Para manter o cérebro afiado

Aprender algo novo faz com que a pessoa interessada se torne mais interessante, ganhe confiança, reduza o estresse, se redescubra e, de quebra, melhore sua saúde mental

Imagem de capa - Para manter o cérebro afiado

Não importa qual seja a sua idade, se você quiser estimular a criatividade, exercitar o cérebro, melhorar a saúde mental ou se manter atualizado e até se tornar mais interessante, precisará lidar com novos aprendizados. Até nossa natureza age a favor disso: nosso cérebro continua a produzir novos neurônios pelo menos até os 97 anos, como mostra um estudo da Universidade de Madri, na Espanha.

No entanto a maioria das novas células cerebrais não sobrevive. “A morte de tantas células novas parece um tremendo desperdício de energia e nos faz perguntar qual é o significado funcional dos novos neurônios. Por que eles seriam produzidos para morrer semanas depois? O que acontece com os que não morrem e como mais podem ser encorajados a sobreviver?”, questiona o artigo Use-o ou Perca-o: Como a Neurogênese Mantém o Cérebro Apto para o Aprendizado, publicado no portal do jornal Pesquisa Comportamental do Cérebro. Nele, felizmente, os autores apontam uma boa notícia: muitos dos novos neurônios “podem ser resgatados da morte pelo aprendizado”.

Na pesquisa O que Mantém você Afiado, que reuniu mais de 3 mil respostas de pessoas com idades entre 40 e mais de 90 anos, 71% dos entrevistados apontaram que ter um propósito na vida ocupa o ranking das atividades que consideram melhores para a habilidade de pensamento e 67% deles afirmaram que é o fato de desafiar a mente com jogos, quebra-cabeças ou outras atividades.

O pesquisador Alan Gow, da Universidade Heriot-Watt, da Escócia, que liderou a pesquisa citada anteriormente, afirma, na publicação intitulada Quando se Trata de Manter nossos Cérebros Jovens, Precisamos Enfrentar Novos Desafios, que “em vez de jogar o mesmo jogo repetitivo, uma possibilidade melhor para impulsionar a saúde do cérebro é fazer algo novo e mais desafiador, como aprender algo novo, conhecer pessoas ou se envolver em novas experiências.” Para ele, “o ingrediente-chave é o novo aprendizado e isso pode continuar a aumentar conforme sua expertise cresce. (…) Certamente vale a pena ficar um pouco mais ativo e se desafiar um pouco, mas também há muito a ser dito sobre escolher essa nova atividade de acordo com o que nos faz felizes, seja aprender russo, seja dançar tango ou o que for”.

Já um artigo da revista Harvard Business Review, escrito pelo pesquisador David Mayer em coautoria com Chen Zhang e Eun Bit Hwang, sugere algo interessante: enquanto as formas pelas quais as pessoas tentam lidar com o estresse se resumem a “se esforçar e seguir em frente” ou “recuar”, o estresse pode ser amenizado de forma mais eficaz ao focar no aprendizado. “Isso pode significar adquirir uma nova habilidade, reunir novas informações ou buscar desafios intelectuais”, destacam os autores, que defendem que “abraçar a aprendizagem pode ser uma maneira mais ativa de se proteger dos efeitos negativos do estresse”.

BONS MOTIVOS
A pedagoga Lívia Carvalho, do Colégio Arnaldo, de Belo Horizonte, disse à Folha Universal que “focar em algo que você gosta pode ajudar a desviar a mente das preocupações diárias e proporcionar uma sensação de realização e relaxamento. Aprender é um processo de construção e reconstrução constante do conhecimento que envolve experiência, autonomia, reflexão, diálogo, construção coletiva, criatividade e abertura ao novo. Aprender nos ajuda a nos adaptar, a desenvolver habilidades, a melhorar a saúde mental e física; a aumentar a capacidade de memória e também nos ajuda no crescimento pessoal e profissional e até a melhorar a qualidade de vida”, declara.

Ela menciona que o aprendizado pode ser entendido como “uma conexão física que acontece no cérebro” e que “o exercício da aquisição de conhecimento pode mudá-lo completamente”. Contudo, para que seja algo efetivo, é necessário fixar o que foi aprendido na memória de longo prazo. “Por isso, é importante praticar, revisar e aplicar o que foi estudado”, diz Lívia. Adquirir novos aprendizados é, sim, algo natural em qualquer idade, como ela acrescenta: “aprender faz bem para a saúde cerebral em qualquer fase da vida e pode ser um importante agente de transformação”.

DÁ PARA COMEÇAR AGORA
Para que o processo seja prazeroso, é importante que se encontre motivação, ou seja, que a pessoa esteja interessada naquilo que vai estudar ou aprender. Além disso, vale pensar em “como o conhecimento adquirido pode ser aplicado na vida e entender qual é a técnica de estudo mais adequada para você. Esse conjunto faz com que a gente escolha melhor o que pode ser aprendido”, garante.

Há quem credite à correria do dia a dia a falta de tempo para aprender algo novo quando, na verdade, isso pode ser feito todos os dias de forma simples: escovar os dentes esporadicamente com a mão direita, quando se for canhoto e vice-versa, por exemplo, não deixa de refrescar o cérebro com uma nova informação, treinar os ouvidos com um novo idioma, experimentando o desconforto inicial de aprender algo diferente, também.

Então, aprender algo novo pode ser iniciado exatamente agora. Que tal buscar cursos na sua cidade, participar de grupos ou compartilhar tempo de qualidade com um familiar que pode ensinar algo, como fazer um artesanato ou aprender a tocar um instrumento musical?

PARA NÃO PARAR DE APRENDER

Seja curioso e lembre-se daquela criança questionadora que ia para a escola – deixe-a acesa. Estabeleça metas de aprendizado, mantenha uma mentalidade de crescimento, experimente coisas novas, saia de sua zona de conforto e pratique o aprendizado de forma contínua

Fonte: Lívia Carvalho, pedagoga

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Colaborador

Flávia Francellino / Fotos: shironosov\gettymages, AleksandarNakic\gettymages