Racismo: uma questão histórica, moral e social

A discriminação por conta da cor da pele segue presente em nosso dia a dia e precisamos nos conscientizar para erradicar esse crime

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Qual é o tom da sua pele? O Censo Demográfico de 2022 mostra que a população brasileira é formada por 45,3% com cor de pele parda, 43,5% branca, 10,2% preta, 0,6% indígena e 0,4% amarela. Essa variedade de tons decorre da miscigenação que transformou o Brasil nesse país tão rico em cultura, etnias e tradições.

Só que, mesmo em um país tão diverso, ainda temos um grande caminho a percorrer na luta contra o racismo. Um levantamento do Datafolha aponta que 59% dos brasileiros consideram que a maior parte da população no Brasil é racista. Dentre os entrevistados, 5% ainda acreditam que todos são racistas, 30% creem que a minoria é racista e apenas 4% responderam que nenhum brasileiro é racista.

Inclusive, 45% afirmam que o racismo aumentou nos últimos anos, enquanto 35% consideram que a discriminação segue igual e 20% acham que o crime está diminuindo.

O racismo é uma forma de discriminação em que o agressor considera que características físicas, como o tom de pele ou a etnia, definem o outro como superior ou inferior. E há diferentes tipos de racismo: o individual, que é praticado por uma pessoa contra outra; o institucional, caracterizado por práticas e normas em instituições que contribuem para a desigualdade; o estrutural, enraizado nas estruturas da sociedade e que influenciam no acesso aos direitos básicos; e o cultural, que se define pela desvalorização ou tentativa de apagar a cultura e as tradições de determinado grupo.

O que leva alguém a ser racista?
A pesquisa ainda revela que 56% dos entrevistados consideram que a discriminação racial está evidente na atitude das pessoas, como ter medo de ser assaltado ao ver um negro na rua, por exemplo. E o que está por trás disso? “O racismo é um fenômeno complexo que pode ser influenciado por diversos fatores sociais, históricos, culturais, psicológicos e até estruturais. Algumas razões que levam alguém a ser racista são educação e socialização, ignorância e desconhecimento, história e cultura, medo e insegurança e a psicologia”, diz o psiquiatra Pérsio de Deus.

Sejamos realistas: acreditar que a cor da pele é fator determinante para valorizar ou desvalorizar alguém é algo doentio. Na pesquisa Percepções sobre o Racismo no Brasil 2023, organizada pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto Seta (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista), com dados coletados pela Inteligência em Pesquisa em Consultoria Estratégica (Ipec), 81% dos entrevistados afirmam que nosso país é racista e 44% consideram que a raça, a cor ou a etnia são os principais responsáveis pela desigualdade social.

Nossa luta!
“Toda e qualquer forma de marginalização, discriminação, desrespeito e humilhação trazem prejuízos irreparáveis às vítimas”, diz Pérsio. Por isso, desconstruir o racismo é essencial e essa é uma guerra que travamos há séculos. Ele lembra que essa luta ainda enfrenta várias barreiras, como a herança do racismo estrutural, que vem desde o período do escravagismo, que durou mais de 300 anos; a negação do racismo, já que no País se propaga a “democracia racial”, um mito que sugere que não há discriminação aqui; a desigualdade socioeconômica, pois a maioria das pessoas abaixo da linha de pobreza é negra ou parda; o racismo institucional, presente na polícia, no sistema judiciário e educacional e no mercado de trabalho; a baixa representatividade, seja entre as pessoas em posição de poder, na mídia, na política ou nos espaços acadêmicos; a naturalização do preconceito, quando o racismo, muitas vezes, é tratado como uma questão de “opinião”; a resistência às políticas públicas que buscam a equidade social, como o sistema de cotas; a educação deficitária sobre o tema, que o trata como algo do passado; e a própria violência racial no âmbito psicológico, pois, além da violência física, o racismo também se manifesta por meio de agressões verbais e estigmatização.

“Superar essas dificuldades exige esforço conjunto de governos, organizações da sociedade civil e cidadãos para o estabelecimento de políticas públicas eficazes, educação antirracista e mudanças culturais profundas”, declara Pérsio. Como fazer isso? O primeiro passo é reconhecer que o racismo realmente existe e está presente no dia a dia de diferentes formas e em todos os locais. O segundo é examinar os próprios preconceitos pessoais, pois “todos precisam identificar e questionar os preconceitos inconscientes ou aprendidos ao longo da vida e esse trabalho exige autocrítica e disposição para mudar”. O próximo passo é aprender sobre o racismo, suas origens históricas e manifestações contemporâneas, porque o conhecimento é a melhor forma de darmos voz a esse problema e conscientizarmos outras pessoas.

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Colaborador

Laís Klaiber / Foto: RyanJLane/getty images