O impacto do álcool na adolescência

Cresce o número de menores de idade que consomem bebidas alcoólicas. Por estarem em fase de desenvolvimento, eles sentem os efeitos do consumo rapidamente. Entenda como agir

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A notícia é alarmante: os adolescentes estão conhecendo os efeitos do álcool cada vez mais cedo. De acordo com uma pesquisa realizada em 2015 pela Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), com apoio dos ministérios da Saúde e da Educação, está aumentando o número de adolescentes que consomem bebidas alcoólicas no País.

Conforme o estudo, 55% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental já haviam consumido doses de álcool alguma vez na vida. Desse total, 21,4% já sofreram algum episódio de embriaguez. Entre os Estados que contabilizaram o maior número de estudantes nessa situação estão Rio Grande do Sul, com 68%; e Amapá, com 43,8%. O levantamento analisou cerca de 102 mil questionários de jovens de escolas públicas e privadas na faixa etária entre 13 e 15 anos.

Para a educadora Anna Clara Souto, o fato de o álcool ser de fácil acesso e ser uma droga legalizada potencializa o consumo. “No Brasil, é proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, mas a fiscalização é quase inexistente. Sendo assim, os jovens bebem facilmente e em qualquer lugar”, comenta.

Ela ressalta que beber atualmente já está fazendo parte do dia a dia dos adolescentes porque a maioria dos brasileiros consome álcool em excesso. Estudos indicam que 20% das pessoas no Brasil consomem todo tipo de bebida alcoólica que é produzida no mundo e que cada brasileiro bebe cinco ou mais doses em um curto espaço de tempo. Esse hábito acaba trazendo consequências perigosas que temos visto atualmente, como dirigir embriagado e se envolver em brigas, por exemplo. “Os jovens se espelham naquilo que eles veem os outros fazerem, principalmente os adultos, e bebem mesmo sem o conhecimento dos pais. ”

Durante as férias escolares e as festas de final de ano, os adolescentes estão ainda mais suscetíveis ao consumo. “Eles saem mais vezes de casa e, quase sempre, querem fazer coisas que não lembrem em nada as responsabilidades que tiveram no ano”, destaca a educadora.

Atraídos pela bebida

As razões que levam o adolescente a consumir bebidas alcoólicas são diversas. Entre elas está a busca pela aceitação social. O álcool libera dopamina, um neurotransmissor que aumenta a sensação de prazer. Dessa forma, faz com que o jovem, ao tomá-lo, se sinta desinibido. “É comum vermos em festas de formatura, por exemplo, os estudantes beberem sem limites, mesmo os mais tímidos, para se sentirem soltos e extravasarem os sentimentos”, enfatiza a psicóloga Márcia Calvo Soares.

Outros motivos que levam o adolescente a se envolver com álcool são depressão, bullying, influência de amizades, problemas na estrutura familiar e até a sua vulnerabilidade. “Às vezes, o adolescente acompanha outro em uma festa e, por ter vergonha de falar que não bebe, se deixa levar e acaba bebendo. Por isso, o adolescente precisa se posicionar diante do que realmente pensa e não fazer algo apenas para atender ao outro”, recomenda a psicóloga.

Todos esses motivos levaram a auxiliar administrativo Caroline da Silva Sousa (foto acima), de 23 anos, a se envolver com o álcool. Aos 15 anos, ao ver os amigos bebendo nas festas, desinibidos e alegres, passou a fazer o mesmo. “Eu queria ficar longe dos problemas de casa, dos meus pais e também não me achava bonita. Vi que se bebesse esqueceria de tudo.”

Então, ela começou a beber frequentemente. “Eu ia aos bailes funk e bebia a noite toda. Tomava tequila, uísque, vodca, de tudo. Comecei a beber até pra ir trabalhar”, conta.

O consumo do álcool lhe trouxe consequências sérias, como o fato de se envolver com traficantes. Além disso, vivia depressiva, gastava todo o dinheiro do trabalho em festas e brigava constantemente com seus pais. “Se eles falassem alguma coisa, eu quase batia neles.”

Ela se recorda de situações em que bebeu excessivamente a ponto de tomar atitudes impensáveis. “Um dia, meus amigos estavam virando o copo e eu disse: ‘vocês são fracos porque eu viro a garrafa toda’. Fiz isso e perdi os sentidos, acordei na casa de um rapaz, sem saber o que havia acontecido. Estava suja, sem dinheiro, sozinha”, narra.

Naquele dia, Caroline havia chegado ao extremo. Ao chegar em casa e ver sua família desesperada para obter notícias dela, ela decidiu que queria parar de sair e de consumir álcool. No entanto, sozinha sabia que não seria possível. “Ali foi meu fundo do poço, me senti um lixo. Então, procurei ajuda na Universal. Logo, eu já estava mudada e nunca mais quis ter contato com o álcool”, comemora.

Os efeitos

O álcool é considerado perigoso para o adolescente por inúmeros motivos. Estudos indicam que ele pode causar sérios danos à saúde, como ocasionar problemas gástricos, hepáticos e cardiovasculares.

Ele também pode comprometer, em curto prazo, o rendimento intelectual desses adolescentes em fase escolar. Estudos indicam que ele afeta o desenvolvimento da zona frontal do cérebro, atrapalha os níveis de atenção e de memorização e causa falta de coordenação motora e diminuição dos reflexos.

O psiquiatra Adolfo Cleres Maia explica que a exposição precoce do cérebro às substâncias psicoativas, como o álcool, leva o órgão a ter danos cognitivos. “O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central. Um estudo recente afirma que ele até diminui a massa cinzenta do cérebro. Como o adolescente ainda está em fase de desenvolvimento, as suas conexões neurológicas vão sendo interrompidas”, declara.

Além disso, para que o adolescente se sinta mais tolerante aos efeitos do álcool, ele precisa beber cada vez mais. No início, ele bebe porque se sente eufórico com a bebida. O cérebro registra esse efeito para que ele queira a segunda dose. Só que, com o passar do tempo, ele começa a notar o real efeito do álcool, que é o anestésico. “Um adolescente de 12 anos que começa a beber tem mais chances de se tornar dependente antes de chegar aos 18 anos”, afirma o psiquiatra.

Foi o que aconteceu com Ícaro Mota de Morais (foto ao lado), de 24 anos, que começou a ter contato com o álcool aos 11 anos. “No início bebia em festas, baladas, mas depois passou a ser todo dia, em casa. Consumia uma caixa de cerveja sozinho.”

Com o passar do tempo, apenas a cerveja não mais o satisfazia. Começou a beber vodca frequentemente. “Cheguei um dia cansado em casa e não tinha sono. Experimentei a vodca e dormi. Então, toda noite, em casa, por não sentir sono, enchia o copo e tomava”, descreve.

Apesar da bebida preencher suas noites, o jovem acordava triste e vazio. Por causa das ressacas, perdia dias de trabalho. “Quando vinha o dia seguinte, eu sentia tristeza e solidão”, aponta.

Aos 14 anos, Ícaro saiu da casa dos pais e foi morar com uma mulher de 32 anos. Nessa época, já estava dependente do álcool e sofrendo com os efeitos desse vício. “Eu passava sempre dos limites, queria arrumar briga e quase me envolvia em acidentes”, relembra.

Então, aos 18 anos, ele resolveu que era muito jovem para ter uma vida destruída. Conheceu o trabalho do Força Jovem Universal e outros adolescentes que também passavam por problemas e buscou em Deus a força de que precisava para abandonar o vício. Hoje, ele é totalmente livre do álcool e um jovem feliz.

O papel da família

A psicóloga Márcia Calvo destaca que muitos pais evitam falar sobre o assunto, pensando que vão minimizar o contato do adolescente com a bebida. Mas estão enganados. “Quando há conversa com o adolescente,
ele não se sente propenso a ir buscar fora de casa outras situações para resolver problemas, tampouco fica vulnerável quando lhe sugerem uma dose”, argumenta.

Ela afirma que, diante da oferta de bebidas alcoólicas, o vínculo afetivo entre pais e filhos pode ser determinante para facilitar ou não o envolvimento do adolescente com o álcool. “A cultura do consumo começa em casa quando não há vinculação afetiva entre os membros. Contudo, quando existe afeto, eles ficarão mais facilmente longe do álcool”, considera.

A operadora de telemarketing Maria Luzia Gonçalves de Souza, de 48 anos, apostou no vínculo afetivo para conseguir fazer com que sua filha Jennifer, de 16 anos, abandonasse o comportamento negativo decorrente do
uso do álcool.

Aos 10 anos, a menina passou a experimentar bebidas alcoólicas escondido dos pais. “Eu notei que ela não me obedecia, passou a ter problemas na escola e vivia estressada. Era muito rebelde”, relata Maria Luzia.

Jennifer consumia diversos tipos de bebida para ser igual aos seus colegas. “Eu consumia nas festas, na escola, na casa das amigas. Queria conhecer o mundo e perdi o interesse para ir à igreja com a minha mãe.”

Quando chegava em casa, a menina respondia com grosserias à sua mãe. No entanto, Maria Luzia, em vez de brigar, mostrava seu afeto. “Percebi que, quanto mais eu queria brigar com minha mãe, mais ela fazia gestos de carinho e me abraçava”, afirma a adolescente.

A mãe tentava orientá-la, mas, como a menina era arredia, optava pela aproximação de uma forma diferente. “Eu dava conselhos, mas ela não me ouvia. Então, quando ela vinha brigar comigo, eu evitava discussão”, ressalta.

Aos 12 anos, após uma tentativa de suicídio, Jennifer percebeu que seu comportamento estava lhe fazendo muito mal. Começou a ouvir os conselhos da mãe e passou a acompanhá-la na Universal. Parou de sair de casa, de consumir bebidas alcoólicas e de ser rebelde. O relacionamento em casa mudou: “Hoje eu a vejo como minha amiga para todas as horas e sei que posso contar com ela e também com o meu pai”, diz a adolescente.

O comportamento da mãe foi essencial para essa mudança. “Ela foi se transformando conforme foi vendo o meu exemplo de comportamento com ela”, salienta Maria Luzia.

O bispo Claudio Lana, que ministra palestras no Tratamento Definitivo para a Cura dos Vicios, na Universal, explica que os jovens têm dificuldades para receber orientações dos pais porque pensam que não estão envolvidos com algo proibido.

“O que torna difícil aos jovens darem ouvidos aos conselhos é o fato de eles terem a sensação de que não estão fazendo nada de errado, que estão só se divertindo e que poderão parar quando quiser. Alia-se isso a influência das amizades e da mídia e temos aí um jovem que não consegue enxergar sua real condição”, enfatiza.

Ele recomenda que os pais que possuem filhos dependentes do álcool procurem ajuda mesmo que o adolescente não queira. “A família, principalmente a mãe, sofre tanto quanto o viciado e até mais. Enquanto ele fica a madrugada na rua, sob o efeito do álcool e outras substâncias, os pais passam a madrugada em agonia. Todavia, eles não precisam mais esperar o familiar pedir ajuda. Eles mesmo podem buscá-la no Tratamento Definitivo para a Cura dos Vícios”, indica.

O bispo esclarece que durante o tratamento as pessoas aprendem a eliminar a dependência. “O vício é uma obsessão e sua dependência é espiritual. O maior dano está na mente do viciado e naquilo em que ele se transforma, pois essa dependência e essa obsessão que dominam sua mente fazem com que ele tenha uma mudança de comportamento drástica. Então, não é o corpo que precisa de tratamento e sim o espírito, a mente”, explica.

Para mais informações, acesse viciotemcura.com.br.

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Colaborador

Por Janaina Medeiros / Fotos: Fotolia, Demetrio Koch, Arquivo Pessoal e Mídia FJU / Arte: Edi Edson