Perdão: a chave para libertar a alma do passado

Sentimentos como mágoa, rancor e ressentimento trazem problemas que aprisionam a vida de quem os carrega. Se livrar deles vale muito a pena. Saiba como fazer isso

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Ao longo da vida, o ser humano acumula uma série de experiências tanto positivas como negativas. Normalmente, as situações ruins têm um espaço especial na nossa mente e são guardadas com mais facilidade, enquanto as boas nem sempre têm a mesma importância. A grande questão é que as memórias também são acompanhadas de sentimentos e, quando elas são negativas, a mágoa, o rancor e o ressentimento dominam a mente e o coração daquele que se sentiu injustiçado.

O que poucos sabem, no entanto, é que esse sentimento é extremamente prejudicial para a pessoa, sobretudo para sua saúde. Alimentar emoções ruins pode aumentar a chance de desenvolvimento de transtornos como ansiedade, estresse pós-traumático e até depressão e, por isso, é importante perdoar.

Estudos apontam que quem têm dificuldade de perdoar apresenta aumento significativo da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Uma pesquisa brasileira apresentada no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) revelou, inclusive, a relação entre a dificuldade de perdoar e a ocorrência de enfarte agudo do miocárdio.

A ausência do perdão também pode impactar outras áreas, como explicou o Bispo Edir Macedo recentemente: “às vezes, as pessoas têm fé em Deus, mas a vida delas está travada porque elas carregam mágoa, ressentimento ou mesmo antipatia por outra pessoa”. Em outro trecho, ele reforçou a gravidade do problema de quem guarda esse tipo de sentimento: “você carrega dentro de si um câncer espiritual, emocional, que é a mágoa. Essa é a maldição na face da Terra”.

O perdão e a fé
Além de mexer com todas as áreas da vida, colecionar sentimentos negativos contra outras pessoas ainda afasta o ser humano de Deus. Partindo do princípio de que todos somos falhos, não conseguimos obter o perdão do Criador sem antes perdoar aqueles que nos fizeram mal. Essa é uma das principais lições deixadas pelo Senhor Jesus ao ensinar, em Mateus 6.12, como deveríamos orar a Deus: “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”. Esse trecho deixa claro que é impossível receber o perdão Divino sem antes fazer o mesmo com aqueles que nos fizeram mal.

Diferentemente do que muitos pensam, o ato de perdoar não significa deixar o fato cair em esquecimento ou ignorar o que aconteceu, mas passar a ter uma nova visão sobre o que ocorreu e deixar de culpar o outro ou a si mesmo pelos danos vividos. Assim, perdoar é um ato individual que acontece de forma voluntária. O problema é que, na maioria das vezes, a mágoa distorce a realidade e faz com que o indivíduo acredite que, ao perdoar, o outro será beneficiado, mas a realidade é outra: assim como a mágoa só prejudica aquele que a carrega, o perdão beneficia principalmente quem o libera. “Enquanto o problema de mágoa, ressentimento, ódio e desejo de vingança não for resolvido, a pessoa vai estar presa. As grades são invisíveis, mas a alma dela sabe que ela está presa. Ela pode aparentar alegria e felicidade para os outros, mas dentro dela há uma prisão. A vida dela não se desenvolve, não vai para a frente, porque a sua alma está aprisionada”, detalhou o Bispo Macedo.
Isso se aplica tanto aos que não perdoam o próximo quanto aos que não perdoam a si mesmos pelas escolhas que fizeram. A culpa também aprisiona o indivíduo no passado e impede o seu avanço, principalmente porque a ideia de ser feliz pesa em sua consciência. Portanto, perdoar é uma necessidade básica para receber a vida em abundância prometida na Palavra de Deus aqui na Terra e, especialmente, na eternidade.

“Eu desejava o mal”
A professora Macksuellen de Oliveira Michetti, (foto abaixo) de 31 anos, investiu em um relacionamento amoroso por 11 anos. A expectativa dela era que sua relação durasse a vida toda, mas ela foi surpreendida pelo seu fim abrupto. “Depois de certo tempo, descobri que meu namorado tinha se envolvido com outra pessoa”, diz.

Esses acontecimentos mexeram com seu coração e sua mente e ela desenvolveu depressão. “Eu tinha desejo de suicídio, ficava isolada no quarto, cheguei a perder peso porque não comia e tinha crises de ansiedade. Esse processo foi rápido e intenso, mas logo fui convidada para participar de uma reunião na Universal”, comenta.

Mesmo relutante, Macksuellen resolveu dar uma chance para a fé e começou a participar das reuniões. “Conforme eu frequentava a Igreja, voltei a me alimentar. Além disso, as crises de ansiedade cessaram”, cita. Contudo a situação ainda não tinha verdadeiramente mudado. “Um dia, o pastor me perguntou se eu carregava mágoa do meu ex e da pessoa com quem ele tinha me traído. Naquele momento, por orgulho e por não conseguir me enxergar, eu disse que não. Ele me alertou que seria importante pedir perdão aos dois para que eu seguisse a minha vida em paz, mas eu não conseguia nem cogitar essa ideia. Para mim, falar com eles seria muito humilhante”, recorda.

Assim, a mágoa e o ressentimento foram guardados em um canto intocável do seu coração. “Fui melhorando na minha caminhada da fé. Eu ia mais vezes à igreja, era voluntária em um grupo e estava me esforçando, mas a mágoa me corroía. Até que um dia, durante uma reunião, ouvi novamente falar sobre o poder do perdão, mas, diferentemente das outras vezes, eu estava com o coração aberto. Foi quando decidi perdoar”, revela.

Macksuellen conta que assim que saiu da reunião ligou para o rapaz e pediu perdão por ter guardado aquele sentimento ruim contra ele. “Eu me senti melhor, mas não foi o suficiente, porque a mágoa que estava me matando mesmo era contra a pessoa com quem ele estava. Fiz, então, um propósito do Jejum de Daniel e um voto no Altar e Deus me mostrou que eu tinha que perdoá-la”, explica. Ela conta que a mágoa dela dava sinais, como não conseguir pronunciar o nome da moça ou ir a locais onde tinham pessoas com o mesmo nome dela. “Quando eu não estava aguentando mais carregar aquele peso, pedi ajuda a Deus. Consegui o número de telefone dela e telefonei. Eu pedi perdão por tudo que eu estava sentindo contra ela e notei que ela não entendeu muito bem. Para mim, porém, não importava, pois o que eu queria era agradar a Deus”, reforça.

Macksuellen cita dois resultados dessa atitude: o alívio na alma e o início de uma nova história. “Eu recebi o Espírito Santo e hoje Ele é o meu marido. Eu sonhei tanto com um casamento, mas quando O recebi vi que eu jamais seria feliz ou faria alguém feliz sem ter o Espírito de Deus. É Ele quem me ajuda em todas as minhas fraquezas, me direciona, me dá paz, alegria e o sentido para viver”, finaliza.

Infância perdida
Brenda Maria de Lemos Silva, (foto abaixo) de 29 anos, se deparou com a mágoa ainda na infância, quando ela mal sabia distinguir o que sentia. “Eu sofri dois abusos entre os sete e os dez anos e escondi dos meus familiares, mas guardei dentro de mim o ódio e o desejo de vingança”, conta.

Ainda criança, ela buscou alívio para a dor na alma recorrendo à automutilação, mas encontrou apenas uma forma adicional de se machucar ainda mais. “Por conta dos abusos, perdi minha infância, comecei a usar diversos tipos de drogas, a fumar e a consumir bebidas alcoólicas. Na adolescência, busquei a felicidade me casando e fui morar com o pai da minha filha, mas foi outra decepção. Vivíamos um relacionamento abusivo marcado por diversas agressões, até que veio a separação”, relata.

Em razão das dificuldades financeiras, ela passou a atuar como garota de programa. “Eu comecei a usar drogas ainda mais fortes. Alimentei tanta raiva contra os homens que me envolvi com mulheres e foi meu fundo do poço. Eu tinha ódio de tudo que eu já tinha enfrentado: a frustração amorosa, os abusos sofridos e até da minha família”, declara.

Essa carga negativa de sentimentos era vista em tudo que Brenda fazia, inclusive em suas decisões: “eu tinha sede de vingança e isso refletia nos meus relacionamentos. Eu não conseguia ter uma boa convivência com ninguém, nem com a minha família, nem com pessoas de fora”. Sem enxergar uma saída, Brenda decidiu colocar fim à própria vida. Ao ver que a tentativa não tinha dado certo, ela decidiu mergulhar nas drogas, até que algo aconteceu, como conta: “estava indo comprar crack para provar pela primeira vez quando uma pessoa viu as marcas de automutilação nos meus braços e me convidou para ir à Universal”, diz.

Brenda diz que aquela era a porta de que precisava para mudar de vida. Decidida, ela se entregou a Deus, se libertou dos vícios e abandonou a prostituição. Ela avalia o que foi mais difícil nessa fase: “foi liberar o perdão. Eu achava que as pessoas que me fizeram mal não mereciam o meu perdão, porque tudo que eu estava sofrendo era consequência do passado. Até que entendi que Deus só me perdoaria se eu aprendesse a perdoar”.

Lutando contra sua vontade e até contra a lógica humana, ela decidiu liberar o perdão. “Uma das pessoas de quem eu tinha mais ódio já tinha falecido, então orei a Deus e disse que a perdoava e não queria mais guardar aquele fardo dentro de mim. “Também liguei para outra pessoa que tinha cometido abuso contra mim e falei que a perdoava pelo que tinha feito comigo. A reação dela, entretanto, não foi a que eu esperava: ela disse que eu estava louca e que nada daquilo tinha acontecido. Eu estava tão resolvida que não me importei com essa resposta. Saiu um peso do meu interior e tive paz”, ressalta.

Pouco tempo depois, o resultado dessa atitude foi o recebimento do Espírito Santo e a transformação de vida. “Eu passei a ver as pessoas como almas e foi libertador. Se eu soubesse que o perdão iria mudar tanto a minha vida, eu teria perdoado antes”, afirma.

Desejo por sangue
Na adolescência, Alessandro de Jesus Lobato, (foto abaixo) de 46 anos, escolheu seguir o próprio caminho e se envolveu com más amizades que o levaram para o mundo dos vícios. “Eu comecei a usar drogas aos 14 anos e cada dia que passava eu piorava: abandonei os estudos e mergulhei na criminalidade. De dez filhos, eu fui o único a seguir o caminho errado. Eu era considerado a ovelha negra da família. Eu me julgava rejeitado e isso foi gerando revolta em mim”, diz.

Por estar envolvido com as drogas e o crime, Alessandro incomodava muitas pessoas e essa situação gerava briga entre os familiares. “Para resolver o problema, elas pediam ajuda para um vizinho que era policial e ele me prendia para que eu me acalmasse. Fui preso várias vezes e isso me dava muita raiva, porque eu apanhava. Toda vez que eu o via, sentia gosto de sangue na boca de tanto ódio”, relata.

Todos esses sentimentos acumulados em seu interior também refletiram na forma como ele se relacionava com outras pessoas. “Eu entrei em um relacionamento, tive uma filha e ocorreu uma traição. Ela decidiu sair de casa com a outra pessoa e me deixou com a criança. Fiquei numa situação desesperadora, pois não sabia o que fazer. Essa nova rejeição gerou um ódio enorme em mim”, afirma.

O desejo de Alessandro era resolver o problema com suas próprias forças, o que trouxe uma série de problemas à vida dele, como a depressão: “eu fiquei cerca de três meses isolado, vivia no escuro e não falava com ninguém. Tinha um vazio imenso dentro de mim que me impedia de trabalhar e de viver. Eu tinha só pensamentos de morte”, declara.

Enquanto ele planejava se vingar, recebeu um convite para conhecer a Universal. “Naquele mesmo dia que fui, me libertei de 22 anos de vícios. Depois de três meses participando das reuniões, fui à Vigília da Virada e, durante a reunião, foi realizada uma oração voltada para o perdão. Fui até o Altar e entreguei nEle tudo que eu sentia. No mesmo dia encontrei o policial que me prendeu várias vezes, o abracei e pedi perdão a ele”, comenta.

Com o passar do tempo, os desafios foram surgindo, mas ele estava livre para lutar e podia contar com o apoio de Deus. “Eu me casei de novo, tenho uma família abençoada na Presença de Deus e posso dizer que vale muito a pena perdoar. Eu me transformei em um testemunho vivo entre aqueles que me conheciam e hoje mostro a todos o que Deus fez na minha vida”, encerra.

O limite do perdão
Por meio desses casos reais, foi possível conhecer os impactos negativos da mágoa e os benefícios de perdoar. Esta atitude é o primeiro passo para sepultar o passado e seguir em frente. Além disso, ela torna a pessoa apta para viver as bênçãos, tanto na Terra quanto no Céu, que Deus tem preparado para os que creem. Seja sábio: não deixe que a injustiça que o outro cometeu o atrapalhe de avançar. “Antes sede uns para com outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Efésios 4.32).

O Senhor Jesus falou e mostrou com maestria o que é ser misericordioso e liberar o perdão, como quando foi questionado pelo apóstolo Pedro qual seria a quantidade de vezes que uma pessoa teria direito ao perdão de outra: “(…) Até sete?” E Jesus respondeu: “Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.21-22). “É óbvio que Jesus não queria que Pedro usasse uma regra matemática para saber o número exato de perdão concedido, e sim que compreendesse que essa atitude é ilimitada”, escreve o Bispo Macedo na Bíblia Sagrada com as Anotações de Fé.

Viver de acordo com a Palavra de Deus não é fácil, mas é a única forma de alcançar paz e felicidade verdadeiras. “Para que você possa ser uma pessoa bendita, abençoada, você tem que ser uma pessoa que perdoa, que tenha perdoado os seus ofensores. Não interessa a dificuldade, você pode perdoar sim”, concluiu o Bispo Macedo.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Tetra Images\gettymages / produção solo sagrado / cedida / Demetrio Koch