Presentes em vez de contas: o que o consumismo nesta época esconde

Mesmo com a pandemia e apesar do alto endividamento, 82% dos entrevistados planejam ir às compras

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O final do ano chegou e com ele as festas também. Mas, há algo por trás dessas celebrações que pouco se fala: o consumismo. A verdade é que esta época do ano se tornou sinônimo de trocar presentes. Basta observar como os shoppings centers ficam lotados e como o comércio fatura.

E essa tendência de consumo cresce a cada ano, segundo dados da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping. Entre outros pontos, a associação atribui esse aumento ao pagamento do 13º salário.

Apesar da pandemia, uma pesquisa da Teads, plataforma global de mídia, feita com mais de 1.800 pessoas em toda América Latina revelou que 82% dos entrevistados planejam comprar presentes.

Então, a expectativa é que as vendas de Natal devam girar em torno de R$ 39 bilhões de reais e que o valor médio do presente seja de R$ 109, de acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

É claro que isso é ótimo para a economia do país, uma esperança dos lojistas e comerciantes de diminuir os prejuízos causados pela crise de saúde. Mas, e para o cidadão que “torra” o que tem (e até o que não tem) com os presentes natalinos? Isso não parece ser nada positivo…

Diversas outras pesquisas revelam que o brasileiro compra presentes, mesmo com contas em atraso. Assim, muitos deixam de pagar contas correntes como TV a cabo, luz, água e telefone para presentear os entes queridos e festejar, a ponto de se endividar ainda mais e ficar com o nome sujo.

Então, em um país com mais de 62 milhões de pessoas inadimplentes, a pergunta que faço é: Qual é a lógica em se endividar mais para dar presentes? Eu também gosto de presentear pessoas queridas, mas gostaria que você pensasse comigo: será que vale a pena se endividar para isso?

Isso continuará acontecendo enquanto a emoção for colocada à frente da razão.

Estabeleça prioridades

Estava pensando hoje nas pessoas que perderam parentes por conta da Covid-19 ou outras doenças, naquelas que vivenciaram uma ruptura familiar, seja devido a um divórcio ou a problemas com os filhos, nas pessoas que vivem em situação de rua e não têm com quem contar…

Esses são alguns dos motivos pelos quais não gosto de datas comemorativas. Sabemos que enquanto muitos as celebram tantos outros sofrem por não terem família ou por estarem vivenciando momentos difíceis (a perda de um ente querido, abandono, vícios etc). E nas festas de fim de ano isso normalmente se agrava. Os números mostram que as tentativas de suicídio aumentam em todo mundo nesta época.

Receio que neste 2020 possa ser ainda pior por conta das sequelas tristes deixadas pela pandemia.

Por isso, gostaria de dizer que o que realmente importa é não se deixar levar pelas emoções que o mercado de consumo impõe.

A necessidade de gastar em excesso, com a desculpa das festas, pode representar uma necessidade de superar mágoas, frustrações… E, na maioria das vezes, revela uma dificuldade em conhecer a si mesmo.

Então, que tal fazer diferente este ano e não ultrapassar os limites do seu orçamento, aprendendo a consumir de forma consciente?

Que seja um momento para restabelecer prioridades e valorizar a vida como ela merece.

* Para ler mais reflexões como do blog Refletindo sobre a notícia por Ana Carolina Cury clique aqui.

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Colaborador

Reprodução R7 / Foto: Getty Images