Por que tantos ataques a algo que só faz bem?

A família é essencial em todas as etapas da vida de um indivíduo, mas vem recebendo afrontas de todos os lados

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Apesar de estarmos no século 21 e as inovações terem transformado o mundo radicalmente, existem aspectos que não mudam, como a importância da família para o ser humano. No dicionário Michaelis o termo é definido como “conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto”. Já no sentido natural, ele é classificado como “grupo familiar formado pelos pais e seus descendentes”.

Mesmo sendo reconhecida por ter um importante papel para o desenvolvimento de uma sociedade saudável, a estrutura familiar natural tem sido um dos grupos mais atacados nos últimos anos. Ideologias têm pregado aos quatro ventos uma suposta liberdade que esconde prejuízos muitas vezes irreversíveis. Atualmente, os “gigantes” que afrontam o núcleo familiar não são apenas o divórcio, o abandono ou a violência, mas também as drogas, a sexualidade e outros fatores que desestruturam a família.

É necessário ressaltar que a família é muito mais do que uma simples união física de pessoas e ela exerce várias funções, como detalha a psicóloga Camila Galhego (foto abaixo): “é um ambiente que supre as necessidades emocionais de uma criança, que oferece afeto, segurança e acolhimento, além de propor limites e autonomia”. Para ela, o desenvolvimento adequado do ser humano começa com uma boa estrutura familiar. “Quando a criança tem isso, vemos que ela não terá distúrbios como depressão ou ansiedade. Ou seja, adultos que têm muitas questões emocionais e patologias normalmente vêm de ambientes disfuncionais.”

Infelizmente, nos últimos anos, o Brasil e o mundo têm observado um rompimento desse padrão familiar, o que pode impactar diretamente na saúde e no desenvolvimento das pessoas. Neste ano, por exemplo, aproximadamente 97 mil crianças que nasceram de janeiro a julho foram registradas sem o nome do pai, segundo a Associação Nacional de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). O índice, que segue em tendência de aumento, parece que se intensificou ao longo da pandemia.

Apesar de muitas vezes não ser uma escolha, Camila destaca que essa construção familiar composta apenas pela mãe não é considerada saudável e ressalta ainda que a ausência do pai ou da mãe é prejudicial, mesmo quando vivem na mesma casa. “A primeira relação de convivência da criança acontece com a sua família e, se esse vínculo não é seguro, gera um adulto que terá dificuldade de se relacionar e será muito mais vulnerável a transtornos emocionais.”

Falta de referência
O ser humano nasce com a necessidade de desenvolvimento e ele acontece ao longo do tempo e, muitas vezes, por meio da imitação. É dessa forma, por exemplo, que uma criança aprende a falar. Ela percebe que pode emitir sons e passa a reproduzir o que ouve, apesar de não ter ideia do significado das palavras, e o mesmo ocorre em relação a valores e comportamentos.

Os pais são referência de comportamento para os filhos e a falta dessa direção os leva a pautarem sua vida no modo de ser e agir de outras pessoas. “Sem essa referência, o jovem acaba sendo influenciado por outras pessoas. Aliás, aquele que tem problema com redes sociais e é muito influenciado é porque não possui essa base boa”, comenta a psicóloga.

A perda do pai alvejado por 12 tiros levou Márcio Leitão Paulo, (foto abaixo) de 26 anos, a ter como referência os amigos do bairro em que morava. “Conheci o cigarro aos 11 anos e, um ano depois, com a morte do meu pai, me envolvi com drogas. Comecei a usar maconha, cocaína e lança-perfume. Permaneci nessa situação por muitos anos”, diz.

Um estudo divulgado em 2016 pelo Ministério Público de São Paulo mostrou que dois em cada três jovens de 12 a 18 anos apreendidos por algum tipo de infração não contavam com a presença paterna em casa. Em 2018, o resultado do levantamento foi semelhante: a maioria dos menores que cumpriam medidas socioeducativas na Fundação Casa não morava com o pai e a mãe e apenas 17% viviam essa realidade. Esses números sugerem uma relação entre a desestrutura familiar e o aumento da chance de seguir o caminho da criminalidade.

Apesar de ter se embrenhado no mundo dos vícios, Márcio não faz parte do índice que se envolveu com a criminalidade. Isso porque, se lhe faltou o pai como referência, ele contou com a presença da mãe. “Cheguei em casa drogado muitas vezes, depois de três dias fora, e ela conversava comigo e me falava que dava para sair daquela vida. Eu não tinha forças para mudar, mas ela nunca desistiu de mim.”

Por saber que sua condição trazia sofrimento aos que estavam ao seu redor, Márcio a escondeu quando conheceu sua esposa. “Ela não sabia que eu tinha vícios, mas chegou uma hora que eu tive que contar. Também recebi apoio dela para conseguir dar a volta por cima.” Enquanto muitos o viam como um caso perdido, a família acreditou que existia uma saída e hoje colhe os frutos dessa atitude: “estou livre das drogas, não tive recaídas e estou completamente mudado. Com certeza, minha mãe e minha esposa foram fundamentais nesse processo”, assegura Márcio.

Verdadeiro porto seguro
Do mesmo modo que a criança necessita de um ambiente seguro para crescer de forma saudável, o adulto também precisa de um sistema de apoio, essencial para se recuperar quando as situações fogem do seu controle. “A família é o nosso regulador emocional, ou seja, ela é a nossa fonte de calma, que vai nos acolher e nos amparar. Assim, as pessoas que crescem com a ausência de um lar estruturado são as que frequentemente pensam em se matar, desenvolvem depressão ou se desesperam por não ter esse suporte emocional para dar essa força em um momento difícil”, relata a psicóloga Camila Galhego.

Na vida de Débora Poli, (foto abaixo) de 18 anos, o apoio materno foi primordial para vencer uma série de transtornos que ela carregava. “Eu sofri uma desilusão amorosa, isso mexeu muito comigo e desenvolvi depressão, ansiedade, insônia e ainda me automutilava. Eu estava no caixão praticamente. A minha mãe comenta inclusive que minha aparência era de alguém morto”, afirma.

A mesma depressão que acometeu Débora tem ganhado espaço no mundo há algum tempo e afetou ainda mais pessoas ao longo da pandemia de Covid-19. De acordo com um estudo publicado em 2021 na revista científica The Lancet, foi registrado um aumento mundial de 26% na incidência de transtornos depressivos e distúrbios de ansiedade, principalmente em mulheres e jovens.

Esse cenário costuma ser propício para o surgimento de pensamentos de morte e, como um efeito dominó, os índices de suicídio e de tentativas também sobem. No Brasil, estima-se que o número de suicídios tenha aumentado 28% em cinco anos e entre os jovens de 11 a 20 anos os casos ultrapassaram a marca de 49%, segundo análise da insurtech Azos.

Esse poderia ter sido o desfecho da vida de Débora, mas a presença da família na sua fase de vulnerabilidade facilitou seu processo de mudança. “Minha mãe sempre me ajudou. Quando ela se deu conta do poço em que eu estava, me estendeu a mão, buscou ajuda e me passou força. Hoje estou curada e, ao olhar para trás, é impossível não reconhecer a importância da família. Não conseguiria lidar com isso sozinha”, conclui.

Apoio em todas as fases
Se a família é de suma importância no início da vida, o que dizer da fase da terceira idade? Em 2021, o Brasil alcançou a marca de 31,2 milhões de idosos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), o que representa cerca de 14,7% da população brasileira.

Depois de tantos anos de idade, os papéis se invertem e aquele que cuidou dos filhos passa a precisar da atenção e do amparo deles. Contudo, apesar dessa necessidade, muitos idosos sofrem as consequências de um lar desestruturado. No primeiro semestre, o Disque 100, canal de denúncias do governo federal, registrou 35 mil violações de direitos humanos contra pessoas idosas e, espantosamente, 85% delas ocorreram dentro de casa entre familiares.

Ao passo que um lar desestruturado gera inúmeros problemas sociais, uma família moldada por valores familiares elevados valoriza e apoia os mais vulneráveis. É o que acontece na casa de Maria de Fátima Aparecida Dias Alves, (foto abaixo) de 61 anos. Em determinado momento de sua vida, ela foi diagnosticada com câncer pela segunda vez e teve que se submeter a uma cirurgia. “Alguns dias depois do procedimento, meu esposo descobriu que estava com herpes-zóster e necessitou de internação. Ele, que cuidava de mim, passou a precisar de cuidados também”, lembra.

Para superar essa fase difícil, o casal contou com o apoio dos filhos. “Nós aprendemos que infelizmente todos têm um dia mau e nesse caso ele chegou para nós dois ao mesmo tempo. O mais importante é saber como superá-lo.

Saímos curados, mais fortes e unidos, pois contamos com a fé e o apoio da família”, comenta Fátima, que dispõe de uma rede de apoio formada com as irmãs para cuidar da mãe, hoje com 91 anos. “Vejo essa atitude como uma oportunidade de retribuir o que um dia ela fez por nós e vamos cuidar dela até o fim”, declara.

Base da sociedade
Com base em todos esses exemplos é possível ver claramente que a família é mais do que uma estrutura simbólica: ela é essencial para a sociedade e é reconhecida como a primeira instituição humana. “A família é anterior ao

Estado, aos regimes políticos e a qualquer outra forma de organização social. É a família que cria os vínculos necessários para a manutenção do tecido social em qualquer sociedade humana. Sem família não existiria sociedade”, reforça Thiago Cortês, sociólogo, jornalista e pesquisador da temática da identidade.

Mesmo assim, não é de hoje que várias correntes de pensamento tentam influenciar e estimular uma espécie de desconstrução familiar. No século 19, Karl Marx e Frederich Engels já distorciam a imagem dessa estrutura, observa o sociólogo: “no livro A origem da família, da propriedade privada e do Estado, uma de suas obras mais famosas, Engels afirma diversas vezes que a família é uma instituição opressora e que ela representa a origem da desigualdade e das opressões da sociedade moderna, em especial por conta da hierarquia do homem sobre a mulher e seus filhos. Engels escreveu a obra baseado em escritos de Marx, que dá nome à corrente chamada marxismo. Portanto, desde sempre, a esquerda enxerga a família como um alvo e que ela tem de ser combatida”.

Com o passar dos anos, novos filósofos surgiram e com eles os ideais marxistas receberam adaptações, como linhas de pensamento que trocaram as disputas violentas pelo poder pela guerra cultural de longo prazo. “Cada qual no seu nicho, esses autores (Michel Foucault, Herbert Marcuse e Wilhelm Reich) começaram a travar batalhas pela desconstrução da identidade sexual, da família natural e das hierarquias sociais. O feminismo da Terceira

Onda (pós-Segunda Guerra Mundial) bebeu muito nessa fonte. Não por acaso, autores como Foucault e Reich serviram de base para feministas radicais, como Judith Butler, que hoje promovem a tese de que sexo biológico é descartável e que o gênero é fluido”, explica Cortês.

Afrontada por gigantes
Desestruturando a família é mais fácil manipular um indivíduo e levá-lo à degradação. Apesar de não deixar clara essa intenção, essa é a consequência lógica também dos ideais da esquerda que buscam se infiltrar na sociedade brasileira por todos os lados, principalmente por meio da política, terreno em que muitas bandeiras são levantadas, mas a da família parece que é rasgada.

Pode ser citada como exemplo a ideia de legalização da maconha. Essa é uma bandeira que vem sendo defendida há algum tempo, inclusive com marchas pelo País que buscam a liberação da cannabis (gênero da planta da maconha) para fins medicinais e recreativos. A grande questão é que inúmeros estudos já revelaram os impactos negativos da substância no organismo e no desenvolvimento cerebral, assim como seu potencial de abrir portas para o uso de outras drogas.

Não tem como deixar de mencionar ainda a discussão sobre a ideologia de gênero que tem rondado as escolas brasileiras. Defendidas pela esquerda, as propostas para obrigar que se ensine às crianças que o sexo biológico não define o gênero de uma pessoa já foram inseridas em diversos projetos de lei que até agora foram barrados. Em 2013, um projeto chegou a sugerir que menores de idade fizessem a transição de gênero, com tratamentos hormonais, cirurgia e mudança de nome nos documentos mesmo sem autorização dos pais.

Em paralelo também surgem debates sobre a instalação de banheiros unissex e a adoção da linguagem neutra, que desconstrói até a língua portuguesa. Essas são propostas que com a aparência de inclusão acabam retalhando a sociedade. Isso sem contar o Estatuto das Famílias do Século 21, que segue na Câmara dos Deputados e reconhece como família “todas as formas de união entre duas ou mais pessoas que para este fim se constituam e que se baseiam no amor, na socioafetividade, independentemente de consanguinidade, gênero, orientação sexual, nacionalidade, credo ou raça, incluindo seus filhos ou pessoas que assim sejam consideradas”. Essa descrição dá margem para várias interpretações e para defender arranjos familiares como o trisal (relacionamento entre três pessoas).

Apesar desse tipo de relacionamento não ser reconhecido oficialmente, já existem pessoas que vivem nessa condição e lutam na justiça para que o filho seja registrado com mais de um pai ou de uma mãe. Mais recentemente tornaram-se comuns histórias de pessoas com aparência masculina e órgãos sexuais femininos dando à luz, enquanto outras com aparência feminina e órgãos sexuais masculinos buscam na tecnologia e na ciência a possibilidade de amamentar. Se já é difícil para um adulto compreender essa realidade, imagine para uma criança.

Esses e outros cenários baseados em ideais progressistas afrontam milhões de famílias como verdadeiros “gigantes”, mas eles podem ser vencidos com consciência, a exemplo do que fez Davi (leia em 1 Samuel 17). A pedra para derrubá-los está em suas mãos, então, use-a com sabedoria. Na contagem regressiva para as eleições, reflita quem são os candidatos que representarão você e a sua família nos próximos anos.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: getty images, Demetrio Koch, divulgação e cedida