Primeiros brasileiros resgatados relatam alívio após o terror da guerra; veja entrevistas
Avião com 211 passageiros pousou em Brasília na madrugada desta quarta-feira, após dias de conflito no Oriente Médio
Alívio, gratidão e saudade da família são alguns dos sentimentos relatados pelos primeiros brasileiros resgatados da zona de confronto entre Israel e o grupo terrorista Hamas. A comemoração começou dentro do avião, antes mesmo de o voo se aproximar do território brasileiro. Com bandeiras do Brasil, os passageiros cantaram o Hino Nacional. Veja os relatos abaixo.
‘Parecia que eram trovões’
O casal Narcísico Glats e Maria Rainha Glats estava em Israel a passeio e relatou os momentos de agonia e terror que viveu no local. “A gente estava lá e, de repente, fechou tudo e não podíamos mais sair. Os aviões passando toda hora, parecia que eram trovões”, contou Narcísico.
A sensação de voltar ao Brasil foi muito comemorada pelo casal de Maringá (PR). “Eu estou no céu, muito bom”. Os dois seguiram para casa para reencontrar os familiares aflitos, mas também aliviados.
Três dias no bunker e bombardeios na partida
Cristina Balbi, de São Paulo, falou emocionada sobre os momentos que viveu no conflito. Ela relembrou o começo dos ataques. “A gente escutou aquele zumbido do lançamento e depois um estrondo. Um pouco mais tarde, olhamos para o céu e vimos os mísseis sobre as nossas cabeças.”
Na partida, mais uma cena triste. A irmã de Cristina assistiu, da janela do avião, a mais um bombardeio na cidade. Enquanto o voo decolava, as irmãs oravam pelas pessoas que ficaram para trás.
Solidariedade israelense e ‘sem solução’ para voltar
O produtor de vídeo Gleik Max chegou ao Oriente Médio na última sexta-feira (6). O objetivo era visitar Israel para produzir um documentário. O primeiro dia de filmagens seria no domingo (8). No entanto, as câmeras foram substituídas por mísseis.
Max relatou que a solidariedade do povo israelense foi fundamental para garantir a segurança do grupo. “Eu vou ao mercado local e vamos comprar comida para vocês. Se for preciso sair, eu faço, pego para vocês”, teria dito um israelense ao grupo de Max.
A tensão deu lugar à emoção e à surpresa quando viram a rápida ação do governo federal para resgatar os brasileiros pegos em meio ao fogo cruzado. Max conta que o grupo “não tinha outra solução”. “A gente tentou sair pela Jordânia, Amã, compramos passagem para Istambul, que foi cancelada quando teve o ataque perto do aeroporto. Quando veio o plano da FAB [Força Aérea Brasileira] e o governo federal, a gente ficou aliviado.”
De alegria à tristeza: mudança na postura de guia local denunciou seriedade dos ataques
O casal Maurílio Figueredo e Jacinta de Fátima Figueredo estava havia três dias na região e, até então, tudo estava tranquilo. Porém, uma mudança na postura do guia israelense que acompanhava o grupo denunciou a seriedade da situação.
“A gente sentiu que ele [o guia] não estava mais a mesma pessoa, alegre, então a gente sabia que alguma coisa estava diferente”, disse a funcionária pública.
O casal mora no Distrito Federal e estava a mais de 10.200 quilômetros de casa. Ao ser questionado sobre a sensação de voltar para o Brasil, o aposentado Maurílio não precisou de muitas palavras. Um aliviado suspiro foi o suficiente para expressar o que é estar de volta.
‘Saímos debaixo de mísseis e chegamos aqui com aplausos’
O empresário e escritor Fabrício Ramon Lopes resumiu a situação e os sentimentos que teve nos três dias em que ficou na região. “Saímos debaixo de mísseis e chegamos aqui com aplausos. A nossa esperança ao chegar aqui é olhar para o céu e não ter medo de que caíam mais bombas.”
Além disso, ele ressaltou a importância da resposta rápida do Brasil para resgatar os cidadãos que estavam na zona de conflito. “A confiança no nosso país é muita, porque várias pessoas estão lá e não estão sendo resgatadas. A FAB está de parabéns por fazer isso.” Fabrício seguiu viagem enquanto o céu se iluminava — não com bombas, mas com os primeiros raios solares.
Festa no embarque e dentro do avião
O sentimento de alívio já estava presente entre os 211 passageiros do primeiro voo de retorno ao Brasil desde a hora do embarque. A mais de 10 mil quilômetros de casa, eles cantaram o Hino Nacional ao perceber que essa distância finalmente iria diminuir.
Durante a viagem, que durou cerca de 14 horas, os brasileiros demonstravam cansaço e ansiedade para reencontrar a família e os amigos. Mas, em todas as poltronas, sorrisos e agradecimentos enchiam o ar de esperança. São paranaenses, brasilienses e paulistas que, nesta quarta-feira (11), se dividem entre a felicidade de olhar um céu em paz e o luto pelas pessoas que ainda vivem em meio à tragédia.