Quem você é quando ninguém está te vendo?
É nos momentos em que você está sozinho que sua imagem desmorona, sua verdadeira essência se revela e a sua natureza humana é capaz de denunciar você. Entenda por que isso acontece
Quais são os seus pensamentos e as suas atitudes quando você não está sendo observado por alguém? Nos momentos em que se vê sozinho, é natural que o ser humano se incline às suas fragilidades. Contudo, quando está sendo notado, muitos desejam passar uma boa impressão, serem admirados e até aplaudidos, ainda que seu comportamento ou intenção momentânea não sejam verdadeiros. Em entrevista exclusiva para a Folha Universal, o Bispo Marcio Carotti salienta que há dois fatores que influenciam uma pessoa a se comportar dessa forma: “muitas não expressam o que realmente pensam, pois se preocupam excessivamente com o julgamento e a reprovação dos outros. Outras, por sua vez, acabam transmitindo uma imagem de falsidade ao tentar manter uma aparência que não condiz com sua verdadeira essência”.
Esse comportamento é considerado normal por inúmeras pessoas, inclusive nas redes sociais, como temos visto atualmente. Por meio delas, muitos indivíduos, vazios no íntimo, tristes e depressivos, lutam para transmitir, por meio de posts, felicidade, ostentação e coragem inexistentes. Mas, apesar de passarem uma boa imagem de si próprios, acabam vivendo com “dupla personalidade”: uma delas é externalizada quando estão acompanhados e outra quando estão sozinhos, quando retiram uma espécie de máscara que usam e revelam quem realmente são. É quando ninguém os está vendo que eles cedem às suas vontades e aos seus interesses, como, por exemplo, enganando alguém via celular para obter uma vantagem financeira, buscando prazeres na pornografia, traindo seus cônjuges, mentindo para se livrar de problemas, caindo na tentação de um vício, etc. Além disso, é quando está sozinho que o ser humano pode dar vazão aos maus sentimentos e a pensamentos profundos – aqueles que que ninguém pode saber. Contudo esse comportamento gera inquietação, afinal, como ter paz ao fazer algo ruim e correr o risco de a qualquer momento ser descoberto? “Nossa consciência é o juiz interno que nos condena ou nos absolve. Quem vive uma vida dupla geralmente já sabe disso. A consciência traz as consequências à tona. O problema é que muitos não querem mudar”, ressalta o Bispo.
A verdade é que ninguém pode se esconder a vida inteira e a máscara pode ser convincente por um tempo, mas e depois? O fato é que, quando a verdade vem à tona, as consequências também surgem. A Palavra de Deus afirma em Lucas 12.2: “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido” (Lucas 12.2). O Bispo Carotti explica esse versículo: “as consequências invariavelmente se manifestam. Entre elas estão decepções, perda de confiança e uma série de sentimentos negativos que afetam tanto a pessoa quanto os que estão ao seu redor”.
Você nunca está só
Será que não estar com alguém próximo significa que você está realmente sozinho? Vamos recorrer às Sagradas Escrituras. Lemos na passagem de Hebreus 4.13 que “não há nada no mundo que possa ser escondido de Deus” e em 1 Pedro 5.8 que “o diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar”. Ou seja, nunca estamos realmente sozinhos e, conforme destaca o Bispo Carotti, é nesses momentos que pensa que está só, inclusive, que o diabo aproveita a nossa vulnerabilidade perante nossas fraquezas para explorá-las, nos incentivando a cedermos às tentações, como nos exemplos citados anteriormente.
O antídoto para a hipocrisia e os comparsas dela
Se a natureza do ser humano já é inclinada para o mal, (Gálatas 5), como não viver de aparência, no engano e na hipocrisia? A resposta está no temor a Deus, quando se entende que nada foge dos olhos dEle e, como observou o Bispo Carotti, “se lembrando de que um dia prestaremos contas a Deus, que vê tudo e não apenas aos homens. Essa consciência deve guiá-lo a viver de maneira transparente e íntegra”.
Quando a pessoa tem comunhão com Deus, ao se ver sozinha, ela age da mesma forma de quando está acompanhada e, diante de debilidades, procura ajuda no Salvador para não ceder à sua carne pecaminosa. Ela faz o que está descrito em Tiago 4.7: “Sujeitaivos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. O Bispo Carotti explica que uma pessoa que está conectada a Deus, mesmo quando ninguém a vê, se envolve com tarefas que fortaleçam seu espírito, em vez de ceder às inclinações humanas. “Devemos nos esforçar para nos envolvermos continuamente em atividades que nutram o espírito, afinal a proximidade com as coisas espirituais nos fortalece contra as tentações”, orienta.
“Eu fingia para mim mesmo”
A assistente social Jussara Alves, de 38 anos, cresceu em um lar cristão e, diante das pessoas, ela era uma adolescente dedicada às atividades da Igreja. Contudo ela diz que não conhecia a Deus de fato. “A minha ida à igreja era apenas para agradar aos meus pais e, aos 15 anos, não mantive mais essa imagem e quis buscar a minha própria identidade”, revela.
No afã de obter certa liberdade, ela foi ludibriada pelo encanto do mundo. Os desejos dela que até então eram escondidos e disfarçados passaram a ser expressados dia após dia. “Mesmo dentro da igreja, eu já tinha vontade de fazer as coisas do mundo, como beber, ir para shows, conhecer pessoas diferentes e viver como as meninas que eu via. Então, passei a fazer o que tanto desejava”, afirma. Levar a vida conforme a sua própria vontade passou a ser a prioridade dela, conforme esclarece: “era como se eu estivesse vivendo um sonho. Para ser vista como uma ‘garota diferente’ e chamar atenção, fiz tatuagens, coloquei piercings e tive vários relacionamentos”.
Mas esse sonho colorido passou a ser invadido pela escuridão quando, aos 16 anos, Jussara sofreu um abuso sexual do rapaz com quem mantinha um relacionamento casual. “Desde então, passei a ficar com vários rapazes, conheci a maconha e tentava preencher meu vazio com muitas coisas. Aos 19 anos, descobri que sofria de síndrome de borderline. Eu era fria, agressiva e não tinha personalidade definida”, descreve. Assim como aconteceu na época que ela frequentava a Igreja, viver de aparência também passou a ser seu modo de se portar diante das pessoas que a rodeavam. “Eu demonstrava que era uma pessoa alegre, divertida e rodeada de amigas, mas, na verdade, era egocêntrica e enfrentava um vazio profundo e não sabia quem realmente eu era”, ressalta.
Jussara estava perdida em muitos caminhos e, segundo ela, não pensava mais em Deus. Seu orgulho era tão grande que ela não reconhecia que estava apenas sobrevivendo. “Eu não era falsa com as pessoas, mas eu fingia para mim mesma. Vivia uma dupla personalidade e, quando estava sozinha, o vazio me consumia”, diz. Contudo ela ainda continuava se dedicando a viver no engano e logo entrou em um novo relacionamento que parecia que, dessa vez, seria um sonho. Até que se tornou um pesadelo novamente. “Fazíamos várias viagens e mostrávamos ostentação, mas o que esse relacionamento me trouxe foi o envolvimento com mais drogas, como a cocaína, os abusos e até fui mantida em cárcere privado”, revela.
Foram quatro anos vivendo dessa forma e, sofrendo muito, Jussara foi cada vez mais para o fundo do poço. Apesar disso, ela não abria mão do orgulho: “quando via o perigo, eu lembrava de Deus e apelava em oração para que Ele me livrasse, mas era algo momentâneo, pois o medo de perder as pessoas ou a posição que eu tinha diante delas era maior”.
Ela permaneceu assim por mais 12 anos e, completamente no fundo do poço, Jussara se viu sozinha, sem vontade de viver, com crises de pânico, ansiedade e insônia, recorrendo a remédios e bebidas alcoólicas para dormir e prestes a perder o casamento. Então ela, enfim, aceitou o convite de seu marido (Marciano Gomes Rocha) para ir à Universal, encarou sua realidade, se arrependeu de quem era e, assim, pôde dar início a uma nova história. Hoje ela, segundo diz, tem sua vida livre dos vícios, do passado, dos traumas e de tudo que a movia para se manter no engano. “Eu nasci de novo. Reconheço que viver longe da Presença de Deus é uma ilusão e que precisamos ser nós mesmos e viver de acordo com a Sua Palavra para que, assim, encontremos a verdadeira alegria”, conclui.
A falta de sinceridade custou sua paz
Iludido pelos benefícios que teria, o autônomo Cristiano Ribeiro, de 42 anos, se envolveu com o tráfico de drogas aos 17 anos. “Eu sempre tive uma boa educação, mas, por conta de amizades que ostentavam o que tinham, saí de casa para me dedicar ao tráfico e ter o mesmo que os ‘amigos’ tinham. Foi quando me envolvi com a maconha”, conta.
Passado algum tempo, ele foi detido pela polícia e obrigado a cumprir medidas socioeducativas por dois anos. Entretanto, ao sair da unidade, voltou para o tráfico, passou a praticar também assaltos e cometeu até um homicídio.
Aos 20 anos, Cristiano conheceu a fé ensinada na Universal, mas não se firmou com Deus porque não queria abrir mão de suas vontades. “Fiquei 12 anos na igreja, mas sem me entregar de verdade e fui me afastando fisicamente. Deixei Deus de lado pelas coisas materiais”, declara.
Foi quando, já casado, ele e sua esposa [Karina Mara Silva Ribeiro] decidiram começar um negócio próprio. A princípio, tudo seguia aparentemente bem, mas, no íntimo, Cristiano sabia que estava mal. “O vazio na alma era imenso e, então, eu recorria às drogas. Como elas já não faziam mais efeito, eu quis usar crack e, assim, começou o fracasso total”, diz.
Por conta dos vícios, Cristiano não conseguia mais administrar a empresa e não pagava os fornecedores nem os funcionários. “A minha mudança de comportamento foi bem visível, pois de marido presente me tornei agressivo. Optei, então, por morar na rua”, afirma.
Por quase um ano, ele viveu nessa situação e, nesse período, realizou assaltos, até que, em um deles, foi preso de novo. “Fiquei quase sete anos recluso e foi quando conheci o trabalho da Universal nos Presídios (UNP). Nesse tempo tive um suposto arrependimento e o desejo de servir a Deus, mas, quando saí da prisão, revelei o que ainda estava dentro de mim”, confessa.
Ele diz que, quando obteve liberdade, em 2020, mostrou que ainda vivia no engano, apesar de continuar frequentando a Igreja. “Foram ainda quase dois anos sem deixar os erros, como mentiras, traições e vícios. O orgulho e o desejo do pecado falavam mais alto e, por isso, eu não tinha o verdadeiro encontro com Deus”, conta.
Em 2022, sem aguentar mais administrar a hipocrisia e as máscaras que usava e sentindo o vazio consumir seu interior, ele se abriu para Deus, como detalha: “fui sincero com Ele. Queria a minha Salvação e, por isso, me arrependi verdadeiramente e me entreguei de corpo, alma e espírito”.
Depois de tomar essa decisão, ele recebeu o Espírito Santo e seu interior foi transformado, o que refletiu em todas as áreas de sua vida. “Hoje, tenho paz e nunca mais tive recaídas. Sou completo na minha família e Deus tem abençoado nossos projetos. Posso dizer que não vivo mais de aparência e sim com sinceridade diante do meu Senhor”, finaliza.
“Vivo de aparência. O que devo fazer?”
Se você, caro leitor, reconhece que tem vivido usando uma máscara diante das pessoas ou até mesmo se autoenganando e, quando está sozinho, sem ninguém que o veja, cede aos desejos da sua carne, ao pecado, saiba que nada está perdido. Contudo, para mudar sua situação, é necessário reconhecer quem realmente você tem sido – afinal, Deus já sabe. Se você quer de fato ter uma vida diferente, é preciso que se arrependa do modo como tem levado a vida e passe a andar na Justiça e na Verdade, temendo a Deus e obedecendo a Palavra dEle. Nesse sentido, é necessário que haja sinceridade de sua parte, pois o único pecado que a Cruz não absolve é a hipocrisia e isso pode ser compreendido na passagem do Senhor Jesus pela Terra. Ele nunca rechaçou os pecadores, tampouco os ladrões, as prostitutas e os doentes, mas sempre foi rude com os religiosos, porque eram hipócritas e, inclusive, os chamava de “raça de víboras” (Mateus 12.34).
Reconhecer que está vivendo no engano pode ser realmente difícil, mas é indispensável para encontrar o perdão, a misericórdia e a benevolência de Deus. Ele não exige perfeição de você, mas a sinceridade em dizer “eu sou o que sou” e de reconhecer sua real condição. Faça isso agora: encare quem você é, sem máscaras, e passe a viver sob o Seu temor, tanto diante das pessoas como nos momentos em está consigo mesmo.
E lembre-se que a mudança depende de uma decisão e não de um sentimento. “Geralmente, o ponto de virada acontece quando a pessoa se cansa da forma que vive. Esse é o momento que ela pode começar a buscar mudanças”, instrui o Bispo Carotti. Quer saber qual é a melhor hora para tomar essa decisão? Veja o conselho do Bispo Carotti: “o melhor é agir o quanto antes. A vida é passageira e a oportunidade de mudança pode acabar em um piscar de olhos. Faça isso agora!”
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