Olimpíada da "gambiarra"

Imprensa estrangeira evidencia má qualidade da Vila Olímpica e faz críticas ao despreparo do País

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Antes mesmo de os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro começarem, a polêmica sobre a fraca estrutura local para o evento ganhou manchetes em vários países. Alguns atletas declararam que não participariam com medo do surto de doenças como dengue, zika e chikungunya. Outros mal chegaram e foram assaltados.

Quando as grandes delegações desembarcaram na cidade, a surpresa foi outra: inúmeros problemas nos alojamentos da Vila Olímpica fizeram com que equipes inteiras procurassem hotéis e condomínios particulares, como fizeram os australianos, os norte-americanos e os suecos. Diante dos problemas, alguns quiseram ficar bem longe do complexo erguido na Barra da Tijuca.

Entre os problemas da Vila Olímpica que viraram notícia em diversos continentes estavam fiações expostas, infiltrações, sanitários mal instalados, sujeira e entulhos que não foram recolhidos. Não apenas isso: quartos considerados “espartanos” para os padrões internacionais (como considerou a imprensa alemã), com camas fracas e armários de plástico. Em várias torres do complexo, objetos foram simplesmente roubados, como lâmpadas, roupas de cama, espelhos, condicionadores de ar, assentos sanitários e armários de banheiro.

Outras delegações, como a do Reino Unido e a da Nova Zelândia, consideraram as instalações inseguras e inacabadas. O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung chegou a chamar a obra de “controversa”, pois o altíssimo valor pago à construtora Odebrecht, envolvida em escândalos recentes de corrupção, não condiz com a péssima qualidade do material apresentado. Segundo o diário germânico, o Comitê Olímpico contratou uma empresa de reparos que vem realizando “adaptações”, uma prática infelizmente comum no Brasil: a popular “gambiarra”. Isso não é bem-visto pelas delegações estrangeiras, que temem pela segurança de suas equipes.

Dentro e fora das provas

Como se não bastassem os problemas da Vila Olímpica, outro assunto também teve destaque nos jornais estrangeiros: o lamentável estado da Baía de Guanabara, onde muitas competições serão realizadas.

Dirigentes de algumas equipes de esportes aquáticos aconselharam seus atletas a não abrirem a boca durante as provas, por conta da grande quantidade de poluentes orgânicos e inorgânicos.

O médico brasileiro Daniel Becker disse ao jornal The New York Times (NYT) que os atletas “literalmente nadarão em excremento humano”, enquanto especialistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) informaram ao periódico que as águas em praias frequentadas tanto por atletas quanto por turistas estão repletas de retrovírus e superbactérias até mesmo fatais.

O Comitê Olímpico Internacional, entretanto, alegou ao NYT que as áreas em que os atletas competirão, como a praia de Copacabana, estão de acordo com os padrões de limpeza recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Realidade exposta

A capacidade de o Estado do Rio de Janeiro – que passa pela pior crise financeira e política de sua história – receber um evento de tal magnitude já vem sendo questionada há muito tempo pela imprensa nacional e estrangeira.

Agora, com o início dos Jogos, o mundo poderá ver o resultado de práticas que nós brasileiros, infelizmente, acompanhamos com frequência: os efeitos da corrupção, do pouco caso, da falta de compromisso e da má qualidade de vida dos cidadãos. Algo como “varrer a sujeira para debaixo do tapete”.

Visitantes de outros países verão o que se esconde por trás daquela antiga e falsa imagem de paraíso tropical perfumado e tolerante, tão vendida para atrair turistas de todos os cantos. É uma contradição imaginar que um país com tantos conflitos queira sediar um evento tão especial. De certa forma, é bom que o mundo inteiro veja em que o Rio de Janeiro se transformou após tanta negligência administrativa.

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Colaborador

Por Marcelo Rangel / Fotos: Reprodução