Uma morte trágica e um alerta importante

O falecimento precoce do cantor britânico Liam Payne revela que ninguém está imune aos vícios e suas consequências, mas é possível se livrar deles

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O cantor Liam Payne, ex-integrante da boyband One Direction, teve suas músicas entre as mais tocadas, viajou pelo mundo e era rodeado por fãs por onde passava, mas, lamentavelmente, há anos, travava uma batalha contra o vício. Apesar dele ter compartilhado no ano passado que ficou em uma clínica de reabilitação por 100 dias que o deixaram “limpo”, no último dia 16 de outubro, ele morreu precocemente, aos 31 anos, depois de cair do terceiro andar de um hotel na Argentina.

A causa da morte ainda segue em investigação, mas o exame toxicológico apontou que o cantor usou diferentes drogas, incluindo a cocaína rosa, o que levantou a teoria de que ele pode ter tido uma psicose tóxica que teria contribuído para sua trágica morte. Pérsio de Deus, psiquiatra que atua na área de dependência química, explica que a dependência química é o vício em alguma substância que, geralmente, age no cérebro alterando a percepção ou a relação com a realidade. “Já a psicose tóxica produzida por drogas é um estado de ‘loucura’ com total deformação da realidade. A pessoa pode ter alucinações, se sentir perseguida ou se sentir ‘poderosa’. Ou seja, é um rompimento completo com a realidade”, acrescenta.

Problema global

O Relatório Mundial sobre Drogas 2024 publicado pelo Escritório sobre Drogas e Crimes das Nações Unidas (UNODC) revelou que mais de 292 milhões de pessoas consumiram algum tipo de droga ao longo de 2022, um aumento de 20% em dez anos. No Brasil, o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas, realizado pela Fiocruz em 2023, aponta que 15 milhões de brasileiros admitem que já fizeram ou fazem uso de drogas ilícitas, dos quais 2,5 milhões usaram drogas nos últimos 30 dias.

A droga lícita mais consumida no mundo é o álcool, enquanto a droga ilícita é a maconha. Mas, nos últimos anos, drogas sintéticas ilícitas vêm sendo criadas e comercializadas, como a cocaína rosa que, segundo o Relatório de Drogas Sintéticas da Polícia Federal, é uma combinação de diferentes substâncias psicoativas como cetamina, MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina), metanfetamina, cocaína e opioides. “Essas substâncias sintéticas produzidas em laboratórios, geralmente clandestinos, são mais lesivas e produzem pior efeito sobre o corpo e a mente do usuário, mas isso não significa que substâncias derivadas do álcool, da maconha e da cocaína também não produzam efeitos devastadores”, alerta Pérsio.

Quanto mais essas substâncias são usadas, mais viciantes elas se tornam e mais o organismo pede por elas. Pérsio lembra que é muito difícil parar com qualquer droga, justamente por conta da dependência: “os dependentes químicos necessitam de ajuda, como dos narcóticos anônimos, dos alcoólicos anônimos, de um grupo de autoajuda, de profissionais como psiquiatras ou psicólogos, de internações ou de uma experiência transcendente com Deus, que é muito mais poderosa do que qualquer droga”.

Um caso real

Uma morte trágica e um alerta importanteO empresário Dagoberto Cardili, de 59 anos, é prova disso. Ele conheceu o crack por livre e espontânea vontade e permaneceu nesse vício por 16 anos. “Nada me fazia parar de usar. Passei por seis internações longas e caras por se tratar de clínicas com uma equipe de renomados psicólogos, terapeutas e psiquiatras, mas nada adiantava. Quando saía, eu voltava a usar e já não acreditava que fosse possível sair dessa dependência”, conta.

Nesse vaivém, uma amiga contou à esposa de Dagoberto sobre o programa Vício Tem Cura e uma esperança se reacendeu: “somente depois de ir a esse tratamento, que não é medicamentoso e visa a libertação do espírito do vício, eu fui curado. Hoje estou liberto há oito anos, sem nenhuma recaída ou desejo de usar drogas”.

Que tratamento é esse?

O programa social Vício Tem Cura surgiu há dez anos e é um trabalho dedicado a ajudar dependentes químicos e codependentes a vencerem os vícios. “O tratamento convencional trabalha com a tese da desintoxicação do organismo, ou seja, combate a química. O Vício Tem Cura trabalha com a desintoxicação da mente, o que chamamos de ‘extração do espírito do vício’. Sem internação, sem medicação e totalmente gratuito”, explica o Bispo Mauro Souza, responsável nacional pelo programa. O tratamento requer que o dependente siga apenas três passos: entender que o vício é uma força, um espírito que controla o viciado; comparecer aos encontros todos os domingos, às 15h; e obedecer ao método e aos ensinamentos compartilhados na palestra.

Dados da UniCom informam que em 2023 a iniciativa beneficiou 37,7 mil pessoas, dentre elas 1,6 mil ex-viciados que, inclusive, deixaram de viver em situação de rua. Por isso, semanalmente, milhares de pessoas comparecem aos locais de tratamento, que podem ser consultados em www.universal.org/vicio-tem-cura/locais-de-tratamento. Se você enfrenta problemas com os vícios ou conhece alguém que trava essa batalha, saiba que será bem-vindo para fazer parte das estatísticas de quem se livrou das drogas e não dos números dos que sucumbem a elas.

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Colaborador

Laís Klaiber / Fotos: Reprodução, Demetrio Koch e OLEKSANDR FARION/GettyImages