Quanto custa a felicidade?
Enquanto nas redes sociais muitas pessoas vendem a ideia da vida perfeita, atrás das telas elas mergulham em uma busca obstinada por realização
Apesar de todas as pessoas passarem por dias de dificuldade e até mesmo momentos de tristeza, eles não ficam estampados nas fotos exibidas nas redes sociais. No mundo on-line impera uma verdadeira ditadura da felicidade, em que todos são bem-sucedidos, realizados, divertidos e extremamente felizes. E aqueles que não se enquadram nessas características são praticamente excluídos, como se tivessem fracassado.
Esse cenário não é novo nem surgiu com o advento da internet – muito pelo contrário. A internet apenas expôs o que antes era chamado de vida de aparência, um comportamento em que as pessoas esbanjam alegria e realização na presença de outras, mas, na realidade, vivem conflitos que só os mais íntimos têm ciência.
E foi justamente para dar uma forcinha para aqueles que se veem sem rumo que, ao longo dos anos, uma verdadeira indústria da felicidade se desenvolveu com base em livros de autoajuda, palestras motivacionais e cursos destinados aos que estão incomodados com suas próprias existências. A luta pela vida “perfeita” pode incluir ainda a busca por símbolos de status. Mas o que poucos se questionam é: o que é essa tal felicidade? “A felicidade é um estado, algo efêmero, que se constrói, fica por um determinado tempo e é mutável, ou seja, varia de pessoa para pessoa. Isso porque tem muito a ver com o histórico que cada um carrega dentro de si para reconhecer seu estado como de alguém feliz ou infeliz”, explica a psicóloga Joana d’Arc Sakai.
Assim, a felicidade deve ser entendida como algo individual e não padronizado, como vemos hoje. Afinal, nem todo mundo se sente bem fazendo as mesmas coisas, estando nos mesmos lugares ou falando sobre os mesmos assuntos. Somos seres individuais, com características únicas, e precisamos respeitar nossa própria personalidade, em vez de cedermos a parâmetros impostos de felicidade.
Aqueles que se deixam levar pelo que veem tendem a se comparar. E assim, por mais que estejam satisfeitos com sua condição atual, sentem necessidade de conquistar o que o outro tem para alcançar o estado de felicidade que o outro supostamente atingiu. Esse movimento de ficar competindo para ver quem chega mais longe pode ter um efeito contrário e gerar frustrações, sentimento de tristeza e até ansiedade e depressão.
BUSCA SEM FIM
A vida do ser humano, querendo ou não, tem um prazo de validade. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 a expectativa de vida estava em 76,6 anos. Mas, claro, uns vivem mais e outros menos. De qualquer forma, esse tempo é curto para ficar correndo atrás de coisas que prometem felicidade.
Quantos vivem esperando o final de semana para se sentirem alegres ou dizem: “quando eu arrumar um emprego serei feliz”, “quando for promovido serei realizado”, “preciso me casar”, “agora, para ser completa, preciso de um filho”? Mas será que quando a vida entrar completamente nos eixos haverá felicidade? Quem coloca o sentido da sua vida no que está do lado de fora uma hora percebe que, a cada vitória, surge uma nova necessidade. Viver assim é estar condenado a um ciclo constante de altos e baixos. “Se a pessoa não se sente feliz com aquilo que ela em tese programou para ser, é porque ela precisa cada vez mais de estímulos para encontrar momentos felizes. Na verdade, a felicidade é procurada por causa de uma falta, de um vazio da alma. Quando uma pessoa se basta naquilo que ela já é, ela procura o ser e não mais o ter. Já aquele que não está bem internamente, fica buscando no lado externo algo que nunca vai encontrar”, diz Joana.
A ilusão do consumo
A ciência trouxe muitas pesquisas que conseguiram unir assuntos subjetivos, como a felicidade, a reações que acontecem dentro do cérebro. E é lá que a liberação de quatro hormônios foi associada às sensações de prazer, de bem-estar e de alegria. São eles: endorfina, serotonina, dopamina e oxitocina. A grande questão é que, na maioria das vezes, eles são liberados mediante estímulos, ou seja, dependem de fatores externos. Uma das formas mais comuns de liberação desse quarteto da felicidade é por meio de compras, detalha a psicóloga: “felicidade e consumo estão lado a lado, sobretudo na internet. Isso teoricamente traz felicidade? Traz momentaneamente, pois o que se quer preencher não é feito com o que foi comprado. Como esse preenchimento [por meio das compras] não é suficiente, a pessoa vai continuar comprando. A situação causa frustração, levando a quadros clínicos, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)”. O mesmo se repete com aqueles que investem em viagens, restaurantes caros e passeios exóticos em busca de bem-estar.
Onde ela está?
Segundo o Bispo Edir Macedo, para se alcançar a felicidade, é preciso, antes, tomar posse da vida. “Enquanto a pessoa estiver espiritualmente morta nos seus delitos e pecados, como alcançar a felicidade? Impossível.
Primeiro, ela precisa ressuscitar. E, para tanto, ela tem que buscar o Autor da Vida”, escreveu em seu blog. E buscar a Deus significa deixar de lado as próprias opiniões para se guiar pela Palavra dEle. “Enquanto a pessoa não tiver o Espírito de Deus, ela será infeliz, pois o Espírito de Deus é o criador da vida. Deus não quer apenas fazê-lo feliz, mas quer que você venha a jorrar felicidade por onde passe e que não fique na dependência de ninguém para ser feliz, porque a felicidade só vem de Deus”, disse o Bispo durante uma edição do programa Palavra Amiga.
A partir daí, ainda existirão metas, novos sonhos e objetivos, mas eles não estarão em primeiro lugar. “Se eu me alio com Deus, coloco a minha vida no Altar e vivo em função dEle. Ele vai guiar os meus pensamentos para que eu escolha aquilo que vai me fazer feliz”, concluiu.