Sinceridade

Em um mundo de falsas aparências, estas pessoas chamaram a atenção de Deus com uma atitude mais simples do que muitos imaginam

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Semanalmente, há mais de 30 anos, é possível ler neste jornal histórias de transformação de vida por meio da fé em Deus. Esses casos, em geral, são considerados impossíveis de serem resolvidos, humanamente falando. Apesar de os protagonistas das histórias serem diferentes, todos têm em comum algo que Deus procura: a sinceridade. As pessoas à esquerda, por exemplo, passaram por várias dificuldades, mas foram sinceras a respeito de quem eram e de suas necessidades, angústias e pecados. Assim, elas alcançaram a mudança que buscavam. Somente as pessoas que tiram a máscara e se mostram para Deus podem dar início à verdadeira transformação interior.

No início da Criação, havia uma perfeita harmonia entre Deus, Adão e Eva. O casal não precisava fazer nada para entrar na Presença de Deus porque ela era permanente. Eles eram tão puros quanto Deus, mas, quando os dois O desobedeceram, se contaminaram com o pecado e se excluíram da Presença do Altíssimo.

Desde então, só há uma maneira de o homem ter de novo acesso à Presença de Deus: manifestar perfeita sinceridade. “Deus não exige que ele seja perfeito, limpo, santo, sem pecado. Ele tem que apresentar um desejo sincero de querer estar de novo com Deus, ter comunhão com Ele”, esclarece o Bispo Edir Macedo.E se nós, humanos e falhos, não resistimos quando alguém nos pede ajuda com sinceridade, Deus, que é perfeito e rico em misericórdia, também não. E uma prova disso é que todos os que iam até o Senhor Jesus sem fingimentos eram perdoados. Por outro lado, as únicas pessoas que Ele repudiava eram os falsos e hipócritas (Mateus 23.27-28). Até uma árvore, que aparentou ser o que não era, foi amaldiçoada por Ele (Marcos 11.12-14; 20 e 21).

Sinceridade aprovada
O rei Davi disse: “E bem sei eu, Deus meu, que tu provas os corações, e que da sinceridade te agradas” (1 Crônicas 29.17). A sinceridade é uma qualidade tão apreciada por Deus que Ele ouve e responde a um pedido sincero, às vezes, até na hora. Já quem não é sincero, ainda que seja extremamente religioso, será descartado. “É assim que Deus escolhe aqueles que serão salvos, que serão chamados filhos de Deus, que recebem o batismo com o Espírito Santo, quer dizer, o próprio Deus em Espírito está dentro delas, e isso faz a diferença na vida de qualquer pessoa.

Quando Ele vem, Ele muda completamente o nosso caráter, a nossa maneira errada de pensar, de escolher, Ele muda tudo, Ele dá um novo coração, um novo Espírito, mas isso exige sinceridade e para a pessoa ser sincera ela só tem que ser transparente”, explica o Bispo.

O Bispo destaca que, “quando a pessoa é sincera, ela sabe que Deus sabe o que há dentro dela. Mas quando a pessoa é fingida, hipócrita, ela não quer reconhecer que Deus sabe o que há dentro dela, então ela não reconhece a autoridade, o poder e a grandeza de Deus para saber o que está dentro de si”.

Todavia a sinceridade exigida por Deus não é a de apenas ser franco sobre o que sente, pensa e vive, como muitos fazem. O mundo está repleto desse tipo de sinceridade. Quantos não são sinceros ao dizerem que não acreditam na existência de Deus? Mas essa franqueza não muda nada em suas vidas e não passa de uma certa prepotência.

A sinceridade que promove mudança é aliada à humildade, pois os que a manifestam reconhecem quem Deus é, e quem eles são diante dEle. Uma pessoa, por exemplo, pode até dizer: “Deus, eu não acredito que o Senhor exista”, contanto que ela continue: “Porém, se o Senhor existe, me mostre, e eu entrego a minha vida ao Senhor”. Dessa forma, ela tira todas as máscaras e suplica a Deus ajuda para mudar. É esse tipo de sinceridade que você pode conferir nas histórias relatadas a seguir.

Nove personalidades em uma
A musicoterapeuta Silvana Silva, de 28 anos, achava que, pelo fato de frequentar a Igreja Universal desde criança, conhecia a Deus. Entretanto, aos 15 anos, ela começou a se questionar em relação à fé e, quando três primos muito próximos morreram em um período de nove meses, ela se afastou da igreja. “A partir dali o vazio que tinha dentro de mim aumentou de tal maneira que eu passei a procurar uma forma de me preencher em pessoas, amizades e coisas”, diz. Silvana conta que, por meio dessas amizades, se envolveu em jogos virtuais na tentativa de criar uma realidade diferente da que vivia e chegava a ficar 12 horas em frente ao computador. “Eu criei nove personagens diferentes, com nove personalidades. Todas eram como válvulas de escape de acordo com o que eu queria sentir no momento”, revela.

Silvana afirma que se sentia completa no mundo on-line, mas, fora da internet, sentia um vazio tão grande que chegava a doer. E, para piorar, ela conheceu a pornografia. “Havia noites em que eu sentia literalmente o peso do mundo nas minhas costas. Eu me sentia dentro de um buraco escuro”, explica. Pensando em uma maneira de acabar com aquela dor, ela considerou acabar com a própria vida. Foi quando ela aceitou o convite de sua mãe para ir à Universal e, ao olhar para as pessoas naquele lugar, desejou ter o mesmo que elas tinham: a Presença de Deus dentro delas.

Para que isso acontecesse, Silvana decidiu que faria tudo o que estivesse ao seu alcance. “O que eu vivia no mundo virtual era algo que ninguém sabia, então eu me expus para Deus: mostrei todos os complexos, todas as angústias, as comparações que eu fazia, o próprio vício em pornografia e, principalmente, o orgulho. Reconheci que eu nunca tinha conhecido a Deus, apenas tinha ouvido falar sobre Ele. Se eu quisesse realmente conhecê-Lo eu precisava iniciar uma nova vida, colocar um ponto final nas máscaras e assumir uma só personalidade, uma só vida”, conta.

Silvana se batizou nas águas e, para andar em sinceridade, fez alguns sacrifícios: se afastou de certas amizades, cortou laços com o mundo virtual, venceu os vícios e encarou a realidade. Nesse período, ela perdeu o pai, só que, dessa vez, o luto não a levou para longe de Deus, mas, sim, para mais perto. “Foi como pegar todos aqueles personagens, colocar dentro de uma bonequinha e entregar para Ele e dizer: ‘faça o que o Senhor quiser’. E Ele pegou e fez algo totalmente novo e me entregou perfeita, completa com o Espírito dEle dentro. Eu continuo sendo uma bonequinha de barro, só que com algo muito precioso dentro de mim, que é o Espírito Santo”, afirma.

Ela garante que só há vantagens em ser sincera com Deus: “amigos e familiares podem virar as costas quando descobrem coisas a nosso respeito, mas Deus, não. Ele ama a nossa sinceridade e transforma tudo de ruim que um dia fomos e que fizemos em algo digno para honrar a Ele. Quando somos sinceros com Deus, temos a oportunidade de mudança e não há dádiva maior do que essa”, finaliza.

Sinceramente desconfiado
O analista de cobrança Davi Maciel de Martin, de 45 anos, nasceu com uma deficiência chamada artrogripose. Aos 7 meses de vida, ele passou pela primeira de 17 cirurgias e, contrariando o prognóstico de que não andaria, deu seus primeiros passos aos 7 anos de idade.

No período escolar, no entanto, os desafios começaram na vida dele. “Eu sofri muito preconceito de amigos e de professores na escola. Teve momentos de eu não querer mais ir à escola, mas, mesmo assim, eu sempre fui incentivado pelos meus pais a continuar”, revela.

Na juventude, o prazer de Davi era estar rodeado de amigos. “Rodas de samba, muitas noites de bebidas, prostituição e amizades me levaram a ter uma vida em que eu acreditava que era feliz. Mas eu era feliz só naquele momento. Quando eu chegava em casa e colocava a cabeça no meu travesseiro, batia um vazio que chegava a doer”, conta.

Foram 15 anos vivendo dessa maneira, até que Davi chegou ao limite em que não dava mais para fingir felicidade. Nesse período, ele se interessou por uma moça e ela o convidou para ir à sua casa com o intuito de se conhecerem melhor. Davi aceitou o convite, mas ele não sabia que o endereço, na verdade, era o de uma Igreja Universal, lugar que ela já frequentava. Quando chegou ao local, a jovem estava na porta esperando por ele e o convidou para o culto. “Pensei: ‘justo na Universal?’”, diz Davi. A razão da decepção era o preconceito e a forte rejeição que ele tinha a respeito da Igreja. Ele aceitou o convite para não perder a viagem, mas assistiu à reunião totalmente fechado ao que era pregado.

Ao chegar em casa, para verificar se o que tinha ouvido se tratava de uma “lavagem cerebral”, Davi foi conferir na Bíblia as passagens citadas pelo pastor. Ver que tudo batia exatamente com o que tinha sido pregado na reunião chamou sua atenção e o fez continuar frequentando a Igreja. “Eu tinha a visão de que não fazer mal a ninguém, não matar, não roubar e não passar as pessoas para trás era o bastante para conhecer a Deus. Por eu ter uma faculdade, também acreditava que todas as pessoas que frequentavam uma igreja eram coitadinhas e recebiam uma lavagem cerebral. Quando entendi que não sabia nada e que o coitado era eu, por estar longe de Deus, tive que ser humilde e começar do zero.

Eu fui eliminando tudo que desagradava a Deus, abri mão da prostituição, da bebedice, das amizades e dos lugares que não condiziam mais com a pessoa que eu desejava me tornar e comecei a colocar Deus em primeiro em minha vida”.

Davi se batizou nas águas e, ao aprender que a sua fé teria prazo de validade sem o Espírito Santo, passou a buscá-Lo intensamente. “Tudo mudou na minha vida a partir do dia em que recebi o Espírito Santo”. Hoje, casado há 16 anos com a jovem que o convidou para ir à Igreja e com quem teve um filho, Davi serve a Deus. “Sem sombra de dúvidas, a maior vantagem de ser sincero com Deus é ter uma consciência limpa diante dEle. Não existe experiência melhor do que uma oração sincera, é um prazer imensurável”, conclui.

Sem fingimento
Você esconderia algo de alguém que já sabe de toda a verdade? Certamente não, mas é isso que uma pessoa faz quando não é sincera com Deus. Ele é Onisciente, o que significa dizer que Ele sabe de todas as coisas e sonda o mais íntimo do coração e dos pensamentos de alguém. A Bíblia mostra que, mesmo quando a palavra ainda não chegou à nossa boca, Deus já sabe o que vamos falar (Salmo 139.1-4). Sabendo disso, que tal falar com Deus agora? Mas não se esqueça: não tente fingir uma coisa que você não é.

Com ou sem cera?

É comum que, durante a secagem de vasos de barro, no calor do fogo ou do sol, alguns deles rachem. Historiadores contam que, para evitar o prejuízo, era comum no período da Roma antiga que, de forma desonesta, alguns fabricantes de vasos fechassem as rachaduras com cera, pintassem e colocassem esses vasos para vender misturados com os perfeitos. No entanto a farsa era revelada quando a peça era submetida ao calor ou usada para armazenar água. Logo, os clientes passaram a questionar se um vaso era com ou sem cera. Para informar sobre a qualidade de seus vasos, comerciantes honestos sinalizavam suas peças com uma placa escrita em latim “sine cera”, que significa “sem cera”. A expressão teria dado origem à palavra “sincera”, embora isso seja questionado por linguistas

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Colaborador

Núbia Onara / Fotos: arte sobre fotos Alst/getty images e rerodução,, Kiryl Pro motion/getty images, PeopleImages/getty images, Demetrio Koch, Tinnakorn Jorruang/getty images