O vai e vem da estética
O que pode estar por trás da alta procura por cirurgias plásticas e das reversões delas? O Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza procedimentos estéticos
A busca por procedimentos estéticos é recorrente entre famosos e anônimos em todo o mundo e o Brasil ocupa posição de destaque. Em 2020, o País ficou em segundo lugar entre os países que mais realizaram cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos: nosso país registrou 1,3 milhão de procedimentos cirúrgicos, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps). O que mais chama a atenção é que as plásticas faciais foram os únicos procedimentos que cresceram no Brasil naquele ano, passando de 451.546 em 2019 para 483.800 em 2020.
Para muitas pessoas, a crise com a própria imagem surgiu ou foi agravada justamente durante o período pandêmico, quando as reuniões por vídeo em aplicativos como o Zoom se tornaram comuns. Assim, além de visualizar o rosto dos colegas de trabalho, os participantes passaram a enxergar os seus próprios na tela, analisando, muitas vezes por horas, pequenas imperfeições. O chamado “efeito zoom” tem incentivado cirurgias plásticas e procedimentos estéticos no rosto. Além das reuniões virtuais, a busca pelo aperfeiçoamento da face é reflexo do uso de redes sociais, selfies e filtros, que passam a falsa sensação de que é possível ter uma aparência perfeita.
Ainda de acordo com a Isaps, os brasileiros valorizam cada vez mais os procedimentos estéticos que não demandam cirurgias, os chamados procedimentos não cirúrgicos injetáveis. Só em 2020, mais de 600 mil foram feitos no Brasil, como a aplicação de toxina botulínica, conhecida como botox, e de ácido hialurônico.
Arrependimento
Um fato curioso é que, embora a procura por procedimentos e cirurgias estéticas, seja grande, o número dos que buscam reverter as intervenções realizadas, a exemplo de centenas de famosos nacionais e internacionais, também é grande. Além do arrependimento, há outras razões para algumas celebridades voltarem à mesa de cirurgia, como o resultado insatisfatório e o fato de não se reconhecerem depois do procedimento. Entre as reversões mais comuns estão o explante de próteses de silicone, a reversão de harmonização facial e a retirada de preenchimento labial.
Mas, afinal, o que está por trás dessa insatisfação com a aparência? Será que ela esconde uma busca mais profunda do ser humano? A psicoterapeuta Eliana Barbosa afirma que hoje em dia é raro encontrar pessoas que se aceitam como são, com suas qualidades e naturais imperfeições. “Algumas, vítimas de transtornos ligados à autoimagem, como a dismorfobia, se entregam a procedimentos estéticos radicais na vã tentativa de corrigirem defeitos que só elas mesmas percebem”, alerta.
Ela ainda aponta que as redes sociais têm exercido um papel cruel, pois possibilitam que seus usuários, principalmente os influenciadores digitais, mostrem apenas a aparência, escondendo sua verdadeira essência. “Nesse processo, com a ajuda de recursos técnicos, como os filtros, essas pessoas passam a imagem de que têm peles perfeitas e corpos esculturais, levando seus seguidores a uma eterna insatisfação e infelicidade com a própria aparência”, diz.
Eliana acredita que essa insatisfação reflete um vazio interior e uma falta de propósito na vida. “É preciso deixar claro que a felicidade independe de sua condição física. Ela está vinculada ao seu estado emocional. Isso quer dizer que, antes de se preocupar com a beleza do corpo, você precisa tratar de sua alma e de suas emoções. Se você é uma pessoa insegura, não tem confiança em seu potencial e em sua beleza interior, de nada adiantará ficar com um corpo escultural ou uma pele lisa, sem rugas. Sempre restará um vazio em você”, assegura.
Eliana ressalta que pessoas que sofrem com insatisfação exagerada em relação à aparência física devem buscar apoio profissional para tratar da baixa autoestima e outras questões que levam à crença de que só serão aceitas se seguirem os padrões estéticos que são exibidos nas telas. “E, diariamente, faça este exercício que o ajudará a resgatar e a alimentar sua autoestima e sua autovalorização: diante de um espelho, converse carinhosamente consigo mesmo, elogie-se, incentive-se, acaricie-se, sorria para essa pessoa tão única e especial chamada você”, finaliza.
O MELHOR INVESTIMENTO
Em seu mais recente livro, intitulado Segredos e Mistérios da Alma, o Bispo Edir Macedo destaca que, apesar do corpo ser apreciado e até mesmo cultuado por muitos, poucos têm dado a devida atenção ao que mantém o corpo vivo: a alma. “Por mais belo e saudável que um corpo seja, em determinado momento sua fragilidade humilhará o seu dono, que sentirá o peso de suas limitações físicas. É, portanto, um alto privilégio ter o cuidado da parte de Deus em dar para a nossa alma não somente um corpo neste mundo, mas, sobretudo, um corpo celestial no porvir”, escreve.
De acordo com o Bispo Macedo, tratar a alma é o maior investimento que uma pessoa pode fazer em prol de sua saúde: “quando investimos na parte espiritual, o corpo encontra a sua realização e o fim para o qual foi criado: ser o templo do Espírito Santo, a morada do Deus Vivo”.
Procedimentos mais realizados em 2020:
Total: em todo o mundo, foram registrados 10.129.528 procedimentos cirúrgicos e 14.400.347 não cirúrgicos
– Cirúrgicos: aumento das mamas (16%), lipoaspiração (15,1%), cirurgia das pálpebras (12,1%), rinoplastia (8,4%) e abdominoplastia (7,6%)
– Não cirúrgicos: aplicação de toxina botulínica (43,2% do total), de ácido hialurônico (28,1%), remoção de pelos (12,8%), redução não cirúrgica de gordura (3,9%) e fotorrejuvenescimento (3,6%)
Homens e mulheres: foram as mulheres que mais buscaram procedimentos cirúrgicos (86,3%) e não cirúgicos (85,7%). As cirurgias que elas mais fizeram foram de aumento de mamas, lipoaspiração, das pálpebras, abdominoplastia e rinoplastia
Entre os homens, as cirurgias mais comuns foram das pálpebras, lipoaspiração, ginecomastia, rinoplastia e otoplastia
Fonte: Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps)