O perigo de ter vídeo viralizado por adolescentes nas redes sociais

Caso do meme “Já acabou, Jéssica?” reacende a discussão sobre o risco da exposição de menores de idade na internet

“Passei a me cortar cada vez mais fundo e em mais lugares”, contou Lara da Silva, que passou a se automutilar após ter vídeo viralizado nas redes sociais, apenas com doze anos de idade.

O meme “Já acabou, Jéssica”? fez muita gente rir, mas para Lara, foi o início de muito sofrimento. O caso aconteceu há quase seis anos quando o vídeo de uma briga entre duas adolescentes repercutiu nas redes sociais, tornando a frase conhecida e repetida por muitos até hoje. “É uma coisa que eu ainda não aceitei totalmente. Se eu parar pra pensar demais nisso, me faz mal”, disse Lara, garota que protagonizou o vídeo, à BBC News Brasil.

Hoje com 18 anos, ela ainda conta que o episódio a fez abandonar a escola, entrar em depressão e a se cortar. “Depois da primeira vez, virou um vício”, relatou durante a entrevista, destacando que ainda não superou o ocorrido.

Marcas para vida toda

No mês passado, quando repercutiu o caso de suicídio do jovem de 16 anos, filho da cantora Walkyria Santos, a mãe da Lara da Silva, Deusiana, associou as semelhanças do ocorrido aos impactos sofridos pela filha após a ter vídeo viralizado nas redes sociais. “As pessoas não veem o mal que fazem para as outras (na internet), elas não têm noção disso enquanto não acontece na casa delas”, destacou.

ja acabou jessicaApesar de não se mutilar mais, a jovem relatou que continua em tratamento para depressão e as marcas físicas e psicológicas permanecem. “Quando publico alguma foto, muitos comentam: já acabou, Jéssica? Por isso eu fecho os comentários. Eu tenho marcas que não mudaram em nada a minha vida. Só tenho marca”, desabafou.

Apoio e orientação

Contudo, segundo o líder da Força Teen Universal (FTU), Pastor Walber Barboza, nessa idade o adolescente não tem estrutura emocional para lidar com as críticas. Ao mesmo tempo que estão passando por adaptações e mudanças físicas. “A superexposição nas redes sociais traz muitos danos. Quando se publica algo, há milhões de pessoas que vão criticar, o que gera no adolescente muita insegurança e ansiedade. Se antes ele estava preocupado em agradar aos pais e à família, hoje tem que agradar a milhões de pessoas e também lidar com as críticas delas”, enfatizou.

A jovem Kamille Rodrigues, hoje com 23 anos, também tinha o vício de se cortar, provocados por problemas em sua vida amorosa e familiar que lhe traziam angústia, levando-a até a tentar o suicídio. “Meu ex-marido chegou a ter de esconder todas as facas da casa para eu não me matar”, contou ela, que teve a vida restaurada após aceitar o convite da mãe de ir à Universal.

“Hoje em dia o que mais se vê são relatos de jovens com depressão, que se automutilam, que tentam o suicídio e, como prova viva, sei que isso não é o fim”, ressaltou.

Para ajudar os adolescentes entre 11 e 14 anos a lidar com essas situações e diversas outras, existe o grupo Força Teen Universal, que promove atividades esportivas, artísticas, culturais e momentos em família para ajudar no desenvolvimento pessoal do adolescente. Clique aqui e conheça mais detalhes sobre o grupo.

imagem do author
Colaborador

Isabel Tavares / Foto: iStock e Arquivo Pessoal cedido a BBC News Brasil