Quando começamos a justificar o injustificável e a aceitar o inaceitável?

Imagem de capa - Quando começamos a justificar o injustificável e a aceitar o inaceitável?

O movimento politicamente correto começou a surgir nos anos 1970 com o suposto propósito de defender determinados grupos, como mulheres, negros, indígenas, homossexuais e pessoas com deficiência. Porém, em vez de uma defesa realmente efetiva, a proposta se limitou a proibir o uso de palavras e expressões consideradas “ofensivas”. Cinco décadas depois, estamos em um momento obscuro da história, quando tudo pode ser ofensivo desde que alguém se “sinta” ofendido. Inclusive, a palavra obscuro, que acabo de usar, cujo significado, segundo o Dicionário Oxford, é “que não é claro para o espírito, que é difícil de compreender, de explicar, que está sem luz”, pode, por si só, já ser motivo de ofensa para alguns.

O que parecia ser algo criado para defender “minorias”, passou a ser usado como arma de ataque à liberdade de expressão da maioria. Aliás, a narrativa inicial já se equivoca ao classificar mulheres e negros como minoria, uma vez que, no Brasil, 51,5% da população é composta por mulheres e 55,5% se declararam pretos ou pardos no Censo de 2022.

Para angariar adeptos e ganhar força, o politicamente correto vem trabalhando duro para incutir na mente da população que pessoas de certos grupos são vítimas inatas e que, portanto, merecem ser privilegiadas e defendidas. E, obviamente, a definição desses privilégios e a suposta defesa de que necessitam só podem ser oferecidas pelo movimento.

Não seria esse um dos motivos que têm feito a maioria aceitar comportamentos inaceitáveis e a justificar o injustificável? Não é difícil ouvirmos frases do tipo: “Ela ‘surta’ com todo mundo, mas coitada, ela deve ter uma rotina puxada.” “Ele não respeita ninguém, mas é porque teve uma infância muito difícil.” “Ele não é competente, mas é porque estudou em escola pública.”

De justificativa em justificativa, chegamos ao ponto de nos surpreendermos quando somos bem atendidos em qualquer estabelecimento, quando alguém cumpre sua obrigação, a agradecermos quando somos tratados com algum respeito e nos sentimos profundamente aliviados quando terminamos uma reunião de trabalho ou qualquer interação social sem termos sido condenados pela patrulha do idioma.

Estamos esquecendo de que respeito só existe quando há limites e que onde faltam limites sobra desrespeito. É preciso que voltemos a ser a sociedade cordial, simpática e carismática que costumávamos ser. Devemos partir do princípio de que não é justo jogar nossos problemas sobre pessoas que não os causaram e que nada têm a ver com eles. Uma sociedade verdadeiramente correta não precisa se esconder atrás da narrativa politicamente correta que, por sua vez, apenas nos divide jogando uns contra os outros.

Saiba mais:

Leia as demais matérias dessa e de outras edições da Folha Universal, clicando aquiFolha Universal, informações para a vida!

imagem do author
Colaborador

Por Patricia Lages, jornalista / Foto: Fizkes/Getty images