Tudo pela arte?
No cartaz divulgado está escrito o seguinte: “Exército Queer incendeia igrejas e inaugura o estado laico no Brasil”
Desde o dia 15 de setembro, o Museu de Arte do Rio, localizado na região Central do Rio de Janeiro, abriu ao público a exposição “Arte Democracia Utopia – Quem não luta tá morto”. A mostra, que vai até o dia 16 de maio de 2019, reúne mais de 60 obras.
Só que entre elas há uma que chama atenção e assusta. No cartaz divulgado está escrito o seguinte: “Exército Queer incendeia igrejas e inaugura o estado laico no Brasil”. Ao lado da mensagem há uma imagem de uma granada e também de uma arma que se parece com um fuzil (veja na imagem abaixo).
Queer significa excêntrico e atualmente é uma expressão utilizada para definir pessoas que não concordam com o modelo da heterossexualidade. É também considerado uma linha de manifestação política.
Viés preconceituoso
Em entrevista ao programa “Brasil Notícias”, exibido na Rede Aleluia e na Rádio Record, o cientista político, Jorge Zaverucha explica que a mensagem exposta traz dois grandes problemas.
“O primeiro, técnico, que é confundir o que é ‘estado laico’, que não significa um estado ateu, sem religião, e sim um estado em que a religião não prevalece sobre a lei dos homens. Então, o Brasil já é um estado laico, não há nada para ser inaugurado. O segundo ponto é que há uma clara incitação ao ódio contra a religião. Não fica claro se ele está se referindo às igrejas evangélicas, às igrejas católicas, todas elas juntas. Fere, na minha opinião, o estado de direito democrático”.
Para ele, por trás do recado de que é preciso “incendiar igrejas”, há um viés preconceituoso e político, uma vez que os evangélicos mostraram nestas eleições que estão engajados com a política do país e foram cruciais para o resultado final.
“Parece-me que, pelo andar da exposição, são grupos de esquerda; é muito preocupante que uma exposição esteja sendo capaz de passar esse tipo de mensagem que não se coaduna com o espírito da democracia”.
Indignação
Para a psicóloga Cristiane Pertusi, a arte não deve incitar o ódio e nem a intolerância.
“A gente tem que ter muito cuidado, porque as manifestações artísticas podem instigar reações bastante intempestivas. Qualquer manifestação que fere o limite, o respeito ao outro já não é uma manifestação legítima”.
Os dizeres do cartaz também causaram muita indignação entre as lideranças evangélicas. “Eu quero manifestar o meu repúdio e indignação contra esse instrumento disfarçado de arte, que tem como objetivo atacar a igreja, incentivando a violência. A esquerda vem dizendo que outros geram a violência quando, na verdade, quem tem gerado esse sentimento de ódio são eles, quando incentivam a violência contra as igrejas”, comentou o presidente do Conselho Metropolitano de Pastores de São Paulo, Pastor Rudney Macedo.
A importância do respeito
O teólogo e líder do ministério Palace Apostolic Church, Apóstolo Junior Menezes, acrescenta que ninguém precisa concordar com o posicionamento das igrejas, mas o respeito deve sempre ser uma atitude obrigatória.
“Aqueles que não têm a mesma visão deveriam respeitar, não incitar a violência dessa maneira. Quando você diz ‘incendeia’ você está incentivando que as pessoas possam invadir, colocar fogo, saquear aquilo que a igreja tem e representa”, diz.
Já o Pastor Jorge Linhares, líder da Igreja Batista Getsemani, acrescenta que a intenção é de tumultuar. “Em nome da arte, pessoas estão abusando. A intenção é tumultuar ao injetar esse sentimento de agressividade à igreja, à religião, isso só gera contenda e uma resposta inesperada”.
A psicóloga Cristiane Pertusi conclui que as pessoas são diariamente influenciadas pelo que ouvem, veem e leem, por isso, dizer que se deve incendiar igrejas acaba sendo um estímulo muito negativo e perigoso.
“O Museu de Arte do Rio de Janeiro é mantido em parceria com os órgãos públicos da cidade, ou seja, há recursos públicos patrocinando uma obra que incentiva a violência, nesse caso especifico, contra as igrejas. A obra acaba promovendo um estado laico, mas ao mesmo tempo o estado acaba interferindo nessa imparcialidade que o estado tanto prega. E incentivar o ódio é muito perigoso, a gente precisa resgatar a arte como ela é”.
(*) Entrevistas concedidas ao programa “Brasil Notícias”, apresentado pelos jornalistas Ana Carolina Cury e Décio Caramigo