelo 33º DP de Pirituba.
Outro confronto envolveu as torcidas organizadas dos dois times que protagonizaram cenas de terror em São Paulo, no último sábado. Em uma briga no bairro do Sacomã, na zona sul, um corintiano acabou morto a tiros, e outro ficou ferido.
Torcida ou fanatismo?
Até quando vamos ter de conviver com violência no futebol? Infelizmente, esses não são casos isolados. A morte deles e de tantos outros torcedores nos últimos anos são apenas a ponta do iceberg. Elas revelam as consequências mais cruéis e radicais do fanatismo e reacendem o debate sobre o limite entre ser torcedor e ser um maníaco que ataca pessoas que não torcem para o mesmo time.
Para aqueles mais fanáticos, o jogo não acaba no término da partida e a rivalidade dentro de campo se torna justificativa equivocada para atitudes violentas. Nas ruas, é comum ver torcedores provocando outros, o metrô precisa fazer esquema especial em dia de jogo para evitar que torcidas rivais se cruzem, ônibus são escoltados pela polícia, jogadores também se estranham dentro de campo. Assim, as brigas e agressões são reflexos de um “torcedor” que “torce” de forma emocional, e nada inteligente.
Ele contempla seu objeto de admiração, nesse caso o clube, de forma egoísta e possessiva. Segundo especialistas, quem age assim, busca, muitas vezes de forma inconsciente, fugir de suas realidades de vida, preencher um vazio interior e uma baixa autoestima, a ponto de projetar seus anseios e desejos em um time.
Já conheci pessoas que romperam relações por conta do time do coração, que brigaram com familiares amados, com os cônjuges, entre outros exemplos.
Encontrando o equilíbrio
O fanatismo não está apenas no futebol. Ele está presente nas relações humanas e pode acontecer nas mais diversas situações. E, como vimos, quem idolatra algo ou alguém é capaz, até mesmo, de tirar e dar a própria vida pelo que adora.
Não há nenhum lucro nisso tudo. O fanatismo é um péssimo negócio, até mesmo quando se trata de esporte.
Porque, na ausência do uso do raciocínio, toda a energia da pessoa é colocada nos sentimentos e, nesse cenário, uma coisa é certa: o fanático não raciocina, é guiado pelo que sente. E você sabe que quando agimos pelo que sentimos, vivemos refém das nossas emoções.
É claro que torcer por um time não é errado, pelo contrário, é uma forma de entretenimento. Mas, é preciso tomar cuidado para que esse tipo de torcida não fuja do controle. No caso do futebol, se o time ganha, o torcedor sente alegria, mas, se perde, sente tristeza, raiva e agressividade. E está aí a raiz para tantos males e desgraças: o coração.
Dessa forma, o fanatismo cega. E não apenas a um esporte, pode ser a uma religião, um partido, uma pessoa, um cantor, uma banda, um youtuber etc.
Enquanto houver pessoas assim, os objetos de atenção continuarão enriquecendo e os fanáticos, se perdendo.
Pense comigo: fanatismo é idolatria. Será que esse tipo de veneração e suas consequências valem a pena?