Os figurinos da novela Jesus
Em entrevista exclusiva, o figurinista Severo Luzardo, responsável pelo vestuário da trama, fala dos desafios de compor peças de época
Quem acompanha as novelas bíblicas da Record TV tem visto figurinos que representam fielmente a época vivida nas tramas. O exemplo recente é a novela Jesus, que conta com um quadro de 150 profissionais entre figurinistas, bordadeiras, aderecistas e uma equipe de tingimento e envelhecimento de peças.
Em entrevista exclusiva à Folha Universal, o figurinista responsável pela novela, Severo Luzardo (foto acima), falou dos desafios de fazer figurinos para tramas de determinadas fases da história: “claro que fazer uma novela contemporânea é muito mais fácil, pois trabalhamos com a moda atual e encontramos facilmente as peças em um shopping ou nas confecções, escolhemos o que é mais bacana e que combina com cada personagem. Já no caso de uma trama como Jesus é preciso fazer um estudo mais profundo, pesquisar que tipo de tecido teria naquela região em que a história está sendo contada, por causa do fator climático, e isso demanda mais dedicação para produzi-las”, explica ele, que já trabalhou em A Terra Prometida e O Rico e Lázaro, entre outras produções.
Severo ressalta que geralmente os tecidos daquela época eram feitos em teares e também há um pouco de dificuldade para encontrar o pigmento correto para os tingimentos nos dias atuais. E que, para conseguir chegar no vestuário mais perfeito possível, a equipe estuda a fundo os pigmentos naturais e mais próximos daquela realidade para usá-los nas roupas.
Contudo, além dos tecidos e das cores, é preciso saber os costumes da época para compor o vestuário. “É necessário saber como aquela sociedade se comportava, pois isso será retratado no vestuário. Por exemplo, saber o tipo de vestes usadas, se eram curtas ou longas, como o couro era usado e estar atento a cada detalhe.”
Figurinos mais complicados
Questionado sobre quais personagens geram mais desafios na hora de montar os figurinos, Severo comenta que são os guerreiros, por conta da armadura. “O processo de confecção da armadura é muito difícil, já que temos de fazer uma reprodução fiel e usar couro legítimo. Primeiro se faz o molde do corpo do ator, depois se modela o couro em cima do corpo e depois modelamos os metais. E isso tudo tem que dar conforto para o ator se movimentar e subir no cavalo. Até ajustar tudo dá muito trabalho. Em média, levamos 60 dias entre os ajustes e a moldagem dessas armaduras, o que é uma dificuldade. Além dos guerreiros, os protagonistas também são desafiadores, pois temos que deixá-los com vivência da época e doçura ao mesmo tempo”. Um exemplo é o centurião Petronius, personagem vivido pelo ator Fernando Pavão.
O figurinista explica que 95% das peças usadas na novela são produzidas no Brasil. Os sapatos e as joias são desenhados pela equipe da Record TV e produzidos por algumas empresas de outros Estados. Já no caso das armaduras tudo é feito no Rio de Janeiro, como os bordados.
“As bases de todos os teares são feitas no Sul do País e moldamos aqui. Muitas tecelagens adequam os tecidos industriais à nossa necessidade. Trabalhamos muito com o Ceará porque de lá vem um produto feito à mão. Já para o elenco do palácio, buscamos os tecidos do Marrocos, pois temos um limite nas tecelagens, então temos muitas coisas trazidas de fora.”
Até agora já foram usados mais de 12 mil figurinos. E, para armazenar todo esse vestuário, o complexo de gravação conta com um guarda-roupa gigante. Nele ficam separados os figurinos do elenco feminino, do masculino e para as participações. Além das vestes do pessoal da figuração de Cafarnaum, Exército 1 e 2, leprosos, dançarinos, todas essas segmentações são separadas por nomes.
As vestes de Jesus
Quanto às vestes de Jesus, papel interpretado pelo ator Dudu Azevedo, Severo conta que “para produzir as roupas de Jesus são utilizados muitos teares manuais. A roupa é feita com fio de seda e algodão.” Segundo o figurinista, apesar de as roupas parecerem simples para quem as vê na TV, na verdade são tecidos especiais, que permitem chegar a uma textura pesada e ao mesmo tempo leve para a época. Severo tem 42 anos de profissão e já recebeu 50 prêmios internacionais, mas afirma que eles significam que o trabalho foi feito com amor. “A nossa profissão é uma entrega e o figurino é apenas um instrumento. Ele nunca pode superar o ator”, finaliza.