Mulheres transexuais no esporte
Até que ponto o sexo biológico interfere nos resultados das competições com mulheres? Entenda
A presença de atletas transexuais nas categorias femininas de diversos esportes é pauta não só em noticiários, mas em debates científicos e políticos. Isso para que nas competições se considere o sexo biológico dos competidores, o que influencia nos resultados das disputas.
No início de dezembro de 2021, por exemplo, a atleta transexual Lia Thomas, de 22 anos, quebrou recordes na natação norte-americana. A nadadora universitária participou do Zippy Invitational in Akron pela Universidade da Pensilvânia e venceu as provas com ampla vantagem em relação às adversárias. Ela foi 38 segundos mais rápida do que a segunda nadadora na prova mais longa.
Mas antes de entrar na categoria feminina, Lia competiu três anos entre os homens, quando ainda se chamava Will Thomas. Ela só começou a competir com mulheres quando se declarou transexual.
Justiça
A ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel (imagem abaixo) comentou, na época, sobre o desempenho de Lia em programa da Jovem Pan. Ela considera desleal a inclusão de atletas transexuais em esportes femininos, já que biologicamente são mais fortes. “É inacreditável isso. E o pior é o silêncio das pessoas que dizem que protegem o sexo feminino. Esse tipo de inclusão que tentam tanto empurrar significa a exclusão de mulheres. Homens biológicos a genética não muda”, falou.
Ela acrescentou que considera importante respeitar a maneira como cada pessoa se identifica socialmente, mas que essa atitude no esporte prejudica as garotas, tirando oportunidades dentro das universidades nos Estados Unidos.
“O pilar mais importante do esporte é o genético e isso é imutável. Não tem como competir com um corpo masculino, mesmo se a aparência estiver feminina. Meninas estão perdendo bolsas em universidades para meninos biológicos e esse silêncio é o que mais me incomoda, essa falsa inclusão e essa falsa proteção às mulheres. As mulheres são colocadas em uma turba da espiral do silêncio porque senão essa turma violenta, turma LGBTQIA+, acaba cancelando/linchando as pessoas”, concluiu.
O que diz a ciência
O segundo debate sobre o tema realizado pela Comissão de Esporte, em Brasília, em junho de 2019, na Câmara dos Deputados reuniu cientistas que se posicionaram contrários à diretriz do Comitê Olímpico Internacional (COI) que recomendou às federações, de várias modalidades, que levem em conta o nível de testosterona dos atletas para definir quem pode competir com quem.
“Há evidências significativas na capacidade muscular, na capacidade de transporte de oxigênio, no padrão de quadril ginecoide ou androide. Há diferenças entre pessoas cis e trans. Então, precisamos entender muito bem de Biologia, ciência que não é exata, mas é uma ciência rica, para que possamos endossar ou mesmo contestar a participação de qualquer pessoa nos esportes”, disse a mestre em Saúde Coletiva, Alícia Kruger.
Enfrentamento político
O deputado estadual Altair Moraes (Republicanos-SP), na imagem ao lado, defende as mulheres no esporte e, assim, que se considere o sexo biológico nas competições. Inclusive, ele é autor do primeiro Projeto de Lei que estabelece o sexo de nascimento como único critério definidor de gênero nas competições: o PL 346/2019.
“A discussão aqui não é trans nos esportes, mas o fato de as mulheres perderem o lugar que demoraram anos para conquistar. Eu quero deixar claro e objetivo que se trata de uma questão de justiça. Estamos falando de esporte de alto rendimento, onde a mínima disparidade faz diferença”, destacou o parlamentar durante a mesma audiência pública em 2019.
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