Para o Presidente do Republicanos, Lula não terá base sólida na Câmara nos quatro anos de seu mandato
Acompanhe a entrevista concedida pelo deputado Marcos Pereira ao jornal O Estado de S.Paulo
Em entrevista ao Jornal O Estado de S. Paulo, o Presidente do Republicanos e Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, deputado federal Marcos Pereira, afirma que o governo Lula não terá uma base aliada sólida na Câmara nos quatros anos de seu mandato.
Para o deputado, trocas no comando de ministérios, bem como a liberação de emendas e cargos costumam deixar os deputados mais amistosos em relação ao governo, mas não resolvem o problema da articulação política.
Acompanhe a entrevista completa, realizada pelos jornalistas Giordanna Neves e Iander Porcella:
Por que acha que o governo não terá base nos quatro anos?
- Veja os números. Dilma Rousseff teve 137 votos contra o impeachment, no caso a favor dela. Depois, nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, a esquerda e a oposição a esses dois governos eram na casa de 130 a 140 votos. Vamos pegar como exemplo o PDL (projeto de decreto legislativo) do Saneamento Básico. O governo teve contra a urgência 137 votos e contra o mérito 136 votos. Essa é a base do governo. Não passa disso. Mesmo o MDB e o PSD tendo três ministérios, vai depender da pauta.
Republicanos na base do governo e solução de crises:
O senhor já disse várias vezes que não há a possibilidade de o Republicanos ser base do governo. Por que descartar com tanta convicção? Absolutamente nada pode mudar isso?
- Nós não vamos ter nenhum ministério porque não nos interessa fazer parte do governo, porque nós temos um partido que desde a sua “refundação” se identifica como um partido de centro-direita, com pauta econômica liberal. Então, não tem como ser base de um governo que não tem uma pauta econômica liberal. Para além disso, eu tenho o governador de São Paulo (Tarcísio de Freitas), que é um governador de centro-direita. Eu tenho uma bancada no Senado mais à direita. De 42 deputados, com muito esforço, no máximo 15 querem ser governo.
Para o senhor, qual a solução para as repetidas crises de governabilidade que vemos no sistema atual?
- Não existe mais presidencialismo de coalizão como quando Lula foi presidente (de 2003 a 2010). A relação do governo com o Parlamento mudou. Ela mudou no governo Michel Temer, em que houve uma proximidade maior do presidente e do governo como um todo com o Parlamento. Depois vem o Bolsonaro com a questão das emendas de relator (orçamento secreto). Hoje, um deputado tem R$ 32 milhões em emendas impositivas, que o governo só tem de pagar, no momento que o governo avalia, mas tem de pagar. Então o parlamentar está menos dependente do Executivo. É isso que o governo precisa entender, por isso tem de negociar pauta a pauta.
Troca Ministério do Turismo e saída de Tarcísio do Republicanos:
A atenção agora também está voltada para a troca do Ministério do Turismo. Isso pode trazer algum tipo de melhora na relação e construção da base?
- O governo tem o direito de fazer as mudanças que ele quer, mas eu acho que ele erra ao fazer isso, não vai resolver o problema também do União Brasil. Não posso falar do União Brasil, mas, pelos deputados que conheço, pode até melhorar a relação do partido com o governo, mas não vai resolver.
O senhor teme que Tarcísio deixe o Republicanos e migre para o PL?
- De jeito nenhum. Porque quando ele não era governador e havia esforço e pedido do então presidente (Bolsonaro) para que ele fosse para PL, ele não foi. Por que agora, já no cargo, ele iria? Para além disso, ele já me deu a palavra pessoalmente, por telefone, escrito, dezenas de vezes, que não sai (do partido).
Sobre candidatura a presidência da câmara:
Seu nome é apontado nos bastidores como possível sucessor de Lira na presidência da Câmara. O senhor será candidato? Isso atrapalha o diálogo com Lira e o bloco dele?
- Arthur (Lira) deu uma entrevista e disse que quem colocar a cabeça de fora neste ano sobre este assunto é bobo. Eu não sou bobo.
Se houver um chamado do partido ou do bloco, o senhor concorre?
- Vamos conversar isso no momento oportuno, não é o momento de conversar. A legislatura está começando ainda.