O remédio que você precisa
A medicina avançou muito, mas a atividade física, somada ao sono adequado e à alimentação equilibrada, é a melhor receita para manter a saúde
A medicina evoluiu muito nas últimas décadas e grande parte das doenças mais comuns conta com pelo menos um tipo de tratamento medicamentoso. A rotina intensa impulsiona o ser humano a buscar soluções rápidas para seus problemas e dores, como recorrer aos comprimidos. Mas poucos tentam entender por que uma enfermidade se instalou em seu corpo e quais mudanças comportamentais podem ser eficazes para melhorar o funcionamento do organismo.
Exercícios físicos, sono de qualidade e alimentação equilibrada. Esses três hábitos simples e de baixo custo são capazes de transformar a saúde de uma pessoa, pois oferecem ao organismo aquilo que ele mais precisa: nutrientes, repouso adequado e movimentos para seu fortalecimento. Mas por que é tão difícil sair da estaca zero e investir no autocuidado?
Segundo um estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início deste ano, cerca de 1,8 bilhão de adultos em todo o mundo estavam sedentários ou não atingiram os níveis ideais de atividade física em 2022. O número equivale a 31% da população mundial e é preocupante porque revela o percentual de pessoas com maior risco de desenvolver doenças relacionadas à inatividade, entre elas diabetes tipo 2, demência, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer.
Aeróbico e fortalecimento muscular
Apesar da atividade física ser recomendada para todas as faixas etárias, o relatório da OMS destaca que os idosos são os mais sedentários. Talvez a dificuldade inicial para concluir uma série de exercícios desestimule as pessoas com mais de 60 anos, mas esse pensamento deve ser alterado. Isso porque a prática de exercícios tem como principal característica a evolução. Quanto mais uma pessoa se dedica a determinada atividade, melhor ela fica com o passar do tempo e colhe os benefícios no seu dia a dia.
“À medida que o indivíduo faz uma atividade física regular, ele melhora a circulação sanguínea e isso aumenta o colesterol bom, o que defende o corpo do colesterol ruim e, consequentemente, impede a formação de placas de gordura que entopem artérias do coração, do cérebro e das pernas”, diz o cardiologista e médico do esporte Giulio Cesare.
Os resultados são vistos de várias formas, inclusive com a melhoria da mobilidade. Carregar uma sacola, caminhar, subir escada, sentar-se em uma cadeira parecem ações corriqueiras, mas o envelhecimento, somado ao sedentarismo, pode torná-las muito difíceis, em razão da falta de flexibilidade ou mesmo de força nos músculos e nos ossos. Independentemente da condição, é possível
revertê-la e o remédio não são as pílulas, mas, sim, uma dose diária de atividade física.
Além dos exercícios aeróbicos, as pesquisas chamam a atenção para a importância de fortalecer os músculos com o levantamento de peso. Um estudo americano publicado no British Journal of Sports Medicine acompanhou 150 mil pessoas entre 60 e 70 anos de idade e concluiu que aqueles que faziam os 150 minutos de atividades por semana recomendados pela OMS viveram mais do que os que não os faziam. E os que associaram exercícios aeróbicos com fortalecimento muscular tiveram resultados ainda melhores, com redução de 47% do risco de morrer por qualquer causa, exceto câncer, no decorrer dos nove anos seguintes.
Vale destacar que o levantamento de peso não se restringe apenas à musculação, mas também está relacionado a flexões e abdominais com o próprio peso do corpo, pilates e exercícios de resistência com elástico. Apesar de ser uma recomendação para pessoas de todas as idades, os idosos precisam reforçar esses cuidados, pois, com o envelhecimento, aumentam as chances de sarcopenia, que é a perda de massa magra e força muscular, condição que afeta diretamente a qualidade de vida.
Corpo e mente fortes
A prática esportiva também beneficia o cérebro. Uma pesquisa que reuniu cientistas de várias partes do mundo confirmou que caminhada, corrida, ioga, treinamento de força e dança são as atividades mais eficazes contra os sintomas da depressão. “O movimento estimula a liberação de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, responsáveis pelo bem-estar”, explica Cesare. Outros estudos também apontaram a eficiência das atividades no combate ao transtorno de ansiedade e à demência.
Pesquisadores dos Departamentos de Fisiologia e Psicobiologia da Unifesp e do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP (IQ-USP) realizaram experimentos envolvendo camundongos e descobriram que os exercícios de resistência são uma estratégia cada vez mais eficaz para evitar ou atrasar o surgimento dos sintomas do Alzheimer, principal tipo de demência que ao longo do tempo impacta a memória, a fala e a mobilidade.
Siga as recomendações
Para que a prática de atividade física seja ainda mais segura é importante que os exames estejam em dia. Além disso, a recomendação é começar de forma leve e aumentar gradualmente a intensidade até que o organismo se adapte. “Todas as atividades merecem essa avaliação, mas, dependendo da atividade física, ela pode ser mais simples ou mais complexa. Uma criança, por exemplo, pode passar apenas por uma avaliação clínica e por alguns exames mais simples, como eletrocardiograma, e o mesmo vale para uma pessoa com mais de 40 anos interessada em pilates. Agora, se for uma atividade intensa, de alto rendimento, competitiva e o paciente tem mais de 30 anos, já precisa ser algo mais elaborado, como ecocardiograma. Tudo vai depender do tipo de atividade física e do histórico de cada um”, conclui Cesare.
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