O estupro está no nosso meio
Caso de coronel acusado de estuprar uma criança de 2 anos indica que a violência sexual pode estar muito próxima de nós. Denuncie e ajude a acabar com os 527 mil estupros que ocorrem todos os anos no País
Em 10 de setembro, mais uma notícia de violência sexual ganhou as páginas dos noticiários no Brasil. Desta vez, a vítima foi uma criança. O coronel reformado da Polícia Militar Pedro Chavarry Duarte, de 62 anos, foi preso em flagrante sob acusação de estupro de vulnerável e corrupção, após denúncia anônima. Ele foi flagrado em um carro com uma menina de 2 anos, nua, no bairro de Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ). A informação foi divulgada pela Agência Brasil e pelos jornais Extra e
O Estado de S. Paulo.
Para tentar encerrar a ocorrência, o coronel ofereceu vantagens aos policiais militares que o encontraram. Um deles filmou a tentativa de suborno. O acusado foi encaminhado ao Batalhão Especial Prisional da PM, em Niterói, onde permanecia preso até o fechamento desta edição. O crime de estupro de vulnerável tem pena de até 15 anos de prisão, enquanto a corrupção ativa pode render 12 anos de reclusão. Antes de ser preso, Chavarry presidia a Caixa Beneficente da Polícia Militar do Rio de Janeiro. O site da instituição diz que ele é um homem influente e “católico praticante”.
O caso ainda está sob investigação e, por enquanto, não é possível afirmar se Chavarry é culpado ou inocente. Uma mulher de 23 anos acusada de entregar a criança ao coronel foi presa no dia 13. Na década de 1990, Chavarry chegou a ser preso por suspeita de tráfico de bebês, mas não foi condenado.
Estupro de crianças
Das 527 mil vítimas de estupros cometidos por ano no Brasil, 70% são crianças e adolescentes, segundo uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo, feito com informações de 2011 do Ministério da Saúde, indica que só 10% dos casos chegam ao conhecimento da polícia. Cerca de 24% dos agressores de crianças são os próprios pais ou padrastos e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima.
Violência em todo lugar
O número assustador de estupros no País comprova que o caso da menina de 2 anos encontrada no carro do coronel não é isolado. Em maio deste ano, o tema voltou a ser debatido na sociedade brasileira após o estupro coletivo de uma adolescente no Rio. Mas o fato é que a violência sexual ainda não recebe a atenção necessária e muitas vezes passa despercebida.
Fotos contra o estupro
Os crimes sexuais não ocorrem só no Brasil. Nos Estados Unidos, são registrados 293 mil novos casos de estupro por ano, segundo o governo. Quatro em cada dez vítimas têm menos de 18 anos.
Para chamar atenção para o tema, a estudante norte-americana Yana Mazurkevich, de 22 anos, criou uma campanha que mostra fotos de situações de abuso sexual. As imagens indicam que o estupro pode acontecer em qualquer lugar, a qualquer momento e contra qualquer pessoa, não importa a idade, o sexo ou a cor da pele. Cada foto traz a frase It happens (Isto acontece). As imagens mostram cenas de violência em festas, no trabalho, na rua, na escola e em casa.
A campanha feita por Yana foi inspirada na revolta pela libertação de Brock Turner, de 21 anos, ex-
aluno da Universidade de Stanford, depois de apenas três meses preso por cometer violência sexual. Ele foi detido em janeiro de 2015, acusado de ter estuprado uma mulher que estava inconsciente. Em março deste ano, Turner foi condenado, mas recebeu uma pena branda de seis meses e só cumpriu a metade.
É problema seu
Para combater o estupro, o Brasil precisa lidar com a chamada “cultura do estupro”. Segundo a ONU Mulheres, esse termo refere-se ao hábito que a sociedade tem de culpar as vítimas de violência sexual e à crença de que o comportamento sexual violento dos homens é normal. Na prática, isso significa que os brasileiros ainda acreditam que a mulher é culpada quando apanha do companheiro ou quando é estuprada. Outros acham normal as cantadas de rua. Essa cultura também valoriza a transformação da mulher em objeto sexual em propagandas de televisão, revistas e internet.
Denuncie
A punição de crimes sexuais depende de cada brasileiro e cada brasileira. Por isso, se você viu uma mulher apanhando, denuncie. Se você presenciou uma agressão verbal ou uma cantada na rua, denuncie. Se você viu uma colega de trabalho sofrer assédio sexual, denuncie. Se o seu companheiro a obrigou a fazer sexo, denuncie. As denúncias podem ser feitas de forma anônima no telefone gratuito 180, no telefone da polícia militar 190 ou em uma delegacia mais próxima. Outra opção é ligar para o Disque 100. O estupro é um problema de todos nós.