Por que esse vazio nunca acaba?

A luta contra essa angústia causada pela falta de algo inexplicável começa com uma decisão. Entenda o que fazer para se tornar verdadeiramente completo

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Em um turbilhão de tarefas, informações e interações que caracterizam nossa era digital, há um fenômeno silencioso que tem se instalado discretamente na vida de milhões de pessoas: o vazio interior. Apesar de termos a opção de fazer escolhas, muitas possibilidades ao nosso dispor e até obtermos conquistas, cresce a sensação de que algo está faltando e que é essencial para que a vida tenha sentido. Não se trata de solidão ou de uma insatisfação momentânea, mas de uma dor mais profunda que deixa como sinal a falta de esperança e de motivação para levar a vida em plenitude.

O vazio não é exclusividade de uma parcela da população, pois atinge a todos independentemente de classe social ou cargos que ocupem na sociedade. Muitos famosos, por exemplo, apesar de serem bem-sucedidos e aplaudidos pelos fãs, carregam essa falta inexplicável. É preciso entender que, apesar de comum, essa condição não deve ser vista como normal, uma vez que existe um caminho para levar uma vida completa.

A origem do vazio

As primeiras palavras da Bíblia descrevem como Deus criou o céu e a Terra. Com a leitura dos trechos é possível perceber que cada detalhe foi pensado cuidadosamente e tudo foi sendo preenchido: o mar, os rios, a terra, o céu e até mesmo o ar, que, apesar de não ser visto, é composto pelo oxigênio, por outros gases e inclusive por ondas, como as sonoras. Por conta disso, conclui-se que o Criador fez o ser humano completo, afinal somos semelhantes a Ele: “E criou Deus o homem à sua imagem” (Gênesis 1.27). Mas, então, de onde vem esse vazio que afeta tantas pessoas?

“Deus nos criou para habitar conosco e, por isso, na Bíblia somos chamados de Templo. Ele quer habitar em nós e entendemos, por meio da Palavra, que quando algo não está onde deveria estar existe aquela sensação de frustração e de vazio”, explicou recentemente o Bispo Renato Cardoso em uma reunião no Templo de Salomão, em São Paulo. A verdade é que quando a Presença de Deus, que era natural para o ser humano, saiu do Éden, ela passou a ter que ser conquistada.

O problema é que poucos conseguem entender essa necessidade humana e a maioria das pessoas tenta preencher o que é espiritual com o que é físico e material. Muitos colocam coisas e pessoas no coração e pensam: “isso aqui vai me trazer alegria” e até traz, mas temporariamente. É por agirem dessa forma que muitos buscam a prosperidade, os relacionamentos, as festas, as viagens, bebidas e entorpecentes e algo que não sabem exatamente o que é para alcançar um suposto êxtase que nunca chega.

“Deus não aceita o vazio, nós não aceitamos o vazio, nem o diabo aceita o vazio. A Bíblia diz que, quando uma pessoa está vazia, quando ela não tem o Espírito Santo dentro dela, os demônios procuram entrar naquela casa. Ela pode estar limpa espiritualmente, mas, se não tiver o Espírito Santo, o diabo vai tentar habitar nela e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele. Por isso, ter o Espírito Santo não é luxo, mas uma questão de sobrevivência espiritual”, comentou o Bispo, usando a passagem de Mateus 12.43-45 como referência.

Exemplos de fé

A Palavra de Deus, como o perfeito manual para a vida que é, aborda o vazio interior de diversas formas, inclusive dá exemplos de pessoas que conseguiram superar essa falta, como Abraão e Ana. Os dois viveram em tempos diferentes, mas passaram pela mesma necessidade: não conseguiam ter um filho. “Abraão, antes de conhecer a Deus, já tinha esse vazio dentro dele e pensava que um filho garantiria sua descendência e o faria um homem realizado. Mas Deus, quando o chamou, mostrou que mais importante do que ter um filho era que Abraão O conhecesse e mostrou isso a ele lhe dando um filho e depois o pedindo de volta”, disse o Bispo.

Ana, por sua vez, já conhecia o Criador, inclusive ia ao Templo e fazia ofertas e sacrifícios, mas carregava uma falta. “O vazio dela era diferente: não era porque ela não tinha Deus, mas porque não tinha a realização pessoal de ser mãe”, citou o Bispo. O vazio, somado às provocações da segunda esposa de seu marido, Penina, causava nela uma frustração como mulher. Mas um dia, quando Ana não estava mais aguentando aquela situação, ela tomou uma atitude diferente, como observou o Bispo: “ela foi ao Templo e fez um voto com Deus”.

A oração dela é descrita em 1 Samuel 1.11: “… Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei todos os dias da sua vida…”. Depois dessa entrega sincera, o semblante de Ana mudou e ela já não chorava mais pelo que não tinha. Sua fé e confiança chamaram a atenção de Deus que lhe deu Samuel, que mais tarde se tornaria profeta, e outros filhos.

Esses exemplos mostram que o Criador tem prazer em preencher o vazio daqueles que obedecem e confiam em Suas promessas. “Deus não criou você para ficar vazio e também não criou a Terra para ficar vazia e, se você quer ser habitado por Deus, você tem que convidá-Lo a entrar e abrir a porta do seu coração. Para isso, você tem que falar com Ele, orar e ler a Bíblia. Você não tem que aderir a uma religião, mas a um relacionamento com Deus”, salientou o Bispo.

Do vazio, um desastre

Por um tempo, o já aposentado Walisson de Souza, de apenas 29 anos, ficou conhecido como “o mestre do desastre”, como ele mesmo admite: “aos 16, 17 anos, eu tinha acabado de sair do presídio e estava disposto a colocar em prática tudo que estava dentro de mim desde os 10 anos”. Foi com essa idade, lembra ele, que seu próprio pai tentou matá-lo. “Depois de me agredir muito, ele me levou a uma ponte, me pendurou e disse: ‘seu desgraçado, eu te pus no mundo e eu te tiro!’ Por um momento, eu virei a cabeça e falei: ‘se eu cair e morrer, tudo bem. Mas, se o senhor me jogar e eu não morrer, vou me tornar um dos piores bandidos que o senhor já viu. Quero que o senhor veja, em vida, tudo que eu vier a me tornar daqui para a frente”. Essas palavras, segundo Walisson, “foram como o inferno todo entrando dentro de mim. Ele teve um momento de lucidez e me puxou para cima novamente”.

Esse conflito entre pai e filho, no entanto, não aconteceu de uma hora para outra. “Eu não era muito de ter convivência com a minha família e desde novo sempre me virava sozinho. Já meu pai sempre me agredia: ele me levava para as festas e me batia na frente dos colegas dele a ponto de arrancar sangue. Sempre deixava bem claro, e na frente de todos, que sua vontade era me matar. Depois de tantas tentativas e promessas de me matar, essa foi a última”, diz.

Walisson menciona que foi nutrindo ódio dentro de si e que sabia que, um dia, colocaria aquele sentimento para fora. “Aos 11 anos, matei a primeira pessoa: vi um rapaz abusando de uma menina e o executei. Fiquei preso por três anos em uma unidade socioeducativa e, ali, aprimorei o que sabia e aprendi até o que não sabia. Fora dali me tornei um assassino profissional, um matador de aluguel. Eu vivia para matar”, confessa. Ele afirma que fez coisas que se envergonha de contar: “minha mãe pensava que eu era um menino bonzinho até descobrir que eu era um monstro. Eu não me via como um ser humano, mas como um bicho. Eu não tinha dó nem piedade de ninguém. Também não sabia o que era amor nem quem era Deus. Eu mesmo era o meu deus. Ainda assim, eu tinha um vazio tão grande e não sabia o que era”, declara.

Recebendo a conta

Em 2015, aos 18 anos, ele saiu de Minas Gerais para São Paulo atrás de armamentos para abastecer as biqueiras (local onde se vende drogas) que ele tinha por lá. “Eu tinha a sensação de que eu era ‘o cara’ e de que nunca seria pego. Até que, na volta ao Estado, me denunciaram e ali começou uma perseguição policial. Eu estava em alta velocidade, tomei um tiro de ponto 40 no lado direito da cabeça e capotei o carro. Meu corpo foi arremessado para fora do veículo e bati a cabeça em uma placa de trânsito. Cheguei no hospital com a cabeça aberta, todo ensanguentado e foram necessárias cinco cirurgias para retirar um pedaço do projétil. Minha cabeça infeccionou e perdi entre 15 e 20% da massa encefálica”, narra.

Ele estava, mais uma vez, perto da morte, pois ficou sob cuidados paliativos. “Quando acordei, para mim, era como se fosse o dia seguinte, mas, já tinha passado um ano de coma. Os médicos me desenganaram e falaram que eu vegetaria. Mesmo sem ter movimento do lado esquerdo, quando olhei para o meu lado direito, notei que a minha perna e meu braço estavam algemados e que havia uma escolta ali. Eu já estava preso. No fundo, eu sabia que tinha feito algo errado e que estava apenas colhendo as consequências”, relata. No presídio, ele ainda precisou que trocassem sua fralda e lhe dessem comida na boca. “Então, minha ficha de que eu não era tudo aquilo que eu pensava ser caiu e, daquele jeito, fui levado ao júri e condenado a 39 anos de prisão”, afirma.

Preso em seu vazio

Em 2015, preso, Walisson conheceu o trabalho da Universal nos Presídios (UNP) e entrou em contato com a Palavra de Deus. “Ao decidir participar dos encontros, lembro do que o Pastor disse: ‘não sei o que você está passando, mas Deus pode mudar a sua vida se você crer.’” Cansado de si mesmo, ele aceitou essa proposta. “Eu disse a Deus: ‘eu não Te conheço, não sei se Você existe, não tenho acesso a Você. Sou uma pessoa horrível e, se estivesse em Seu lugar, eu não me perdoaria. Mas, se Você fizer algo por mim, Te dou o que vale a minha vida, que é a minha palavra, e durante o tempo que eu estiver nessa Terra vou Te servir nem que seja me arrastando’.” Walisson diz que, naquele dia, sentiu um grande alívio. “Eu só queria cumprir a palavra que empenhei”, ressalta.

Em 2016, quando foi solto, ele pensou primeiro em ir à Universal. Da primeira vez em que ficou na unidade socioeducativa e depois ganhou a liberdade, vale ressaltar, ele saiu de lá repleto de ódio, mas, agora, ele estava leve. “Dessa vez,  o que foi diferente foi a Palavra. Quando saí, fui direto para o Altar, ainda em uma cadeira de rodas e, durante uma Fogueira Santa, me lancei por inteiro e subi no Altar de muleta. Quando o Espírito Santo me abraçou, percebi uma paz tão grande que nunca tinha sentido e me muito amado. Deus falou para mim que Ele estava comigo, que eu era Seu Filho. Então, deixei no Altar aquela pessoa que só pensava em fazer mal ao próximo. Deus transformou minha vida completamente e, assim, não havia mais espaço para o vazio. A Fé me deu uma nova chance”, explica.

Em 2019, Walisson conheceu Érica Pereira Santos Souza e eles se casaram depois de dois anos. “Eu, que não tive uma referência de pai, hoje sou um pai (do pequeno Israel, de seis meses), tenho um casamento abençoado e meus pais têm orgulho de mim. Só tenho uma parte da cabeça, não mexo mais um lado do corpo, mas não me importo com isso. Posso ter metade da cabeça, mas eu sei que me entreguei (a Deus) por inteiro. Hoje, sou um homem que tem palavra, temor e, acima de tudo, reverência a Deus. Antes, eu saía para tirar vidas e agora saio para levar às pessoas a Vida que recebi”, conclui.

Questão de escolha

Deus projetou o ser humano com um espaço exato para que Ele o ocupasse e, quando se tem essa consciência, é questão de escolha buscar pelo direito de ser alguém completo. Como vimos no relato desta matéria, se o vazio não for ocupado pelo Espírito de Deus, o indivíduo ficará sujeito a ser preenchido pelo mal. Portanto, busque preencher o vazio que você sente com o Espírito Santo.

O mesmo vale para quem já possui a Presença de Deus, mas ainda carrega a ausência de uma realização, que o envergonha ou o faz se sentir incapaz: é possível tomar posse das promessas divinas por meio da fé irrestrita. O caminho é a entrega a Deus e a intimidade com Ele.

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Colaborador

Cinthia Cardoso e Flavia Francellino / Arte: Edi Edson sobre foto GettyImage / Fotos: Reprodução, Demétrio Koch, Arquivo Pessoal, Divulgação e PeopleImages/GettyImages