Quando só um parceiro não basta
Relações abertas e poliamor mostram uma nova forma de se relacionar. Conceitos que desafiam a prática da monogamia e mudam o significado do casamento
Você já ouviu falar em poliamor ou relação aberta? O primeiro, segundo especialistas, envolve sentimento (a palavra é formada pelos termos poli, do grego, que significa muitos ou vários; e amoré, do latim, que equivale a amor) e o segundo apenas prazer carnal. São relacionamentos que incluem mais de duas pessoas, em geral três ou mais parceiros, de forma consensual, ou seja, todos sabem da existência dos outros envolvidos e concordam que seja assim. Esse tem sido um assunto recorrente nos dias atuais, uma vez que é uma prática comum entre os jovens.
Recentemente o jornal norte-americano Daily Mail expôs a história do casal Gracie, de 48 anos, e Oz, de 41 anos. Ambos admitiram ter relações sexuais extraconjugais e afirmaram na entrevista que isso ajuda a manter a “chama acesa”. “Ser poliamoroso me ajuda a ter uma vida sexual melhor não só fora mas também dentro do casamento. É bom explorar, ter novas experiências, mas também é legal pegar esse conhecimento e trazer para a minha relação com a Gracie”, contou Oz.
A esposa revelou que os filhos sabem e que ela não abre mão dessa condição. “Fazer sexo fora do casamento me torna uma mãe fantástica, pois qualquer coisa que me deixe feliz e me dê energia faz com que eu seja uma mãe melhor. Se meus filhos pedissem para que eu parasse, não o faria, pois não posso deixar de ser quem sou, não poderia deixar de viver a vida de que gosto.”
Assim, em um convívio como esse, homem e mulher têm o direito de sair, ficar, beijar, transar com outras pessoas sem que isso ocasione o término da relação. Mas será que é possível mesmo aceitar e presenciar o parceiro sair com outros e, mesmo assim, ser feliz?
Especialistas afirmam que não. Por mais que, ao incentivar essas práticas, a sociedade tente passar uma imagem de modernismo há uma fuga clara de si mesmo. “Como psicóloga, o que percebo em meu consultório é que cada dia mais as pessoas estão carentes de aceitação, de amor, de respeito e de intimidade. Com isso, muitas vezes buscam essa realização em qualquer e em todo tipo de relacionamento. Infelizmente, na maioria das vezes, essa pessoa sairá mais ferida da situação do que quando entrou nela”, explica a psicóloga Alessandra Souza de Amorim.
Influenciada por más experiências
Esse foi o caso de Alexandra Regina Lavado (foto ao lado), de 40 anos, podóloga. Ela viveu quase 20 anos de sua vida aceitando qualquer tipo de relacionamento para tentar se sentir realizada. Ela se submeteu a relações abertas e conta por que essa foi a pior escolha que fez. “Comecei a vida amorosa aos 17 anos, mas o que mais marcou foi a experiência de ter aceitado ir a casas de swing com um ex-parceiro quando estava com 35 anos”, revela.
Antes desse episódio, a podóloga teve uma vida repleta de sofrimento. “Me casei pela primeira vez aos 23 anos, mesmo com meus pais sendo contra. Na lua de mel, apanhei muito e ali começou o inferno. Passei anos casada, aceitando traições, tolerando maus-tratos até que, anos depois, ele foi assassinado”, conta.
Depois que ficou viúva, Alexandra passou a se envolver com outras pessoas e a ser adepta do poliamor. “Aparentava que não me importava que tivessem outras pessoas envolvidas no meu relacionamento, mas no fundo aquilo me incomodava. Eu não acreditava mais no casamento. Influenciada por um novo companheiro e por amigos, passei a frequentar casa de trocas de casais”, se recorda.
A psicóloga Suse Camacho ressalta que, assim como aconteceu com a podóloga, o medo de ficar só, a carência afetiva e a baixa autoestima podem também contribuir para a prática da relação aberta. “Caso a pessoa não esteja segura das suas qualidades e não tenha confiança na importância do seu ser, ela pode aceitar qualquer condição para estar acompanhada. A dor da rejeição é maior do que o sofrimento de estar agindo contra sua consciência. Então, ela opta em agir contra seus princípios apenas para não ter de ficar só com seu próprio julgamento”, observa.
Alexandra descobriu que precisava superar as más experiências ao participar das palestras da “Terapia do Amor”. “Aos 35 anos sofri um acidente gravíssimo. E depois disso fui convidada por minha mãe para ir à Universal. Por estar naquela situação, a voz do sofrimento falou mais alto e vi que tinha que vencer o orgulho para superar meus traumas. Ao participar das palestras tudo mudou. Hoje estou solteira, mas feliz e preparada para um relacionamento verdadeiro e monogâmico”, diz.
Aceitação por medo
Elisângela Klaus Magalhães (foto ao lado), de 34 anos, estudante, relata que aceitou o fato de o ex-
parceiro ter outras mulheres porque tinha medo. “Eu sabia que ele saía com outras, mas eu achava que aquele relacionamento era o máximo que eu conseguiria. Pensava que todos os homens eram iguais e que se eu não tolerasse aquilo acabaria sozinha”, conta.
Ela diz que o ex-companheiro a rejeitava, mas, mesmo assim, era ela quem sustentava a casa. “Ele saía sem mim. Não queria procurar trabalho, era acomodado. Eu ainda o buscava nas festas ou nos lugares que ele ia”, acrescenta.
Quando ele assumiu uma nova namorada (apesar de estar com ela), Elisângela chegou ao limite e decidiu terminar a relação. No entanto, o término a levou à depressão. “Foi uma humilhação total. Eu tentava preencher um vazio e me sujeitei a tantas coisas, mas eu não aguentava mais aquilo. Um dia dei um basta, ele me agrediu em público e eu contei para a namorada dele que eu também era namorada. Tentei o suicídio depois desse episódio”, se lembra.
Elisângela ainda buscou reatar o romance com esse rapaz, mas, sem sucesso, decidiu voltar para as noitadas e conheceu o atual esposo. “Ele estava afastado da Universal e, ao iniciarmos a relação, ele dizia que eu era muito perturbada. Isso o levou de volta à igreja. Um dia fui com ele e de lá para cá tudo mudou”, afirma.
Ela diz que entendeu o real significado da família e do valor próprio. “Começamos a participar da ‘Terapia do Amor’ e entendi que era possível alcançar a felicidade na vida amorosa sem precisar me submeter ao que achava errado. Nos casamos na Celebração dos Casamentos no último dia 30 de março e estou realmente feliz”, destaca.
Fuga de si mesmo
Ramiro Mendes Maranhão (foto ao lado), de 57 anos, empresário, está hoje no quarto casamento e revela que esse é o primeiro em que está com uma única mulher. “Não fui fiel em nenhum dos meus casamentos anteriores. Mesmo casado, me sentia disponível e também estava à procura de novas aventuras e de noites de sexo. Eu saía para me encontrar com amigos em bares e baladas como se fosse solteiro”, afirma.
Como não conseguiu que as parceiras aceitassem essa condição, ele passou a mentir. “As datas comemorativas como aniversários, Natal, Ano-Novo, Dia das Mães, Dia dos Namorados, jantares em família e feriados eram sempre um grande incômodo, pois não se pode estar em vários lugares ao mesmo tempo, então, minha ferramenta número 1 era dar desculpas”, recorda.
Como mentira tem perna curta, não demorou muito para as ex-esposas descobrirem os casos de Ramiro. “E os relacionamentos foram se desfazendo um a um. Eu vivia no fundo do poço, mas achava que era um grande conquistador. Para os homens do mundo, cada nova conquista representa um novo troféu. Com 38 anos, já estava na terceira separação, com uma lista de decepções e sem memória afetiva, uma vez que meu passado me condenava. Não queria olhar para o futuro”, diz.
Mesmo arrependido, ele decidiu engatar um novo relacionamento quando conheceu a empresária Lídia Maria Cunha da Costa, mas este seria diferente de todos. “Ela me convidou para ir à ‘Terapia do Amor’. Sempre vi a Lídia como uma mulher diferente e minha consciência pesava. Eu sabia que ela não merecia sofrer pelos mesmos erros que eu tinha cometido antes. Algo me incomodava muito para que mudasse”, conta.
Em meio a esse desconforto, ele aceitou ir às palestras. “No meio da reunião, o palestrante convocou os homens que queriam mudar de vida para que fossem até o Altar receber uma oração. Me levantei e, a partir daquele momento, nunca mais fui o mesmo homem nem cometi os mesmos erros. Percebi, dia a dia, minha mudança de caráter e comportamento”, revela.
Casado há 14 anos, ele afirma que hoje entende a real importância e o significado do casamento. “Eu era muito ignorante antes. Via o matrimônio como um passatempo e não com seriedade. Hoje sei o que significa o amor verdadeiro. Admiro a fidelidade e vivo isso. Passo esses novos valores para meus filhos”, conclui.
Por que ser monogâmico
Você sabia que as sociedades poligâmicas são violentas? Segundo um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, se a poligamia fosse regra o mundo seria mais violento, com altas taxas de estupros e homicídios. O estudo concluiu que a monogamia reduz a violência.
Deus já sabia disso muito antes de criar o ser humano. A poligamia nunca foi estabelecida por Deus para nenhum povo. A Bíblia revela que aqueles que a praticaram tiveram resultados ruins em suas vidas. Por isso, para o cristão, ser fiel é uma das exigências da fé.
O casamento é uma instituição estabelecida por Deus e a monogamia é um comportamento mostrado em Sua Palavra. A Bíblia aponta isso em diversos livros. O próprio Senhor Jesus disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” (Mateus 5.27,28).
O palestrante e apresentador Renato Cardoso explica que, desde o começo, Deus criou o homem e a mulher para complementarem um ao outro. “O homem foi chamado de marido, que quer dizer “cuidador”. Seu papel principal é o de cuidar de sua esposa. Uma rápida olhada no dicionário lhe dará uma longa lista de significados da palavra cuidar: responsabilizar-se por; prestar atenção a; interessar-se por; pensar em; proteger; tratar bem; etc.”, afirma.
A mulher, por sua vez, foi chamada de “auxiliadora” de seu marido. “E a lista de significados para o verbo auxiliar ou ajudar é ainda mais longa. Não há como errar na interpretação. Uma competição sadia de quem faria mais bem ao outro. Isso é amor de verdade. Infelizmente, muita coisa mudou desde então. Muitos têm entrado no casamento pensando em se servir da outra pessoa, não em servi-la”, acrescenta.
Saindo das leis das Escrituras e voltando-se para a vida emocional, a pergunta que fica é: quem é que gosta de ser trocado ou usado? A psiquiatra Hebe de Moura afirma que relações abertas duram pouco e, por isso, é muito importante construir um relacionamento com base sólida. “Qualquer relação humana, quando não se apoia em bases firmes, em valores sólidos e em respeito mútuo, tende a dar errado. A monogamia é o único tipo de relação que pode levar o indivíduo a níveis de amor, de prazer e de completude que só quem sabe o que a monogamia proporciona pode avaliar”,
conclui.