Ômicron, Carnaval e a hipocrisia de cada dia
Mesmo diante da ameaça de nova variante, prefeituras de SP e do RJ mantêm realização da festa
A nova variação do coronavírus, chamada de Ômicron, já foi detectada em ao menos 17 países. Destes, a maioria fica na Europa, que já enfrentava grandes dificuldades em razão da quarta onda da doença. Além das nações que confirmaram a nova cepa, outras, incluindo o Brasil, estudam casos suspeitos.
Diante de tal cenário, países que buscam evitar uma incidência maior de contaminação estão fechando suas fronteiras; enquanto isso, aqui no nosso país, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, a previsão para a realização da festa de Carnaval continua.
Conforme noticiado pelo R7, a Prefeitura de São Paulo divulgou no sábado (27) os primeiros 440 blocos de rua aprovados para desfilar no Carnaval de 2022. Em paralelo, a Liga Independente das Escolas de Samba lançou um manifesto pela realização dos desfiles do sambódromo.
Ao que tudo indica, a Prefeitura do Rio de Janeiro está convicta de que os cariocas terão Réveillon neste ano e também a festa de Carnaval em 2022. Em recente entrevista à Jovem Pan, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, declarou que não existe possibilidade de a cidade cancelar ou postergar as festas e que, nesse momento, não há nenhuma razão para cancelamento ou adiamento.
Novas discussões sobre a realização de eventos de grande porte devem acontecer à medida que a Ômicron, infelizmente, avança. Pouco ainda se sabe sobre essa variante, apenas que ela carrega uma grande quantidade de mutações. Tudo o mais está sendo analisado.
Diante disso, é prudente esperar uma escalada de casos de Covid-19 para definir a realização de eventos de grande porte?
O mesmo erro?
A resposta mais prudente, tendo em vista tudo o que vivenciamos nos últimos dois anos, seria ter cautela. “Por mim, não teria Carnaval. Mas tem um detalhe, quem decide não sou eu. Segundo o STF, quem decide são os governadores e prefeitos”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro.
Você deve se lembrar do Carnaval de 2020, quando, na véspera do início da folia, o Brasil tinha um caso suspeito de Covid-19. Naquele momento, o vírus já estava presente em 26 países, mas as autoridades decidiram correr o risco.
Até hoje não me conformo que, mesmo com o novo coronavírus se espalhando por todo o território, o Carnaval não tenha sido cancelado. Não foram poucos os especialistas que afirmaram que um dos motivos apontados para a explosão no número de casos foi a realização dessa festa, que todos os anos atrai milhões de pessoas do mundo inteiro.
Por mais que um possível cancelamento tenha algum efeito econômico, nada se compara a ter que fechar todo o comércio e fazer as pessoas “ficarem em casa” sem poder trabalhar.
“Depois, não venham acusar o presidente. Deixaram as crianças sem aulas, as pessoas sem emprego e agora querem liberar o Carnaval no Brasil? Mesmo depois da cepa sul-africana. Palhaçada é isso”, publicou o ministro Fábio Faria, das Comunicações.
O mais prudente seria, antes de incentivar a aglomeração com pessoas de vários países, esperar as conclusões da ciência a respeito da Ômicron. Caso contrário, seguir adiante com esses eventos será uma grande irresponsabilidade que poderá trazer efeitos devastadores e só comprovará que a preocupação dessas autoridades nunca foram as vidas, mas sim os benefícios políticos e ideológicos que a pandemia poderia trazer para elas.